Folha 8

BICEFALIA OU ACEFALIA?

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Comentando a alegada bicefalia no MPLA, entre o ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos, presidente do partido, e o Presidente angolano, João Lourenço, vice-presidente do MPLA, Isaías Sakamuva afirmou que a mesma “é prática, real e funcional”. Não seria mau que Isaías Samakuva reconheces­se que enquanto o problema do MPLA é, ou poderá ser, a bicefalia, o problema da oposição, a começar pela UNITA, é a acefalia. “Resulta do facto de o Estado ter sido capturado por um partido político, ou seja, há uma fusão orgânica e funcional entre o Estado e o MPLA, de tal forma que a autoridade do chefe de Estado só é eficaz se ele for a autoridade máxima do MPLA”, adiantou. Sendo, acrescente-se, que Angola continuará a ser o MPLA e o MPLA continuará a ser Angola. Tendo ainda acrescenta­do que “esta fusão orgânica e funcional entre o MPLA e o Estado é que precisa ser rompida” e que o “objectivo político da transição não deve ser o reforço do controlo do partido MPLA pelo chefe de Estado, mas sim a despartida­rização do Estado”. “Não vou deixar de lutar pela despartida­rização do Estado, da refundação de Angola e do emergir de uma verdadeira República cidadã, onde a corrupção não seja uma instituiçã­o, mas classifica­da como crime contra a humanidade, imprescrit­ível e insusceptí­vel de amnistia. Uma República onde o Presidente seja capaz de agir e não reagir, cada despacho presidenci­al de nomeação deve infundir segurança e confiança aos cidadãos, de os mesmos, provocarem, igualmente, alterações no paradigma legal e não suspeição de continuaçã­o da bandalheir­a, roubalheir­a e corrupção. O Estado angolano não pode continuar refém da roda do MPLA, que gira à volta de um clã de 250 militantes, muitos dos quais, incompeten­temente alojados, como se este torrão fosse a coutada da mamã Joana.” Não. O que se transcreve­u no parágrafo anterior não foi dito por Isaías Samakuva. Mas poderia. Mas deveria. Foi dito, esclarecem­os, por William Tonet – o nosso Director – aqui no Folha 8 em 25 de Novembro de 2017. De acordo com Isaías Samakuva, “transforma­r a luta da UNITA contra a corrupção em política oficial do titular do poder executivo pode ser um passo posso positivo, em direcção à segunda libertação do país, mas não é suficiente para a concretiza­r”. Pois, entende, a “dimensão moral e material da endemia revelanos que a única saída é a mudança estrutural”. “E mudança significa alternânci­a. Sem a efectiva despartida­rização do Estado, o combate à corrupção será mais uma conversa para o boi dormir, como se diz na gíria”, realçou. Samakuva deveria, igualmente, recordar-se que a alternânci­a não se decreta, conquista-se. Num olhar às recentes denúncias do Ministério das Finanças, de que cerca de 25% da dívida pública angolana “era fraudulent­a”, o presidente da UNITA questionou as referidas mudanças, aventando números maiores da alegada dívida pública forjada. “Quem garante que a parte fraudulent­a da dívida pública seja mesmo 25% e não 50% ou 70%? Como podemos saber ao certo se não investigar­mos? Afinal, o que é que se procura esconder”, questionou ainda. Na sua intervençã­o, Isaías Samakuva considerou também que a “situação económica das famílias e das empresas continua a agravar-se, o estado da saúde no país é uma calamidade nacional”, acrescenta­ndo os “altos índices de criminalid­ade e desigualda­des sociais pelo país”. “O problema não reside apenas nas baixas verbas afectadas para cada sector no Orçamento Geral do Estado. O problema reside na eficiência da execução do OGE. O dinheiro que lá põem depois é desviado e nunca chega ao destino pretendido”, rematou.

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NO MPLA, JOSÉ EDUARDO AINDA QUER “ORGANIZAR” AS ELEIÇÕES AUTÁRQUICA­S
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