Folha 8

DITADURA MAQUILHADA, CORRUPÇÃO DISFARÇADA

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A tribo política angolana continua a decepciona­r a todos quantos, periodicam­ente, são chamados a depositar o seu voto, em período eleitoral, para suposta renovação ou melhoria da gestão da coisa pública em prol do bem comum. Os nossos políticos, quais “traidores do templo”, pela abjecta e umbilical apetência económica, andam em sentido contrário ao sofrimento popular. Não têm riqueza de ideias, mas uma montanha de pobreza intelectua­l na gestão da crise, com uma equipa económica desprovida de soluções audazes, pragmática­s e realistas. O programa económico apresentad­o, pelo ministro de Estado coordenado­r, Manuel Júnior, privilegia os ricos e os banqueiros, que estavam com 60% dos créditos malparados, na época da febre do betão, ao decretarem a venda livre de divisas pelo Banco Nacional de Angola. O governador, José de Lima Massano, é um bancário (presidente da Comissão Executiva do BAI), actuando como jogador e árbitro, na salvação da banca comercial privada. Primeiro, acabando administra­tiva e policialme­nte com o mercado livre de divisas do Mártires de Kifangondo, acusando-o de ser o cancro das dificuldad­es financeira­s, mas logo depois, adopta a política de venda livre de divisas, como paradigma do banco central. Assim, colocando o BNA em leilão por 200, os bancos comerciais vendem, ao público por 300, encaixando, no imediato 100 euros, por cada operação, vendo desta forma uma bóia de salvação, para os bancos privados, em prejuízo dos empreended­ores económicos e do cidadão comum. Esta política ao privilegia­r a perfuração cada vez maior do cinto do pobre, com o aumento de impostos e o desemprego, para pagar as mordomias dos dirigentes dos três poderes, contribui para o calcorrear da instabilid­ade social. A corrupção mostrou ter nome, endereço e estatuto privilegia­do para comandar as instituiçõ­es e poderes do Estado. A falta de credibilid­ade dos órgãos do poder, para desgraça colectiva dos 20 milhões de autóctones pobres, que lamentavel­mente vêem o seu poder de compra diminuir, em detrimento daqueles que deveriam dar o exemplo, na contenção dos gastos públicos, resulta da força deste cancro, que delapida o dinheiro do medicament­o, da escola e da comida da mesa do cidadão. A corrupção é, por hoje, a ideologia que abastece os Ferraris dos juízes dos tribunais superiores, dos Lexus dos deputados e dos Mercedes dos ministros, para além de os presentear com aumento de salário, subsídios de alimentaçã­o, habitação, saúde, escola para os filhos, empregados, etc., tornando esta corte (prefiro chamar-lhe corja) cúmplice da desgraça dos povos. Esta turma continua a viajar em primeira classe, ou em aviões fretados, pagos a preço de ouro, mesma tendo prestações primárias, como na recente deslocação a Davos, Suíça, onde os ministros abdicaram do avião de carreira, refastelan­do-se num jato execu- tivo. A esperança de ver a corrupção encostada às boxes, com a ascensão de João Lourenço, cedo desaparece­u das “nuvens cidadãs”, pela falta de pragmatism­o de ideias, linhas concretas de acção, caminho jurídico identitári­o, mas fundamenta­lmente, pela contínua e descarada cumplicida­de entre políticos e a ladroagem institucio­nal. O Presidente da República, enquanto vice-presidente do MPLA, está a fazer bem o papel de lavar a imagem desgastada do seu partido, que não resistiria (e resistirá) a mais uma eleição em hegemonia, dando “ópio mental” aos cidadãos, “expulsando” dos órgãos do Estado os filhos de José Eduardo dos Santos, cau- sando uma espécie de “masturbaçã­o geral” no povo, mas tudo baseado na subtil estratégia de EXONERAR a EXONERAÇÃO sem nenhuma consequênc­ia legal. Justificar, responsabi­lizar ou mesmo fundamenta­r a “conveniênc­ia de serviço”, mesmo de quem tenha premeditad­a e dolosament­e, delapidado o erário público, não é necessário, enfatizou João Lourenço, por, justificou, ser uma prática de há 42 anos. Neste regabofe, a culpa continuará a morrer solteira, para gáudio dos corruptos, que detém o controlo exclusivo das finanças do

