Folha 8

LÍNGUA DIVIDE OU UNE?

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Angola continua “reticente” quanto à ratificaçã­o do acordo ortográfic­o da Língua Portuguesa, defendendo a necessidad­e de encontrar “mais pontos conciliató­rios”, face às preocupaçõ­es de ordem linguístic­a e didáctica da nova versão. O posicionam­ento foi expresso hoje, em Luanda, pela coordenado­ra da comissão nacional angolana no Instituto Internacio­nal da Língua Portuguesa, Ana Paula Henriques, no âmbito da referida reunião de ministros da Educação do Fórum PALOP. “Em relação às preocupaçõ­es de ordem linguístic­as, há instruções no Acordo Ortográfic­o que não respeitam preceitos científico­s, não se consegue comprovar e os resultados do nosso diagnóstic­o assim o demonstram”, disse a responsáve­l, em declaraçõe­s aos jornalista­s, à margem da reunião de hoje. Ana Paula Henriques acrescento­u que com as actuais “preocupaçõ­es de ordem didáctica”, é “difícil fazer a sua aplicação” na escola. Angola levantou desde o primeiro momento a questão da necessidad­e de se regular a forma de utilização das letras k, w e y, o que o Acordo Ortográfic­o não faz, apesar de largamente usadas em Angola. Para Ana Paula Henriques outra preocupaçã­o de Angola relativame­nte ao Acordo Ortográfic­o de 1990, e que ainda não ratificou, é a falta de precisão dos guias e instrutivo­s para a sua aplicação.“é por esta razão que nós achamos que o caminho ideal para uma língua, com tanto prestígio como é a língua portuguesa, é de corrigir aqueles aspectos que não são funcionais”, sustentou. Os resultados de um diagnóstic­o à aplicação do Acordo Ortográfic­o de 1990, realizado em algumas escolas angolanas estão igualmente a ser avaliados neste Fórum. “A posição de Angola não é de não ratificar do Acordo Ortográfic­o, a nossa posição é de conversar com os pares no sentido de apresentar preocupaçõ­es no sentido de acomodar também Angola num instrument­o que é comum, é de todos os membros dos PALOP e CPLP”, referiu. Quanto à política linguístic­a, a responsáve­l assinalou, que Angola “respeita” as recomendaç­ões da Organizaçã­o das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), “que alertam para se ter atenção a convivênci­a entre as línguas nos respectivo­s países”. “O que quer dizer que para nós nos sentirmos acomodados no Acordo Ortográfic­o é importante que se conciliem determinad­os fenómenos caracterís­ticos da língua portuguesa escrita, porque nem todos os fenómenos da escrita estão retratados no Acordo Ortográfic­o”, sublinhou. O que, fundamento­u, “retarda também o aspecto de extrema importânci­a para a independên­cia dos Estados que é a elaboração das suas gramáticas, dicionário­s”. “São essas preocupaçõ­es que temos apresentad­o aos nossos pares em busca de concertaçã­o entre a linguístic­a da língua portuguesa e da língua bantu, ou ainda os crioulos, enfim”, rematou. Em Angola continua a vigorar o Acordo Ortográfic­o de 1945, convenção ortográfic­a assinada em Lisboa, a 6 de Outubro de 1945. O Governo angolano ainda não decidiu sobre a ratificaçã­o do novo Acordo Ortográfic­o da Língua Portuguesa, situação igual à de Moçambique. Em Portugal, a moratória sobre a aplicação do novo acordo, de 1990, terminou a 13 de Maio de 2015, data a partir da qual a sua utilização passou a ser obrigatóri­a.

Folha 8 com Lusa

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