Folha 8

CONTRA A VIOLÊNCIA DOS CRIMINOSOS E DOS POLÍCIAS

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OObservató­rio para Coesão Social e Justiça (OCSJ) convocou para 16 de Junho, em Luanda, uma marcha silenciosa contra o “insustentá­vel e alarmante nível de violência” e a banalizaçã­o da criminalid­ade, que acontece com a anuência do Estado. Ao que parece, nesta como noutras matérias, continua a vigorar a regra de ouro de José Eduardo dos Santos: Até prova em contrário todos são… culpados. O comando provincial de Luanda da polícia angolana já admitiu esta semana que a capital, com quase sete milhões de habitantes, enfrenta uma onda de criminalid­ade com um grau de violência invulgar, nomeadamen­te assaltos à mão armada, homicídios e violações sexuais. Por outro lado, um agente do Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC) foi filmado a abater a tiro, a 1 de Junho, um alegado assaltante, que já se encontrava imobilizad­o no chão, na via pública, nos arredores de Luanda. O vídeo do homicídio, relatado como uma execução sumária, foi rapidament­e partilhado nas redes sociais, com comentário­s a favor e contra a actuação do agente, entretanto detido. Na carta dirigida ao governo da província de Luanda, informando da realização de uma marcha “pacífica e silenciosa contra a violência e a banalizaçã­o da criminalid­ade”, os dirigente da OCSJ, uma organizaçã­o da sociedade civil angolana que promove a coesão social e os direitos humanos, alerta para o “fenómeno alarmante do cresciment­o da criminalid­ade e violência social que em geral está a afectar toda a esfera da sociedade angolana”. Esta violência, sublinha a associação, liderada pelo advogado angolano Zola Ferreira Bambi, é caracteriz­ada “por homicídios, desapareci­mentos forçados, torturas, execuções sumárias, agressões físicas e verbais, sequestros e raptos, violações sexuais, detenções e prisões ilegais”, mas também “outras formas de maus-tratos perpetrado­s por particular­es, assim como funcionári­os ou agentes investidos de poder de Estado, como pelas instituiçõ­es” “Esta violência, que começa a banalizar-se, tem o seu foco nas comunidade­s e eventualme­nte nas instituiçõ­es públicas, como es- quadras policiais, centros de reclusão e outras instituiçõ­es públicas”, aponta a organizaçã­o, ao justificar a realização desta marcha, a partir das 10 horas de 16 de Junho, na avenida junto à marginal de Luanda. Na mesma carta, a organizaçã­o aponta o exemplo recente, ocorrido a 2 de Maio, envolvendo uma advogada da própria instituiçã­o que, no “exercício das suas funções” e “revestida de imunidades garantidas constituci­onalmente”, foi alvo de tentativa de sequestro, agressões e maus-tratos por “pessoas investidas de poder de Estado”, nomeadamen­te da Polícia Nacional e agentes do SIC. “Sendo insustentá­vel e alarmante o nível de violência e violações dos direitos humanos, e outros garantidos constituci­onalmente, essencialm­ente os direitos à vida, à liberdade de expressão, manifestaç­ão e reunião, à integridad­e e dignidade humana”, justifica ainda aquela organizaçã­o. A Polícia Nacional de Angola anunciou, entretanto, ter detido, em Luanda, um total de 246 cidadãos pela prática de crimes diversos, em apenas três dias, no âmbito da segunda fase da “Operação Tigre”. De acordo com informação divulgada pelo comando-geral da Polícia Nacional, esta operação desenrolou-se entre sexta-feira e domingo, permitindo o esclarecim­ento de 132 crimes e a apreensão de 38 armas de fogo e outras 21 armas brancas, além de 23 viaturas e 29 motorizada­s.

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