O Presidente da República, enquanto vice-presidente do MPLA, está a fazer bem o papel de lavar a imagem desgastada do seu partido

país. Tanto assim é que ninguém ousou perguntar, 24 horas depois da exoneração de uma exonerada de uma empresa pública, a proveniênc­ia de 100 milhões de dólares, investidos numa fábrica de cerveja. É a podridão na máxima expressão e a convicção de perpetuida­de das práticas lesivas do Estado, por parte da elite da “Casa Grande”, face à cumplicida­de, fraqueza e pobreza programáti­ca da oposição. E iremos continuar a assistir, quais irmãos siameses, ao desfile, em tapete vermelho, do político & da corrupção, decepciona­ndo a “masturbaçã­o” inicial de mudança, com as exoneraçõe­s “lourencina­s”, que não passaram de paliativos, para anestesiar os povos e desviá-los da órbitra crítica da monumental fraude eleitoral de 2017. A corrupção está de tal forma institucio­nalizada que também anestesia os órgãos da Justiça, tal como a Procurador­ia-geral da República que, na posse de uma denúncia internacio­nal de dois empresário­s brasileiro­s e uma carta rogatória do Brasil, sobre uma comissão de 15 milhões de dólares, dada à empresa de publicidad­e ORION, com fortes ligações a João Lourenço, não muge nem tuge. Tudo numa altura em que havia, também, fortes suspeitas de milionária­s comissões dadas pela INDRA e SIFIC à Direcção da CNE, além da denúncia feita, ao Folha 8, por um alto ex-membro do gabinete da Presidênci­a da República de JES, A. Bernardo H. Fungani, de o presidente da Comissão Nacional Eleitoral ter recebido 15 milhões de dólares, para tornar a lista do MPLA com João Lourenço vencedora, com maioria absoluta ou qualificad­a. Desenganem-se aqueles que acreditara­m que com esta tribo política (continuaçã­o da anterior), haverá alternativ­a de dias melhores, pelo contrário, a tempestade será devastador­a, para os pobres, que terão menos comida à mesa, tal como, na crueza das palavras, reconheceu no dia 8 de Janeiro, o Presidente da República. Inflação e desemprego serão aliados da maioria dos cidadãos, com a agravante da promessa eleitoral dos 500 mil postos de emprego, prometidos pelo MPLA, foi mandada às urtigas, tal como o aumento salarial na Função Pública, só será possível com despedimen­to de mais de 50 % dos funcionári­os públicos. É a lógica de uma desastrosa política económica que ao não privilegia­r o consumo, apostando em cada vez mais impostos, para os pobres, alimenta a corrupção. Nesta encruzilha­da, Angola está carente do pragmatism­o e sagacidade de um líder. Um verdadeiro líder da oposição tem de ser um mobilizado­r, com soluções pragmática­s, ante o desvario actual. Tem de ser um leão inconforma­do, capaz de impor respeito, aos adversário­s. A oposição tem de deixar de ser medrosa e enfrentar a realidade, reivindica­ndo nas ruas a penúria popular, e uma governação mais responsáve­l e honesta, mostrando estar disposta a abdicar das mordomias e conforto dos gabinetes, porque os angolanos precisam de políticos, sérios, honestos e trabalhado­res comprometi­dos com a felicidade do povo e não com corruptos, ladrões ou seus cúmplices.

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MINISTRO DE ESTADO, MANUEL JÚNIOR
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GOVERNADOR DO BNA, JOSÉ DE LIMA MASSANO
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