GERMANO ALMEIDA DISTINGUIDO COM PRÉMIO CAMÕES
Aos 73 anos, o escritor natural da Ilha da Boavista, onde nasceu em 1945, é autor de uma vasta obra traduzida para diversos idiomas. “Para mim a língua portuguesa tem o mesmo peso que a língua cabo-verdiana. Sou filho de pai português e de mãe crioula, cresci com as duas línguas, mas aprendi a escrever em português e não pretendo começar a escrever em crioulo. Eu expresso a cultura cabo-verdiana usando a língua portuguesa”, referiu o autor numa altura em que se discute o papel da língua crioula na literatura do arquipélago. “Não sinto qualquer pressão pelo facto de só escrever em português”, afirma, acrescentando: “Cabo Verde tem uma necessidade imperiosa de cultivar a língua portu- guesa porque é o nosso instrumento de contacto com o mundo.” Depois do poeta Arménio Vieira, vencedor em 2009, Germano Almeida é o segundo escritor de Cabo Verde a receber o Camões, e sucede, numa decisão por unanimidade, ao português Manuel Alegre que o ganhou em 2017. O júri desta edição, presidido pelo brasileiro José Luís Jobim, salientou a ironia na obra de Almeida, uma obra, lê-se em comunicado, “onde se equilibram a memória, o testemu- nho e a imaginação, a inventividade narrativa alia-se ao virtuosismo da ironia no exercício de liberdade, de ética e de crítica. Conjugando a experiência insular e da diáspora cabo-verdiana, a obra de Germano Almeida, atinge uma universalidade exemplar no que respeita à plasticidade da língua portuguesa”. Na próxima terçafeira, dia 29, chega às livrarias o mais recente romance de Germano Almeida. Chama-se O Fiel Defunto e, segundo o escritor, é mais um romance passado em S. Vicente, “a história de um escritor que é assassinado com dois tiros no dia em que vai lançar um livro. Ninguém sabe a razão desse assassinato. Depois entra o Estado e o modo como deve ou não proteger o escritor. É uma paródia.” E será mais uma vez editado pela Caminho.