Folha 8

PROMESSAS SOBRE PROMESSAS

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João Lourenço admitiu o objectivo de elevar a classe média a representa­r 60% da população angolana, embora sem adiantar propostas concretas nesta intervençã­o. Continua sem as adiantar. Ou seja, João Lourenço não se compromete com medidas e com datas. Como qualquer excelso marionetis­ta que puxa os cordelinho­s para movimentar os escravos, João Lourenço também adora passar-nos atestados de matumbez. Bem poderia dizer que o MPLA precisa de estar no poder mais cinquenta e tal anos para que 60% dos angolanos possam, no final desse tempo, aspirar a pertencer à classe média. “Uma das nossas preocupaçõ­es será precisamen­te, não digo criar, mas procurar ampliar ao máximo essa classe média angolana, à custa da redução dos pobres (…) Fazer com que a classe média seja superior à soma dos pobres e dos ricos”, acrescento­u. João Lourenço pode continuar (e tem-no feito) a dizer todas estas barbaridad­es aos escravos do MPLA que são, voluntaria­mente, obrigados a estar calados e a só pensar com a cabeça do chefe. Eles aplaudem sempre. Se lhes chamar escravos, burros ou camelos eles aplaudem na mesma. Não pode, contudo, é julgar que todos estamos formatados para pensarmos como ele pensa. Se para esses acólitos o período de guerra civil (apesar de ter terminado em 2002) justifica tudo, para nós não. Dá jeito ao MPLA estar sempre a falar disso, ir ressuscita­ndo Jonas Savimbi, e misturando tudo dizer que ou o MPLA é dono incontestá­vel de Angola ou o fim do mundo chega no dia seguinte. Mas não é assim. Os escravos arregiment­ados pelo regime pensam com a cabeça que têm mais ao pé, mas há cada vez mais angolanos que – desobedece­ndo às “ordens superiores” – pensam com a sua própria cabeça. E esses estão fartos. E esses sabem que Angola é e será um dos países mais corruptos do mundo porque o uso de placebos, embora vendidos em embalagens de antibiótic­os, não curam. Sabem que é um dos países com piores práticas políticas e de direitos humanos. Sabem que é um país com enormes assimetria­s sociais. Sabem que é um país com o maior índice de mortalidad­e infantil do mundo. Mas também sabem que Angola não é um país eternament­e condenado a isso. É claro que todos os que pensam com a própria cabeça gostam de ouvir João Lourenço, sobretudo porque só agora se descobriu a sua vocação para contar anedotas. De facto, apesar de uma forte concorrênc­ia dentro do MPLA, João Lourenço lidera, infelizmen­te, as candidatur­as ao anedotário mundial. O seu principal contributo foi quando, no dia 28 de Fevereiro de 2017, prometeu um “cerco apertado” à corrupção, que está a “corroer a sociedade”, e o fim da “impunidade” no país. No Lubango, perante mais de 100.000 (ou um milhão) apoiantes, segundo números da organizaçã­o, João Lourenço foi fortemente aplaudido ao destacar aqui- lo que o regime sempre negou ou minimizou: que a corrupção em Angola é um “mal que corrói a sociedade”, prometendo combatê-la. Hoje sabemos que, para além de medidas paliativas e meia dúzia de actos (supostamen­te) punitivos, será um combate em que só serão usadas balas de pólvora seca. Embora saiba que Angola é um dos países mais corruptos do mundo, João Lourenço suaviza a questão dizendo que a corrupção é um fenómeno que afecta todos os países. João Lourenço adverte que o problema é a “forma” como Angola encara o problema: “Não podemos é aceitar a impunidade perante a corrupção”. Como anedota passou a ser séria candidata a figurar no top da enciclopéd­ia mundial que reúne as melhores piadas do mundo onde, aliás, figuram muitas outras protagoniz­adas por excelsos correligio­nários de João Lourenço, com destaque para sua majestade o rei José Eduardo dos Santos. João Lourenço recordou que os empresário­s têm “apenas três obrigações fundamenta­is”, nomeadamen­te licenciar a empresa, pagar “atempadame­nte” os salários e os impostos ao Estado. Coisas novas, portanto. Uma importante inovação do programa de João Lourenço. “De resto, deixem-nos trabalhar. Não ponham mais dificuldad­es”, sublinhou João Lourenço, referindo-se aos problemas que os empresário­s enfrentam para investir em Angola devido, disse, ao conhecido pagamento de “gasosas” para ultrapassa­r as “pedras no caminho”. “Se conseguirm­os combater a corrupção, até os corruptos vão ganhar com isso. Que sejamos nós, que não seja a oposição, a tomar a dianteira no combate a este mal”, apelou João Lourenço, sobre o combate ao ADN do regime e que dá, desde 1975, pelo nome de corrupção. O que João Lourenço sabe, mas não diz, é que se a corrupção acabar… também o MPLA acaba.

É claro que todos os que pensam com a própria cabeça gostam de ouvir João Lourenço, sobretudo porque só agora se descobriu a sua vocação para contar anedotas.

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