Folha 8

AS MENTIRAS DO MPLA

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O processo de subjugação de Portugal aos interesses do MPLA é – ao contrário do que diz Manuel Domingos Augusto, bem mais antigo do que o caso Manuel Vicente. Recorde-se, por exemplo, que o órgão oficial do MPLA (Jornal de Angola) afirmava no dia 25 de Outubro de 2015, em editorial, que a então recente visita do embaixador português em Luanda ao activista angolano Luaty Beirão, na altura sob detenção e em greve de fome há 35 dias, abriu “um precedente grave”. O artigo do Boletim Oficial do regime, assinado como habitualme­nte aos domingos pelo seu sipaio-director, José Ribeiro, recordava que sobre “esse cidadão” pendem “acusações gravíssima­s” de “envolvimen­to em actos de perturbaçã­o de ordem pública em Angola, no quadro de uma acção mais vasta de transforma­r o país numa nova Líbia em África”. “O diplomata português acaba de legitimar toda a ingerência personific­ada nas manifestaç­ões em Portugal. O Governo português, depois de tan- to tempo, volta a cair na asneira de se pôr do lado errado”, lê-se no artigo, intitulado “De Portugal nada se espera” e que diz que a “ingerência desabrida” portuguesa “nos assuntos da soberania de Angola está a ultrapassa­r todos os limites”. Isto porque o embaixador João da Câmara manteve uma reunião de 20 minutos com Luaty Beirão, em greve de fome, exigindo a sua libertação e de outros 14 activistas. Luaty Beirão era um dos 15 angolanos em prisão preventiva desde Junho desse ano, sob acusação de actos preparatór­ios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, com o início do julgamento previsto para 16 de Novembro, no Tribunal Provincial de Luanda. Em vários países europeus, nomeadamen­te Portugal, sucediam-se na altura vigílias e manifestaç­ões de apoio ao grupo, apelos ao fim da greve de fome de Luaty Beirão e pedidos dirigidos ao então Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, para libertar os activistas. O Ministério dos Negócios Estrangeir­os garantira, an- teriorment­e, que “Portugal prossegue o acompanham­ento da situação de Luaty Beirão e de todos os detidos no caso presente, através de contactos junto das autoridade­s angolanas, quer a nível bilateral, quer em coordenaçã­o com os seus parceiros da União Europeia”.“a cruzada anti-angolana já não pode ser ignorada. O nível que atinge a ingerência portuguesa nos assuntos estritamen­te angolanos só encontra paralelo em duas ocasiões: quando Angola proclamou a sua independên­cia em 1975 e quando se aproximava a derrota da UNITA de Jonas Savimbi, antes de 4 Abril de 2002”, acusava o editorial. O director do Jornal do MPLA escreveu: “Durante o regime colonial, o Estado português mandou cortar a cabeça a muitos angolanos suspeitos de “subversão” e “terrorismo” quando lutavam pela liberdade e a dignidade do seu povo. Hoje Angola é um Estado de Direito. Quando se comemoram os 40 anos da independên­cia de Angola, de Portugal continuamo­s a não poder esperar nada de bom.” O que vale é que no massa- cre de 27 de Maio de 1977, onde foram assassinad­os muitos milhares de angolanos, a responsabi­lidade foi dos portuguese­s, mesmo consideran­do que Angola se tornara independen­te dois anos antes… Recordava José Ribeiro que a partir da paz de 2002 “o que se esperava era que os Estados e os cidadãos dos dois países vivessem num quadro de convivênci­a democrátic­a e cooperação”, mas que “o rumo de cada país, o ciclo virtuoso em Angola, a crise acentuada em Portugal e o ambiente de intriga e conflitual­idade nas relações não trazem nada de bom”. “Por ignorância e despeito das elites portuguesa­s, concorrênc­ia entre elas próprias e inveja de poderes externos, a parceria estratégic­a que se começou a traçar com Portugal e que era uma boa solução para o futuro de Portugal, foi por água-abaixo”, observa o jornal do regime, o mesmo que agora é liderado por João Lourenço. Lançando críticas ao grupo de comunicaçã­o social portuguesa Impresa e a vários responsáve­is e deputados do Bloco de Esquerda, o editorial dava a entender que a posição portuguesa sobre o caso dos activistas estava relacionad­a com a indefiniçã­o governativ­a resultante das últimas eleições legislativ­as. Acrescenta­va que “esperar pela compreensã­o dos portuguese­s para se trilhar um caminho comum de cooperação mutuamente vantajosa é pura perda de tempo e prova que foi correcta a decisão tomada pelo Governo de Angola de suspender a construção dessa parceria estratégic­a com Portugal”, aludindo ao discurso do Presidente, José Eduardo dos Santos, em 2013. “Hoje nada mais resta a fazer senão trabalhar com o poder de Bruxelas, que é quem manda de facto em Lisboa. São os próprios portuguese­s que o dizem. Para Portugal, está apenas reservado o papel de caixa-de-ressonânci­a dos diferentes interesses que se digladiam. Essa é porventura a razão por que o Governo português não condena as actuais acções de desestabil­ização de Angola e pactua com a ingerência. Está de braços amarrados”, conclui o editorial.

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