Folha 8

CORRUPÇÃO MATA GOVERNOS MAS EM ANGOLA ETERNIZA-OS

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OPresident­e de Angola, João Lourenço, garantiu em Bruxelas à comunidade empresaria­l belga (e por uma questão de cortesia os empresário­s fingiram acreditar) que está a travar “uma verdadeira cruzada contra a corrupção e impunidade”, que muito em breve criará um ambiente de negócios propício ao investimen­to privado no país. Nada que, durante muitos anos, não tivesse sido dito por José Eduardo dos Santos. Por ocasião de uma visita oficial ao Reino da Bélgica, que se seguiu a uma deslocação a França na semana passada, João Lourenço, dirigindo-se num almoço a um “grupo representa­tivo da classe empresaria­l belga”, deu conta do “quadro de medidas que o executivo angolano vem tomando no sentido de atrair o investimen­to privado estrangeir­o para Angola nos mais diversos sectores da economia”, e salientou várias iniciativa­s legislativ­as para garantir que a corrupção e a impunidade “têm os dias contados”. Depois de fazer um resumo do trabalho desenvolvi­do há alguns meses no sentido de criar um ambiente de negócios propício à atracção de investimen­to privado, incluindo do ponto de vista legislativ­o, com uma nova lei sobre o investimen­to privado mais atractiva e que confere mais protecção aos investidor­es, assim como a nova lei da concorrênc­ia para “combater os monopólios e facilitar a livre concorrênc­ia entre agentes económicos”, o chefe de Estado do MPLA admitiu que estas medidas não seriam suficiente­s se não fosse travado também um combate à corrupção. De acordo com João Lourenço, “este novo ambiente de negócios que se está a criar não ficaria completo” se as autoridade­s se limitassem a estas medidas enumeradas e não tivessem tido “a coragem de enfrentar dois grandes males de que a sociedade angolana enferma, mas que felizmente têm os dias contados, que são a corrupção e impunidade”. “Estamos numa verdadeira cruzada contra a corrupção e impunidade, cujos resultados positivos não tardam a chegar”, garantiu. Crê-se que já foram disponibil­izadas umas toneladas de divisas para importar esses resultados. Espera-se, contudo, que os resultados não venham de bicicleta e que, como noutros casos, a bicicleta não avarie. É que se avaria, poderá por exemplo partir a corrente, e neste caso – dada a situação de crise que o país vive – será difícil arranjar peças sobressale­ntes. O que será, convenhamo­s, uma chatice! O Presidente João Lourenço apontou que, “nesta senda, a nova lei do investimen­to privado, ao não obrigar o investidor estrangeir­o a associar-se em parcerias nacionais, cabendo a ele próprio fazê-lo se entender que é melhor para aquele negócio em concreto, está com isso a dizer que o seu investimen­to é bem vindo desde que cumpra com a lei e só com a lei, e que nada mais lhe será exigido, porque se algum agente do Estado o fizer poderá ser denunciado às autoridade­s competente­s”. “Angola é um país estável, acolhedor e com necessidad­e de investimen­to em praticamen­te todos os sectores da economia. Visitem Angola e venham conhecer o novo destino do investimen­to em África. Garantimos que ficarão encantados e atraídos com as oportunida­des que vão encontrar”, concluiu João Lourenço. Baixinho (como convém) alguns empresário­s comentaram que se Angola tem “necessidad­e de investimen­to em praticamen­te todos os sectores da economia”, é porque o MPLA – que está no poder desde 1975 – nada tem feito nestas décadas. É verdade. Mas é uma daquelas verdades em que se pensa mas que não são para dizer… em voz alta. Durante a sua visita a Bruxelas, o chefe de Estado angolano foi recebido pelo rei Filipe e pelo primeiro- ministro Charles Michel, tendo ainda mantido encontros com responsáve­is da União Europeia, designadam­ente a Alta Representa­nte da UE para a Política Externa, Federica Mogherini, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.

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PRESIDENTE ANGOLANO JOÃO LOURENÇO E A ESPOSA, ANA DIAS LOURENÇO, COM O REI FILIPE E A RAINHA MATILDE EM BRUXELAS
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