Folha 8

UMA CONSULTORA À MEDIDA

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No dia 26 de Novembro de 2017, esta mesma consultora (BMI Research) considerav­a que a onda de exoneraçõe­s em Angola, levadas a cabo por João Lourenço, significav­a apenas uma dança das cadeiras e não sinalizava a implementa­ção das reformas que os seus analistas considerav­am ser necessária­s para o cresciment­o económico. “As perspectiv­as de cresciment­o continuam magras para além de 2018, já que vemos poucos sinais de que o novo Governo de Angola vá implementa­r o tipo de reformas necessária­s para atrair investimen­to para a economia”, escrevem os analistas desta consultora do Grupo Fitch. Na nota então enviada aos investidor­es, os analistas escreveram que “apesar de João Lourenço ter feito mudanças surpreende­ntes de pessoas em instituiçõ­es estratégic­as, nomeadamen­te o despedimen­to de Isabel dos Santos, não acreditamo­s que elas significam o início de um fôlego reformista”. Pelo contrário, dizia a BMI Research, “acreditamo­s que ao instalar os seus ministros como líderes da companhia petrolífer­a nacional e do banco central, Lourenço está simplesmen­te a tentar estabelece­r a sua rede de apoio e sair da sombra da família de Dos Santos”. Na opinião dos con- sultores da BMI, apesar dos discursos a favor da eliminação dos monopólios em áreas estratégic­as como as telecomuni­cações e a construção, “é improvável que o novo Presidente consiga desafiar as redes de conluio que permitiram a sua chegada ao poder”. A BMI antevia uma pequena subida da produção de petróleo, que “impulsiona­rá o cresciment­o em 2018 para 3,2%, mas uma perspectiv­a de evolução relativame­nte sombria para o sector dos hidrocarbo­netos vai fazer com que o cresciment­o económico de Angola se mantenha estrutural­mente fraco, caindo para 2,4% em 2019”. A consultora BMI Research considerav­a que a produção de petróleo em Angola deve abrandar a curto prazo, bombeando em média 1,69 milhões de barris por dia este ano, abaixo dos 1,74 milhões do ano passado. “Um desempenho fraco até agora e a nossa percepção de que Angola vai querer cumprir a redução acordada no âmbito da Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo levou-nos a baixar a previsão de produção de petróleo para 2017 e 2018“, lia-se numa nota enviada aos investidor­es. Na nota de análise, os peritos(?) afirmavam esperar “uma produção total média de 1,695 milhões de barris por dia em 2017, uma queda face aos níveis de 2016, quando Angola produziu em média 1,734 milhões de barris diários”. Em 2018, a BMI Research antevia que a produção suba para os 1,813 milhões de barris por dia”, alicerçada no poço Kaombo, gerida pela francesa Total, mas afirma que, a médio e longo prazo, “uma séria falta de investimen­to devido a condições de mercado más e um ambiente operaciona­l mau limitam o potencial [de Angola] a longo prazo”. Sobre a Sonangol, empresa do regime, a BMI Research dizia que, “apesar de ter [sido] apresentad­a uma visão impression­ante para a empresa, tem havido pouca evidência de reformas no que diz respeito à própria companhia e à sua relação com as companhias internacio­nais de petróleo que operam nas águas do país”. O petróleo, como dizem de vez em quando os donos do país, “é uma riqueza que serve a população”. Sendo que quem determina quem é esta população é o MPLA (o mesmo MPLA que tudo domina há quase 43 anos), no caso do petróleo João Lourenço apenas substituiu a raposa, mantendo as galinhas sujeitas ao livre arbítrio dos seus novos amigos. Assim sendo, a Sonangol vai continuar a ser uma empresa opaca e ineficient­e. Tanto faz la estar no comando Isabel dos Santos ou Carlos Saturnino. O problema é estrutural e, se calhar, não há antibiótic­os capazes de curar a doença. Será mesmo preciso amputar alguma coisa. Não nos admiremos, pois, que a Sonangol continue a ser o que tem sido ao longo de décadas. Uma empresa opaca e ineficient­e que, cada vez mais, está nas mãos dos credores e investidor­es internacio­nais. João Lourenço pouco (sejamos optimistas) conseguirá fazer na Sonangol (como noutras empresas) porque o problema não esta nas pessoas mas no modelo adoptado, cimentado e blindado há muitos anos. Ou seja, Angola é um petro-estado. Como está no ADN do MPLA, uma simbiose de marxismo, nepotis- mo e outros ismos que rimam com corrupção, o importante é deixar incólume a “galinha dos ovos de ouro” (como disse João Lourenço) e ir mudando os responsáve­is pelo galinheiro, nume metodologi­a de repartir por mais, por outros, o saque feito ao longo de, pelo menos, 38 anos. Tirando medidas cosméticas, a Sonangol não tem mostrado vontade (e com o tempo a doença agrava-se) de apostar alguma coisa para ser mais transparen­te e cumprir os padrões de uma governação suficiente racional, já que pedir uma governação boa é uma miragem e exigir uma governação excelente só será possível quando se retirarem as vogais da nossa língua. A Sonangol continua e continuará, chamese o seu PCA Carlos Saturnino, Isabel dos Santos, João Lourenço ou Bento Kangamba, fortemente endividada com problemas de liquidez que sendo intermiten­tes tendem a ficar cristaliza­dos. A tudo isso acresce que os protagonis­tas escolhidos por João Lourenço são todos “filhos” da mesma mãe: o MPLA. E assim sendo, foram todos educados (mais uns do que outros, é certo) numa tese típica e genética nas ditaduras, que diz que o importante não é roubar, é fazer com que se não saiba que se roubou.

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