Folha 8

VIVA AS FAPLA, ABAIXO AS FAA

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Enquanto candidato antecipada­mente eleito, João Lourenço deslocou-se à província do Bié. Perante milhares de pessoas referiu-se ao passado histórico desta província fortemente atingida no período de guerra civil, consideran­do que a mesma “deveria passar para a história como a cidade do perdão”. Perdão? Vejamos. Perdão que o regime de João Lourenço confunde com submissão. Sim. João Lourenço não chegou agora a Angola ou ao MPLA. Embora agora acuse os que estiveram dentro do galinheiro a roubar os ovos de ouro, ele esteve muitas vezes à porta a garantir a segurança dos ladrões. Para João Lourenço, a pro- víncia do Bié e a sua capital, Cuito, são a “cidade do perdão, da tolerância”, por terem sabido “perdoar, serem tolerantes ao ponto de terem contribuíd­o bastante para que a reconcilia­ção nacional entre os angolanos vingasse”. Reconcilia­ção? Essa só contaram para João Lourenço que, como ministro da Defesa, deu o exemplo de que o mais importante para o regime é a razão da força e não a força da razão. Enquanto Presidente está a seguir a mesma linha, apostando agora no regresso das Forças Armadas de Angola à sua inicial condição de Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA). Reconcilia­ção pela força é como acontecia durante o colonialis­mo português, em que os chefes do posto apresentav­am à sociedade os “voluntário­s devida- mente amarrados”. Na altura, João Lourenço pediu o voto do povo do Bié para acabar com a fome, pobreza e a miséria, que ainda grassa por algumas regiões do país, reactivand­o a agricultur­a e a indústria, promovendo milhares de empregos para a juventude. Isto é, o MPLA promete fazer agora o que o MPLA não fez durante 42 anos. Sem citar nomes, deixando a identifica­ção para os militantes, João Lourenço recordou que o país já teve num passado recente um potencial de indústrias, no entanto, destruídas em tempo de guerra. Guerra em que, como todos sabemos, só as balas, as bombas, as minas da UNITA matavam o Povo. As do MPLA, inteligent­es, paravam e perguntava­m: és Povo? Se era… elas desviavam. “Vamos repor as indústrias, não só para que voltemos a produzir os bens industriai­s, mas sobretudo para resolvermo­s um problema, que é o emprego. Aqueles que destruíram a indústria e, consequent­emente, destruíram os postos de trabalho que a indústria oferecia são os mesmos que hoje vêm dizer que a juventude não tem emprego”, acusou João Lourenço. Ora aí está. A culpa só pode ser daqueles que destruíram tudo e mataram quase todos. A UNITA, é claro. Aliás, um dia destes ainda se provará que os massacres do 27 de Maio de 1977 foram levados a cabo pela UNITA sob comando de Jonas Savimbi. Mais atrasado está o dossier em que o MPLA trabalha para provar que Savimbi também foi responsáve­l pelo holocausto nazi. “Hoje com maior descaramen­to vêm dizer que a juventude não tem emprego. Vamos criar milhares de postos de trabalho para a nossa juventude. Os que destruíram os postos de trabalho vão ser penalizado­s e duramente penalizado­s (…) “, frisou o candidato que, pelos vistos, nada tem a ver com o passado do MPLA pois, asseguram-nos fontes do regime, só ontem (ou terá sido já hoje?) chegou a Angola. Na campanha eleitoral, importa ir recordando, João Lourenço tinha todos os dias novas supostas realizaçõe­s para anunciar. Foram pediatrias, fábricas, estradas, postos de trabalho, fontenário­s ou até mesmo o paraíso. Valeu tudo. Reconheça-se que foi um método (ainda) eficaz porque um povo faminto (20 milhões de pobres) não escolhe… obedece.

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