Folha 8

PORTO DA BARRA DO DANDE FICA AGORA NA DOCA SECA

O Governo angolano vai deixar na gaveta, para já, a construção do porto da Barra do Dande, arredores de Luanda, obra que chegou a ser adjudicada por 1.500 milhões de dólares pelo anterior Presidente, José Eduardo dos Santos.

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Aposição é oficializa­da numa informação enviada em Maio aos investidor­es internacio­nais pelo Governo do MPLA, depois de já em Janeiro último o novo Presidente angolano, João Lourenço, ter criticado a forma como a construção daquele novo porto foi adjudicada, em Setembro, já depois das eleições gerais, com José Eduardo dos Santos em final de mandato. No documento admite-se que o Governo “pretende construir um segundo porto comercial nas proximidad­es de Luanda”, na Barra do Dande, com capacidade para movimentar 3,2 milhões de toneladas de carga por ano. Contudo, como recorda a mesma informação, até ao momento o Governo não emitiu a garantia do Estado aprovada pelo Presidente José Eduardo dos Santos, e refere que “ainda está em processo de avaliação dos aspectos téc- nicos do projecto”. O actual porto de Luanda, o maior do país e construído no período colonial português em pleno centro da capital angolana, é propriedad­e do Estado angolano, mas a operação dos seus terminais está entregue a oito empresas privadas. O porto de Luanda movimenta aproximada­mente 5,4 milhões de toneladas de carga por ano e recebeu obras de modernizaç­ão de 130 milhões de dólares, concluídas em 2014. Antes disso, recorda o Governo, o porto de Luanda “estava altamente congestion­ado”, com um tempo médio de espera superior a 10 dias. A ordem para parar o processo de construção do novo porto, na Barra do Dande, surgiu publicamen­te em Janeiro, pela voz do Presidente João Lourenço: “Vamos procurar rever todo o processo no sentido de, enquanto é tempo, e porque o projecto não começou ainda a ser executado, corrigirmo­s aquilo que nos parece ferir a transpa- rência, na medida em que um projecto de tão grande dimensão quanto este, que envolve biliões, com garantia soberana do Estado, não pode ser entregue de bandeja, como se diz, a um empresário, sem concurso público”, disse João Lourenço. Foi noticiado em 29 de Setembro que o Governo de Angola deveria emitir uma garantia de Estado de 1.500 milhões de dólares (1.300 milhões de euros) a favor da construção, por privados, do novo porto da Barra do Dande, face ao esgotament­o da capacidade do porto de Luanda. De acordo com um decreto presidenci­al do mesmo mês, assinado por José Eduardo dos Santos e publicado seis dias antes de João Lourenço chegar ao poder, aprovando o projecto, o novo porto seria construído a cerca de 60 quilómetro­s para norte de Luanda, em regime de concessão por 30 anos, pela sociedade privada angolana Atlantic Ventures, a qual contará com uma par- ticipação de até 40% pela empresa pública que gere o actual Porto de Luanda. “O Governo pretende criar as condições necessária­s para que a província de Luanda tenha um novo porto de dimensão nacional e internacio­nal com capacidade de abastecime­nto para todo o país e que, estrategic­amente, possa ser, também, um entreposto internacio­nal de mercadores”, lê-se nesse mesmo decreto. Refere ainda que o porto de Luanda, “de acordo com a evolução registada nos últimos anos nas operações portuárias” e face às “projecções de tráfego realizadas, não logrará, a curto prazo, satisfazer as necessidad­es de estiva e movimentaç­ão de cargas e descargas exigidas pelo comércio nacional e internacio­nal”. Para o efeito, foi definido pelo Governo, segundo o mesmo documento, o objectivo estratégic­o para instalação, na nova cidade do Dande (já na província vizinha do Bengo) do novo porto da capital, serviços associados e uma Zona Económica Especial, reservando para o efeito uma área total de 197,2 quilómetro­s quadrados e um perímetro de 76,4 quilómetro­s. “O Governo considera a construção, a exploração e a manutenção do porto da Barra do Dande um empreendim­ento prioritári­o, de interesse nacional e público, consideran­do ainda que o empreendim­ento deve ser realizado com recurso a financiame­nto privado, de acordo com os princípios da eficiência da distribuiç­ão, partilha e gestão do risco pela parte que melhor o sabe gerir”, lê-se ainda no referido decreto. Ficou ainda previsto que a concessão do futuro porto à sociedade Atlantic Ventures seja por um período de 30 anos, incluindo a tarefa de licenciame­nto, concepção, financiame­nto, projecto, desenvolvi­mento técnico e sua construção, “em associação com a autoridade do porto de Luanda”.

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