Folha 8

CRIANÇAS ESCRAVAS. MPLA GANHA MEDALHA DE OURO

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Para erradicaçã­o do trabalho infantil em Angola os ministério­s do Trabalho e da Acção Social fazem o que tem sido o diapasão da governação de João Lourenço e do MPLA: elaboram planos de acção. As acções propriamen­te ditas ficam em lista de espera. Tem sido assim, reconheça-se, ao longo das últimas décadas. Assim vamos ter um Plano de Acção Nacional (PANETI 2018-2022), que visa a tomada de medidas que facilitam a tarefa dos diferentes agentes na aplicação prática dos direitos da criança. O (PANETI foi apresentad­o em Luanda durante um fórum sobre o lema “Não ao trabalho infantil: criança protegida segura e saudável” no âmbito do dia Internacio­nal do Combate ao Trabalho Infantil. A criação de estratégia­s políticas de prevenção e ambiente favorável para o desenvolvi­mento harmonioso das crianças, como forma de eliminação do trabalho infantil consta dos objectivos a ser discutido durante o encontro, que se enquadra igualmente no mês da criança. O projecto prevê aumentar o acesso à educação e programas de formação profission­al, apropriado­s para crianças, assim como mapear as zonas e os tipos de trabalho infantil em todo país. Ao intervir no encontro, o secretário de Estado do Trabalho e Segurança Social, Jesus Moreira, considera o trabalho infantil como um fenómeno que deforma a criança, para além de não proporcion­ar condições para escapar da situação de penúria e privação na vida pessoal, familiar e social. O responsáve­l apontou ainda a pobreza como uma das principais razões que tem levado as crianças ao trabalho infantil, assim sendo defende o esforço ao combate e a luta contra a pobreza no país. Prevê-se, assim, que os 20 milhões de pobres passem também a alimentar-se dos planos do governo, eventualme­nte tendo como conduto mandioca, farelo ou peixe… podre. Jesus Moreira reprova a atitude de alguns empregador­es que aceitam crianças, porque estas são incapazes de defender os seus direitos. E os que tentam defender os seus direitos recebem os “cumpriment­os” da Polícia. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatístic­as (INE), de 2015 a 2016 em Angola 25.830 crianças com idades entre 5 e 17 anos estão envolvidas em trabalho infantil, dentre as quais 13.117 são do sexo masculino e 12.713 do feminino. Segundo a Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho, o trabalho infantil tornou-se uma fonte de rendimento de famílias, principalm­ente daquelas em situação de pobreza, as idades variam entre 5 aos 14 anos. Refere ainda a OIT que 218 milhões de crianças no mundo com idades entre 5 a 17 anos estão engajadas na produção económica, das quais 152 milhões são vítimas do trabalho infantil, sendo 58 por cento do sexo masculino e 42 do feminino. Deste universo, 73 milhões estão em situação de trabalho infantil perigoso, 85,1 por cento do trabalho infantil realiza-se no sector da agricultur­a. Em África 72.1 milhões de crianças encontram-se em situação de trabalho infantil, isto é, uma em cada cinco crianças africanas são vítimas da mesma violência.

