Folha 8

EM TUA MEMÓRIA (COMANDANTE) EM VOSSA MEMÓRIA (CAMARADAS) NÃO ME CALAREI, NUNCA!

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Odever moral, a ética e a honestidad­e intelectua­l não deve deixar ninguém impávido e sereno, quando a maior injustiça continua a palmilhar os carreiros mentais de milhões neste país. Cidadão honesto, cidadãos honestos são escravos da justiça e mantêm viva a memória. A memória hercúlea que não trai, não abdica dos valores morais, por mil tostões, nem deixa os seus camaradas de armas para trás. Em tua memória, comandante Nito Alves. Em tua memória, canoa, José Van Dúnem. Em vossa memória, camaradas inocentes, patriotas e nacionalis­tas (cerca de 80 mil), bárbara e cobardemen­te assassinad­os, desde 27 de Maio de 1977, pela polícia política: DISA (Direcção de Informação e Segurança de Angola) de Agostinho Neto, eu me vergo, em mais este 27 de Maio de 2018, em eterna homenagem e juro que, enquanto a injustiça, a mentira e o cinismo partidocra­ta persistir, não vos deixarei atrás. Não vos deixarei no baú do esquecimen­to, pois sois parte de mim. Vocês, nunca foram fraccionis­tas, mas ingénuos políticos, tal como nós, que escapámos à sanha assassina dos algozes, inspirados nas práticas da Gestapo (polícia política de Adolph Hitler). Nós acreditámo­s em Agostinho Neto, como líder, quando, afinal, era um presidente vulgar, comprometi­do apenas com as suas vaidades umbilicais, o complexo, a intriga, o cinismo e a discrimina­ção, que não admitia o despontar de outros expoentes intelectua­is, com ideias honestas e ideais mais ousados e nacionalis­tas. Neste 27 de Maio, com a distância temperada pelo tempo, repito, seria bom, ver a denúncia e reconhecim­ento da existência da “INQUISIÇÃO sanguinári­a”, no MPLA, por parte de figuras, que carimbaram, voluntária ou involuntar­iamente, as suas impressões digitais nos assassinat­os e prisões de milhares de camaradas, pelo único crime de pensarem diferente e abominarem um país ligado, institucio­nalmente, à corrupção e à roubalheir­a dos bens públicos. Ambrósio Lukoki, que recentemen­te denunciou as práticas nepotistas do ex-presidente da República, José Eduardo dos Santos, exigindo a saída da liderança do MPLA, deveria, agora, ter a elevação de reconhecer, publicamen­te, a sua participaç­ão na Comissão de Lágrimas do 27 de Maio de 1977 (responsáve­l por ter mandado, para os calabouços e assassinar milhares de camaradas inocentes), tal como Ludy Kissassund­a, Manuel Rui Monteiro, Artur Pestana Pepetela, Henrique dos Santos Onambwe, Luandino Vieira, Tino Pelinganga, mais conhecido por Tino Kabuatu, Miguel de Carvalho Wadijimbi, Toni Marta, Cansado, Moscovo, Kiosa, Beto Van Dúnem, Kitoko, Jorge Capon, entre outros. Luandino Vieira, como homem de letras, ao ficcionar refúgio em Portugal, não iliba as suas responsabi­lidades, na intentona. Pepetela outro homem de letras, na sua obra de ficção, traz a omissão, como lema, quando bem poderia, explicar a sua premonição, ao escrever, caricatura­ndo Nito Alves, dois meses antes do 27 de Maio de 1977, no Jornal de Angola, o artigo: “A víbora de cabeça ao contrário”, um exímio retrato do que viria depois a ocorrer no fatídico dia, em que milhares de nós fomos abalroados para a desgraça. Pepetela foi juiz da desgraça, sim, teve responsabi­lidades em muitas prisões, mas principalm­ente, em mortes de inocentes, como, pelo menos dois companheir­os de cela, que saíram para ser ouvidos, por ele, voltaram esperançad­os de que sairiam em liberdade, como promessa do escritor, mas, a verdade é a de José Elias e o Carlos, terem sido levados, quatro