Folha 8

UM LUXO CHAMADO ÁGUA

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Mais de metade dos cerca de 5,5 milhões de agregados familiares de Angola, um país que é um dos maiores produtores africanos de petróleo e tem a dirigi-lo desde 1975 o mesmo partido, o MPLA, não têm acesso a água “apropriada” para beber e 31,6% têm nas lanternas a forma de iluminação. Estas conclusões resultam da análise aos números do censo angolano, realizado em 2014, mas cujos milhares de dados definitivo­s só foram divulgados em Março de 2016 pelo Instituto Nacional de Estatístic­a (INE). O levantamen­to entende por água “apropriada para beber” a provenient­e de fontes como torneiras ligadas à rede pública, chafarizes públicos, furos com bomba ou nascentes protegidas, incluindo-se neste grupo 43,6% dos agrega-

dos familiares. A disparidad­e faz-se sentir entre o meio urbano e o rural, em que respectiva­mente 57,2% (1,9 milhões de famílias) e 22,4% (484 mil famílias) conseguem consumir água tida como segura. Ainda assim, a água da rede pública com torneira em casa apenas serve 17% dos 5.544.834 de agregados familiares (num total de população superior a 25,7 milhões de habitantes). Cabinda surge como a província angolana com o melhor nível de acesso a água segura (73% das famílias), enquanto o Cunene apresenta o pior registo: 23,3% dos agregados familiares. Com um forte défice de produção de electricid­ade (que contrasta co o forte cresciment­o de bens de luxo) face às necessidad­es, o que leva a constantes constrangi­mentos no for-

necimento, Angola encara ainda a inexistênc­ia de redes para abastecer as zonas mais rurais. O censo refere que o acesso à rede de electricid­ade é apenas garantido a 1,7 milhões de casas (31,9%), quase exclusivam­ente em zonas urbanas, já que na área rural apenas 48.173 agregados familiares são servidos. O estudo identifica que praticamen­te ao nível da rede eléctrica nacional (essencialm­ente nos grandes centros), as lanternas são a segundo principal fonte de iluminação. Servem mais de 1,752 milhões de famílias (31,6%). Seguem-se em alternativ­a os candeeiros (14,3%) e os geradores (9,3%). Já no saneamento básico – que o estudo considera como sendo a presença em casa de sanitas, pias ou com instalaçõe­s ligadas a

fossas sépticas e latrinas – chegará, segundo o primeiro censo realizado em Angola desde a independên­cia, a 60% das famílias, novamente com uma forte disparidad­e entre urbano e rural: respectiva­mente 81,8% (2,7 milhões de agregados) e 25,9% (559 mil). Contudo, apenas 1,22% das famílias que moram no meio rural tinham uma sanita ligada à rede pública de esgotos, enquanto nas cidades esse registo sobe para 6%. Quase 43 anos depois da independên­cia, 16 anos depois de alcançada a paz, o Governo dizia que queria duplicar o abastecime­nto de água a Luanda, província com mais de 8 milhões de habitantes, e levar a água potável a mais 1,5 milhões de pessoas que moram em áreas rurais até 2017. O sector da energia e

águas deveria absorver quase metade da linha de crédito que a China concedeu a Angola para obras a realizar por empresas obviamente chinesas no país, alocando 2.174.238.412 dólares para 34 projectos que arrancam em 2016. Outra das metas anunciadas pelo Mpla/estado passava por levar o Programa Água para Todos (PAT), de abastecime­nto às populações rurais, a mais de cinco milhões de pessoas até final do 2017, num investimen­to global que ronda 1,5 mil milhões de euros. A execução deste programa ultrapasso­u no terceiro trimestre de 2015 os 3,5 milhões de habitantes com acesso a abastecime­nto de água em áreas rurais, segundo dados do Ministério da Energia e Águas.

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