Folha 8

DENTRO DE TI Ó PORTUGAL JLO É QUEM MAIS ORDENA!

- TEXTO DE ORLANDO CASTRO

João Lourenço, ou seja o Governo de Angola, ou seja o MPLA, ou seja o Estado, continua zangado com Portugal. A defesa de Manuel Vicente está acima de tudo. Para já, a Embaixada angolana em Lisboa não terá embaixador em funções. O que se esperaria era que o Presidente da República mandasse pura e simplesmen­te encerrar a Embaixada. Se mesmo assim todos os processos não forem arquivados, que tal João Lourenço deixar cair a máscara de democrata e de defensor de um Estado de Direito e declarar “guerra” a Portugal? O processo do ex-vice-Presidente angolano Manuel Vicente (à altura dos factos Presidente do Conselho de Administra­ção da Sonangol), foi separado do contexto do julgamento da “Operação Fizz”. O Mpla/estado sorriu e a “lua-de-mel” ganhou novo alento. Mas não chega. Manuel Vicente não sendo julgado em Portugal também nunca o será em Angola pois aqui goza de imunidade, impunidade e de uma outra vasta série de prerrogati­vas que constam de leis ainda não elaboradas mas que o podem ser a qualquer momento, sempre com efeitos retroactiv­os. Aliás, a criação, pelo regime de João Lourenço, de um sentimento anti-português está a ganhar adeptos. Ainda recentemen­te o nacionalis­ta e ex-deputado à Assembleia Nacional Diogo Ventura afirmou que o Governo português há muito devia apresentar desculpas às antigas colónias, pelo longo período de escravatur­a. Todos os argumentos são válidos para, 43 anos depois, acusar Portugal de todos os nossos males. No dia 8 de Janeiro de 2016 o Governo angolano considerou existir “maturidade e serenidade bastantes” entre Lisboa e Luanda para “resolver e ultrapassa­r os eventuais mal-entendidos” e transmitiu a Portugal a sua “vontade política de sedimentar as relações” entre os dois países. Para melhor oportunida­de ficou o agradecime­nto do regime ao facto de a “coligação” PSD, CDS-PP e PCP terem rejeitado um voto de condenação apresentad­o pelo Bloco de Esquerda sobre a “repressão em Angola” e com um apelo à libertação dos “activistas detidos”, iniciati- va que teve a abstenção do PS. A mensagem do Governo, na altura liderado por José Eduardo dos Santos, foi transmitid­a pelo agora ex-embaixador angolano em Portugal, José Marcos Barrica, ao ministro dos Negócios Estrangeir­os português, Augusto Santos Silva. O embaixador sustentou que há “maturidade e serenidade bastantes entre as legítimas autoridade­s de ambos os Estados para que, em sede própria, sejam resolvidos e ultrapassa­dos os eventuais mal-entendidos ou até espevitaçõ­es mal-intenciona­das de quem, por qualquer razão subjectiva, esteja a desfavor de um bom relacionam­ento entre os nossos países e povos”. Marcos Barrica considerou haver “relações de cooperação entre Estados que devem ser mantidas e incrementa­das na base da confiança mútua e respeito recíproco”. O diplomata mostrou-se convicto que os executivos dos dois países “continuarã­o a trabalhar nesse sentido, apesar de haver alguns ruídos nas relações, o que é natural na dinâmica dos processos de interacção humana”. Na audiência, o diplomata angolano entregou ao ministro português uma missiva, na qual o então chefe da diplomacia angolana, Georges Chikoti, o felicita pela sua nomeação e apresenta em nome do Governo de Angola e em seu nome pessoal, “as sinceras felicitaçõ­es, assim como os votos de prosperida­de para o povo português”. Na missiva, o ministro angolano exprime “o desejo de continuar a trabalhar para que as relações de amizade e de cooperação existentes entre a Repú- blica de Angola e a República Portuguesa se fortaleçam nos mais variados domínios, no interesse dos dois povos e governos”. Segundo a nota da embaixada angolana, a mensagem que José Marcos Barrica entregou a Augusto Santos Silva “traduz um sinal claro e inequívoco da vontade política continuada do Governo de Angola de sedimentar as relações entre ambos os governos, mas sobretudo entre os povos, que se ligam por laços históricos e afectivos profundos e que não devem, por isso, ser negligenci­ados”. Em Outubro de 2013, o Presidente José Eduardo dos Santos anunciou o fim da parceria estratégic­a com Portugal. Os dois países tinham previsto realizar, em Luanda, em Fevereiro de 2014, a primeira cimeira bilateral, encontro que nunca chegou a acontecer.

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