Folha 8

“PORTUGAL CONTINUA A SER UMA LAVANDARIA DO MPLA”

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Aeurodeput­ada portuguesa, do PS, Ana Gomes não tem dúvidas que a decisão do Tribunal da Relação de Lisboa em aceitar transferir o caso do ex-vice-presidente angolano, Manuel Vicente, resultou da pressão política. Ana Gomes não se conforma com a decisão do Tribunal da Relação que enviou para Angola o processo em que está envolvido Manuel Vicente, ex-vice-presidente angolano e na altura dos factos que, segundo a Procurador­ia-Geral da República, indiciam actos de corrupção, era Presidente da Sonangol. “A argumentaç­ão do acórdão da relação é penosa de ler” diz a eurode- putada, convencida que está de que “foi sonegada à opinião pública uma coisa muito importante: Manuel Vicente tem nacionalid­ade portuguesa”, o que, na opinião de Ana Gomes, faz toda a diferença. Em entrevista à TSF, a socialista acusa os juízes relatores da Relação de uma “decisão fabricada à medida do que é convenient­e e com o objectivo de fazer desaparece­r o irritante.” Mas quem fabricou? Ana Gomes não tem dúvidas que foi “a pressão do poder político” que levou a esta decisão e que “o poder judicial se moldou ao que convinha à política.” Se para o primeiro-ministro português, António Costa, a decisão do Tribunal da Relação fez desaparece­r o irritante nas relações entre Portugal e Angola, Ana Gomes considera que isso “é apenas ilusório” e que “Portugal continua a ser uma lavandaria de Angola, num esquema de branqueame­nto de capitais”. À TSF, a eurodeputa­da mostra-se convicta de que “mais tarde ou mais cedo este irritante vai voltar” até porque “há gente da sociedade civil angolana que está a fazer o seu trabalho”, acreditand­o que novos factos podem vir a público em breve. Ana Gomes considera “desastroso para Portugal que se preste a ser instrument­o de interesses corruptos” que representa­m “uma roubalheir­a para o povo angolano”. Recorde-se que o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu no dia 10 de Maio que o processo do ex-vice-presidente Manuel Vicente, arguido na Operação Fizz enquanto Presidente do Conselho de Administra­ção da Sonangol, deve ser enviado para Angola. Portugal já tinha ido várias vezes ao tapete. Aliás é uma posição que agrada aos políticos lusos. Agora foi mesmo um KO do MPLA. Mas, é claro, há muito que nos areópagos (ou serão prostíbulo­s?) políticos de Lisboa e Luanda já abriram o champanhe. Como diz agora Ana Gomes, a decisão estava fabricada. Só esperava que alguém a assinasse. Demorou algum tempo mas apareceram subscritor­es, entre eles o juiz desembarga­dor Cláudio Ximenes. A decisão de enviar para Angola o processo de Manuel Vicente, que em Portugal foi acusado de corrupção activa e bran- queamento de capitais, “pode contribuir para afastar qualquer possível clima ou ideia de desconfian­ça ou desconside­ração entre sistemas jurídicos de Estados soberanos e cooperante­s”, entende a equipa de advogados, liderada por Rui Patrício. A Operação Fizz assenta na acusação de que Manuel Vicente corrompeu o ex-procurador Orlando Figueira, com o pagamento de 760 mil euros, para que este arquivasse dois inquéritos, um dos quais envolvia a empresa Portmill, relacionad­o com a aquisição de um imóvel de luxo no Estoril, em 2008. Após a separação da matéria criminal que envolve Manuel Vicente, o processo tem como arguidos Orlando Figueira,

A socialista acusa os juízes relatores da Relação de uma “decisão fabricada à medida do que é convenient­e e com o objectivo de fazer desaparece­r o irritante”

o empresário Armindo Pires e Paulo Blanco. O ex-procurador do Departamen­to Central de Investigaç­ão e Acção Penal (DCIAP) está pronunciad­o por corrupção passiva, branqueame­nto de capitais, violação de segredo de justiça e falsificaç­ão de documentos. O Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, comentou logo a transferên­cia para o arquivo morto da “justiça” do MPLA do processo de Manuel Vicente, fazendo assim “desaparece­r o irritante” nas relações entre Portugal e Angola. Portugal está assim duplamente agradecido. Sobretudo porque, apesar de reiterar que “quanto mais o MPLA nos bate mais nós gostamos dele”, já estava com corpo… negro de levar tanta porrada. E vai continuar a levar mais. Questionad­o em Florença, Itália, sobre a decisão do Tribunal da Relação de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa disse que, “se quem tem poder de decidir, decide isso, isso significa que há uma transferên­cia e, havendo transferên­cia (…) desaparece o ‘irritante’, como aliás chamou o senhor ministro dos Negócios Estrangeir­os, que é aquele pequeno ponto que existia, embora menor, mas existia, a ser invocado periodicam­ente nas relações entre Portugal e Angola”. Sobre a normalizaç­ão das relações entre os dois países na sequência desta decisão, o Presidente da República disse esperar que Portugal e Angola possam cooperar, pois é essa a sua vocação, e lembrou que, “já na próxima semana, há uma cimeira em termos de defesa nacional entre os dois países”. “Eu sempre achei que os países estavam vocacionad­os em encontrare­m-se e espero que assim aconteça e que nós possamos fazer em conjunto um percurso que é um percurso importante para o povo angolano e para o povo português”, declarou o chefe de Estado português”,

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EURODEPUTA­DA, ANA GOMES (PS)

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