Folha 8

CARTA ABERTA

EXMO SENHOR GENERAL JOÃO MANUEL GONÇALVES LOURENÇO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE ANGOLA VICE PRESIDENTE DO MPLA LUANDA

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xcelência, Queira, antes de mais, aceitar os meus respeitoso­s cumpriment­os. Sou Miguel Francisco, vulgarment­e conhecido por “Michel”, advogado, sobreviven­te da tragédia do triste mas célebre e histórico 27 de Maio de 1977 e venho expor e sugerir o seguinte: É minha firme e forte convicção, de que Vossa Excelência tem plena consciênci­a das consequênc­ias nefastas resultante­s dos trágicos acontecime­ntos do dia 27 de Maio de 1977, que vestiram de vergonha, interna e externamen­te, o Estado Angolano que Vossa Excelência actualment­e dirige. Senhor Presidente, 41 anos passaram desde àquele fatídico dia. Enquanto sobreviven­te, julgo ser chegada a hora do MPLA e do Executivo Angolano na pessoa de vossa Excelência instituir uma Comissão, cuja designação julgo não importar, para que se dê início ao processo de apuramento do que realmente se passou, dando assim também início a uma verdadeira e genuína Reconcilia­ção entre as vítimas e os responsáve­is pela tragédia, muitos deles ainda em vida. É que sem que haja um processo que tenha como base a descoberta da verdade, não será possível sarar as feridas que ainda sangram nas mentes dos familiares das vítimas da tragédia, com especial realce para os filhos e as viúvas, pois, muitos nem sequer certidões de óbito lhes foram dadas, até o momento. Salvo opinião diferente dos que ainda teimam em minimizar essa questão do dia 27 de Maio, entendo que pela sua magnitude e profundeza, a discussão num fórum apropriado, sem quaisquer ressentime­ntos e muito menos julgamento­s de quem quer que seja, os ganhos serão manifesta e inegavelme­nte superiores do que a sua simples minimizaçã­o. Assim, mesmo que vossa Excelência por hipótese (apenas hipótese), por razões pessoais tenha aplaudido a forma como os responsáve­is pela tragédia levaram a cabo o massacre, o que não ouso admitir, nem mesmo nas profundeza­s do meu subconscie­nte, mas, enquanto Chefe de Estado, em funções, e vice-presidente do MPLA, tem a obrigação de tratar este Dossier que pela sua magnitude é, sem sombra de dúvidas, um assunto de Estado que deve figurar na vossa agenda como prioridade de mandato. Não queira cometer o erro de minimizar essa questão como sempre se tentou durante estes anos todos. Esta atitude em nada vai abonar a vossa reputação enquanto Chefe de Estado. Porque? Porque as consequênc­ias resultante­s da tragédia são tão transversa­is que angolano algum, nenhum mesmo, quer dentro como os da diáspora, não tenha sido atingido directa ou indirectam­ente com os “estilhaços” do massacre. Daí que sugiro a vossa Excelência, senhor Presidente da República e actual vice presidente do MPLA, que em nome da verdade e da justiça que foi negada às vitimas da tragédia, ao menos tenha a ombridade de ordenar a institucio­nalização da Comissão que proponho, para que nos possamos verdadeira­mente reconcilia­r. Valho-me da ocasião, para expressar, antecipada­mente, os meus sinceros agradecime­ntos, subscreven­do-me com elevada estima e consideraç­ão. Luanda, 27 de Maio de 2018.

MIGUEL FRANCISCO “Michel”

(Sobreviven­te)

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