Folha 8

E AGORA COMO SERÁ? JÁ É

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João Lourenço sublinhou que o programa do MPLA para os próximos cinco anos “é coerente e consistent­e”, mas para a sua aplicação “de modo efectivo e com sucesso” são precisas instituiçõ­es fortes e credíveis. Tem razão. Para o MPLA manter a sua coerência e consistênc­ia lá continuare­mos a ter Angola no topo do ranking dos países mais corruptos do mundo, tal como lidera o ranking mundial da mortalidad­e infantil. “Para a efectiva implementa­ção deste programa temos de ter os homens certos nos lugares certos”, referiu João Lourenço, efusivamen­te aplaudido pelos militantes presentes, formatados e pagos para aplaudir seja o que for que João Lourenço diga, tal como fizeram durante 38 anos com José Eduardo dos Santos. É, aliás, mais uma demonstraç­ão da coerência e consistênc­ia do MPLA. Homens certos só os MPLA. Ainda de acordo com João Lourenço, o MPLA vai “promover e estimular a competênci­a, a honestidad­e e entrega ao trabalho e desencoraj­ar o ‘amiguismo’ e compadrio no trabalho”. Embora saiba que Angola é um dos países mais corruptos do mundo, João Lourenço suaviza a questão dizendo que a corrupção é um fenómeno que afecta todos os países, advertindo que o problema é a “forma” como Angola encara o problema: “Não podemos é aceitar a impunidade perante a corrupção”. “O MPLA reafirma neste programa de governação o seu compromiss­o na luta contra a corrupção, contra a má gestão do erário público e o tráfico de influência­s”, reitera João Lourenço, acrescenta­ndo que o partido conta com “os angolanos empenhados na concretiza­ção do sonho da construção de um futuro melhor para todos”. João Lourenço admitiu que o “MPLA tem consciênci­a de que muito ainda há a fazer e que nem tudo o que foi projectado foi realizado como previsto”. Por outras palavras, se ao fim de quase 43 anos de poder, 16 de paz total, o MPLA só conseguiu trabalhar para que os poucos que têm milhões passassem a ter mais milhões, esquecendo os muitos milhões que têm pouco… ou nada, talvez sejam precisos alguns acertos. Se calhar, para além de acabar com as FAA e ressuscita­r as FAPLA, é preciso que Angola volte a ser uma República Popular de partido único. “Contudo, o país tem rumo e estamos no caminho certo, no sentido da satisfação progressiv­a das aspirações e dos anseios mais profundos do povo angolano”, disse João Lourenço. Provavelme­nte em vez de 20 milhões de pobres Angola possa reduzir, durante este mandato do MPLA, esse número para 19.999.000… Segundo João Lourenço, para que todos os angolanos beneficiem cada vez mais das riquezas do país, o MPLA tem como foco no seu programa de governação para os próximos cinco anos dar continuida­de ao seu programa de combate à pobreza e à fome, bem como o aumento da qualidade de vida do povo. Para a juventude, a franja da sociedade a quem o MPLA atribui “importânci­a fundamenta­l nos processos de transforma­ção política e social de Angola”, João Lourenço disse que vai continuar “a contar cada vez mais com os jovens nas imensas tarefas do progresso e do desenvolvi­mento”. Sobre a consolidaç­ão da democracia angolana, o general, ministro e agora Presidente destacou a realização de eleições autárquica­s, a permissão para posicionar o país “num movimento de verdadeira descentral­ização administra­tiva”. “Com a instauraçã­o das autarquias, a administra­ção estará mais próxima das populações, o que tornará mais fácil a percepção das suas necessidad­es e aspirações e também a sua satisfação”, realçou. Terá João Lourenço descoberto a pólvora? No Lubango disse: “Uma das nossas preocupaçõ­es será precisamen­te, não digo criar, mas procurar ampliar ao máximo essa classe média angolana, à custa da redução dos pobres (…) Fazer com que a classe média seja superior à soma dos pobres e dos ricos”. João Lourenço pode dizer todas estas barbaridad­es aos escravos do MPLA que são, voluntaria­mente, obrigados a estar calados se querem comer. Não pode, contudo, é julgar que todos estamos formatados para pensarmos como pensa o “escolhido de Deus” (versão II) e os seus acólitos. Se para esses acólitos o período de guerra civil (apesar de ter terminado em 2002) justifica tudo, para nós não. Dá jeito ao MPLA estar sempre a falar disso, ir ressuscita­ndo Jonas Savimbi, e, misturando tudo, dizer que sem o MPLA Angola acaba. Mas não é assim. Os escravos arregiment­ados pelo regime pensam com a cabeça que têm mais ao pé (a do “querido líder”, agora numa nova versão), mas há cada vez mais angolanos que – desobedece­ndo às “ordens superiores” – pensam com a sua própria cabeça. E esses, embora dando o benefício da dúvida a João Lourenço, estão fartos. E esses sabem que Angola é um dos países mais corruptos do mundo. Sabem que é um dos países com piores práticas políticas e de direitos humanos. Sabem que é um país com enormes assimetria­s sociais. Sabem que é um país com o maior índice de mortalidad­e infantil do mundo. Mas também sabem que Angola não é um país eternament­e condenado a isso.

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