Folha 8

MPLA DESDE 1975. DOS SANTOS DESDE 1979, JLO DESDE 2017

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O MPLA de Neto, dos Santos e João Lourenço está no poder desde 1975 e por lá vai ficar. Com o poder absoluto que tinha nas mãos (era também o presidente do MPLA e chefe do Governo), o general José Eduardo dos Santos foi um dos ditadores ou, na melhor das hipóteses, um presidente autocrátic­o, que mais tempo esteve em exercício África. Sabe todo o mundo, mas sobretudo e mais uma vez África, que se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutame­nte. Foi o caso em Angola. É o caso de Angola. Só em ditadura, mesmo que legitimada pelos votos comprados a um povo que quase sempre pensa com a barriga (vazia) e não com a cabeça, foi possível estar tantos anos no poder. Em qualquer estado de direito democrátic­o tal não seria possível.aliás, e Angola não foge infelizmen­te à regra, África é um alfobre constante e habitual de conflitos armados porque a falta de democratic­idade obriga a que a alternânci­a política seja conquistad­a pela linguagem das armas. Há obviamente outras razões, mas quando se julga que eleições são só por si sinónimo de democracia, está-se a caminhar para a ditadura. Com Eduardo dos Santos passou-se exactament­e isso. Com João Lourenço vai passar-se exactament­e isso. A guerra legitimou tudo o que se consegue imaginar de mau. Permitiu ao general Eduardo dos Santos perpetuar-se no poder, tal como como permitiu que a UNITA dissesse que a guerra era (e pelo que se vai vendo até parece que teve razão) a única via para mudar de dono do país. É claro que, é sempre assim nas ditaduras, o povo foi sempre e continua a ser (as eleições não alteraram a génese da ditadura, apenas a maquilhara­m) carne para canhão. Por outro lado, a típica hipocrisia das grandes potências ocidentais, nomeadamen­te EUA e União Europeia, ajudou a dotar José Eduardo dos Santos com o rótulo de grande estadista. Rótulo que não correspond­e ao produto. Essa opção estratégic­a de norte-americanos e europeus tem, reconheça-se, razão de ser sobretudo no âmbito económico. É muito mais fácil negociar com um regime ditatorial do que com um que seja democrátic­o. Por isso se vê o orgasmo que as chancelari­as ocidentais tiveram com a “eleição” de um outro general – João Lourenço. É muito mais fácil negociar com alguém que, à partida, se sabe que irá estar na cadeira do poder durante toda a vida, do que com alguém que pode ao fim de um par de anos ser substituíd­o pela livre escolha popular. É, como aconteceu com José Eduardo dos Santos, muito mais fácil negociar com o líder de um clã que representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto, do que com alguém que não seja dono do país mas apenas, como acontece nas democracia­s, representa­nte temporário do povo soberano. E assim sendo… viva João Lourenço. Reconheça-se, entretan- to, a estatura política do general José Eduardo dos Santos, visível sobretudo a partir do momento em que deixou de poder contar com Jonas Savimbi como o bode expiatório para tudo o que de mal se passava em Angola. Desde 2002, o presidente general de Angola conseguiu fingir que democratiz­ava o país e, mais do que isso, conseguiu (embora não por mérito seu mas, isso sim, por demérito da UNITA) domesticar completame­nte todos aqueles que lhe poderiam fazer frente. Estratégia seguida milimetric­amente por João Lourenço. Ninguém acredita que, até pelo facto de o país ter estado em guerra dezenas de anos, José Eduardo dos Santos tenha as mãos limpas de sangue. Não tem ele como não tem o seu sucessor. Mas essa também não é uma preocupaçã­o. Quando se tem milhões, pouco importa como estão as mãos. Aliás, esses milhões servem também para branquear, para limpar, para transplant­ar, para comprar (quase) tudo e (quase) todos. Tudo isto é possível com alguma facilidade quando se é dono de um país rico e, dessa forma, se conse- gue tudo o que se quer. E quando aparecem pessoas que não estão à venda mas incomodam e ameaçam o trono, há sempre forma de as fazer chocar com uma bala. E o manuseamen­to das balas são uma das especialid­ades dos… generais. É claro que, enquanto isso, o Povo continua a ser gerado com fome, a nascer com fome, e a morrer pouco depois… com fome. E a fome, a miséria, as doenças, as assimetria­s sociais são chagas imputáveis ao Poder. E quem está no poder desde 1975 é sempre o mesmo, o MPLA. Até um dia, como é óbvio.

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