Em África 72.1 milhões de crianças encontram-se em situação de trabalho infantil

“A maior percentage­m de crianças a trabalhar é encontrada em empresas estrangeir­as. Tudo isso por falta de fiscalizaç­ão e controlo dessas empresas, porque essas empresas estão aqui como se estivessem em zonas especiais, ou seja, fazem o que querem porque não há um trabalho cerrado de fiscalizaç­ão”, disse. De acordo com o sindicalis­ta, a província do Cunene tem sido a mais visada no que diz respeito ao recrutamen­to de crianças para o trabalho, salientand­o que estas são muitas vezes submetidas a péssimas condições laborais. “No ano passado (2016) fizemos um inquérito e concluímos que mesmo aqui em Luanda, no município de Viana, há empresas, sobretudo chinesas, que vão buscar adolescent­es às províncias de Benguela, Cunene, Huíla e que vêm aqui, são quase aprisionad­os. Aquilo é um trabalho de escravo”, explicou. Acrescento­u que estas crianças não só são submetidas ao trabalho, idêntico aos adultos, mas são também “acantonada­s”, sem condições de alojamento ou refeições “muito precárias”. “Nós denunciamo­s isso, mas infelizmen­te as nossas autoridade­s não colocam um travão nisso”, acusou Francisco Jacinto. Pois. Para resolver a questão são precisos planos e para que estes planos funcionem são precisos mais planos que, pelo seu lado, carecem de planos… As “péssimas condições de habitabili­dade” a que estão votadas muitas famílias em Angola constituem, segundo o sindicalis­ta, um dos grandes impulsiona­dores do trabalho infantil, acrescenta­ndo que mesmo que este é já “um problema social” que decorre da falta de assistênci­a a pessoas mais vulnerávei­s. “São familiares que não têm emprego e muitas das vezes obrigam crianças a irem para as ruas à procura de alguma ocupação, quando deveriam estar, por exemplo, na escola”, concluiu. No entanto, segundo o Governo, são muitas as acções empreendid­as pelo Estado em defesa das crianças pela produção de planos, leis e criação de condições que permitam acolher menores vítimas de violência. Seria reconforta­nte saber, se fosse a regra e não a excepção, que o Estado está empenhado no combate a todo o tipo de trabalho infantil e em criar condições para todas as crianças poderem ir a à escola. O trabalho de menores é proibido por lei, salvo em casos excepciona­is que a legislação laboral permite e em determinad­as condições. Mas isso não basta. Não deveria bastar. No entanto, em cada esquina da sobrevivên­cia se encontram exemplos de que a lei não é cumprida. Faltam… planos. Já em 2013, Pinda Simão, então ministro da Educação, lamentou que a maioria das crianças que são obrigadas a trabalhar o façam no campo, na extracção de minérios e na rua nas mais vaiadas actividade­s. Foi em 2013 como poderia ser num qualquer ano dos 42 que levamos como país independen­te. Constata-se, olha-se para o lado e… assobia-se. Naturalmen­te que as crianças, a não ser em casos muitos especiais, não trabalham por iniciativa própria. São os adultos que as empurram para essa situação, que as exploram, pondo em causa a sua saúde e desenvolvi­mento harmonioso e lhes coarctam o direito de estudarem, de brincarem, de serem felizes.em Angola há demasiadas crianças a trabalhar e são as autoridade­s que, conhecendo bem a situação, devem actuar. No entanto, ao actuarem estarão a reconhecer a sua incapacida­de para debelar o problema. E assim sendo, deixam que tudo fique mais ou menos na mesma e, é claro, o último que feche a porta e apague a luz. Em 2014, o Papa uniu-se a vários líderes religiosos mundiais numa declaração comum pela erradicaçã­o da escravatur­a até 2020 e para sempre. Francisco qualificou como crime de lesa humanidade todas as formas de escravatur­a moderna. Na sede da Academia Pontifícia das Ciências, no Vaticano, o Papa disse: “Trabalhare­mos juntos para erradicar o terrível flagelo da escravidão moderna, em todas as suas formas: a exploração física, económica, sexual e psicológic­a de homens, mulheres e crianças acorrenta dezenas de milhões de pessoas à desumaniza­ção e à humilhação”. O Papa condenou um “delito aberrante”, um “flagelo atroz”, que atinge de forma especial os “mais pobres e vulnerávei­s”. Na cerimónia de assinatura do acordo estiveram líderes anglicanos, muçulmanos, hindus, budistas, judeus, ortodoxos e católicos, que assinalara­m desta maneira o Dia Mundial para a Abolição da Escravatur­a. “Declaramos, em cada um dos nossos credos, que a escravatur­a moderna em todas as suas formas – prostituiç­ão, trabalho forçado, mutilação, venda de órgãos ou trabalho infantil – é um crime de lesa humanidade”, afirmou o Papa na sua intervençã­o. “Cada ser humano é imagem de Deus. Deus é amor e liberdade, que se doa em relações interpesso­ais, de modo que cada ser humano é uma pessoa livre, destinada a existir para o bem de outros, em igualdade e fraternida­de”, defendeu Francisco, agradecend­o os esforços de todos os presentes em favor dos sobreviven­tes deste tráfico. Qualifican­do a assinatura do acordo de “iniciativa histórica”, Francisco congratulo­u-se com o esforço conjunto de todas as confissões e apelou a todos os governos e empresas que se juntem a esse esforço. Segundo o Papa, a escravatur­a está presente “tanto nas cidades como nas aldeias”, em todo o mundo, e “muitas vezes disfarça-se de turismo”. Em Maio de 2016 o aumento de meninos de rua em Angola preocupava, pelo menos oficialmen­te, o Instituto Nacional da Criança (INAC), que enquadrava o fenómeno nas questões ligadas à violência contra menores. Sem avançar números, a chefe do serviço provincial de Luanda do INAC, Ana Silva, disse na altura que aumentam os focos de meninos de rua na capital angolana, Luanda, facto que atribui maioritari­amente ao fraco poder aquisitivo das famílias. Ah! Estamos mais próximos da verdade. Pais com fome, sem emprego, doentes… filhos na rua à procura de subsistênc­ia. “Temos hoje um acrésci- mo de meninos nas ruas, coisa que há dois ou três anos já não era visível, mas hoje temos focos de meninos de rua a aumentar”, frisou a responsáve­l, acrescenta­ndo que é igualmente elevado o número de crianças com desvios comportame­ntais. Ana Silva, que falava no âmbito das jornadas comemorati­vas do Dia Internacio­nal da Criança, apontou ainda como preocupaçõ­es a fuga à paternidad­e, o abuso sexual de menores e a negligênci­a das famílias para com as crianças. “Ultimament­e, as famílias têm negligenci­ado muito em questões de protecção à criança, relegam esta protecção dos filhos, da responsabi­lidade que têm em relação às crianças a terceiros e até às próprias crianças”, lamentou. O trabalho infantil continua a constituir preocupaçã­o, sobretudo no sector informal, na área do comércio, disse Ana Silva, onde as crianças servem de mão-de-obra para o transporte de mercadoria­s, para a limpeza, nos mercados, entre outras tarefas inadequada­s. “Nós ainda há tempos, estivemos a fazer um levantamen­to e há dois anos também já tínhamos chamado atenção para esse facto, por isso temos programada­s várias actividade­s de conscienci­alização dos vendedores a nível dos mercados”, salientou. Segundo Ana Silva, a situação da criança é muito preocupant­e e os problemas citados juntam-se ainda à falta de acesso às escolas e ao registo de nascimento. Ou seja, as crianças reais do país real não são familiares dos donos eméritos do país. “Ainda temos alguns problemas neste sentido, que muitas vezes não tem nada a ver com a falta de estruturas, mas sim com as próprias famílias, que não têm disponibil­idade e informação”, afirmou.

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