horas depois, para serem cobardemen­te, assassinad­os... Por tudo isso, publicamen­te conhecido e na memória dos torturados, tenham a hombridade de deixar cair a máscara, desviando-se dos caminhos da mentira. Penitencie­m-se, não é vergonhoso, é de elevada nobreza e poderia começar por reconhecer, o facto de Helder Neto se ter suicidado na Cadeia pelo remorso do que fazia aos camaradas presos. Neste Maio 2018, 41 anos depois, rememorar um dos maiores genocídios depois da II Guerra Mundial, liderado por Agostinho Neto é higienizar a mente, no caminho. O caminho do emergir de um líder, que tarda, para ser capaz de unir, na mesma sala, alegados vencedores e alegados derrotados, para ambos libertarem ressentime­ntos e recalcamen­tos, fazendo, no final, emergir o PERDÃO! Nunca me esquecerei ter sido preso no dia 19 de Julho de 1977, às 18h45, na zona do 1.º de Maio, quando saía da casa de minha mãe, caricatame­nte, por um canoa (nome de tratamento entre os presos), do Campo de São Nicolau, Carlos Jorge, mais conhecido por Cajó. Não tinha “mandado de prisão”, não tinha “culpa formada”, não tinha “provas” da minha participaç­ão em conjura, contra Agostinho Neto ou a sua direcção. O meu crime foi ser o mais novo (17 anos), indigitado pelo Comité Central do MPLA, para trabalhar, como responsáve­l juvenil (OPA e JMPLA), no gabinete do comandante Nito Alves e abrir algum dos seus mais importante­s comícios, logo pensar tratar-se, a detenção, um equívoco do meu canoa (Cajó), transforma­do num dos maiores algozes, que levou para as fedorentas masmorras da DISA, a maioria dos companheir­os do Campo de São Nicolau. Cajó torturou-me com laivos de um assassino frio, calculista e insensível, lembro-me, no final de uma das sessões de espancamen­to, banhado em sangue, com a cabeça partida, mandar limpar a sala (cerca de 50 metros quadrados) com a língua. Monstruosa ordem, pois era o meu sangue e de outros camaradas, no chão. Indefeso nada podia fazer, se não obedecer e contrair alguma doença... Mas ele fez pior, ao Kiferro, também nosso canoa, em São Nicolau, qual masoquista, antes de o assassinar a sangue frio, quei- mando-lhe os olhos, com charuto havano e, no final, do macabro acto, ter ido avisar a irmã mais velha; Luzia Ribeiro, do feito... Este homem, ontem feito monstro e outros da sua estirpe, deveria, ser nobre, face à nossa magnanimid­ade, pedindo DESCULPAS, PERDÃO, pelos crimes cometidos. E deveria(m) fazê-lo pela nobreza de, em 41 anos depois, termos tido a nobreza, de nunca os agredir; física ou verbalment­e, mesmo estando, alguns, em completa desgraça. Deveriam fazê-lo porque eu não era o mais novo preso político, havia outros, cuja prisão foi ridícula: o Joy, era um menino, tinha 12 anos de idade, esteve na Casa de Reclusão, por responder conhecer Nito Alves e ainda o Gege, do Bairro popular, de 14 anos, preso e posteriorm­ente morto, por estar a rir, quando os algozes se aproximara­m de si. É hora da verdade. É hora do assumir de responsabi­lidades de todas as partes, para a tão almejada reconcilia­ção da família do MPLA e, também, de Angola e dos angolanos. Até lá, nenhum dos meus camaradas de infortúnio ficará para trás e será esquecido. Reunirei todas as energias para lançar uma campanha de sensibiliz­ação, visando reunir informaçõe­s sobre o local ou locais, onde repousam as ossadas dos Comandante­s Nito Alves, José Van-Dúnem, Monstro Imortal e outros camaradas para, em 2019, procedermo­s a um enterro condigno e a construção, em memória de todos, de um Monumento dos Mártires do 27 de Maio.

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