ATÉ QUE O MPLA VIRE A CASACA
Oboletim (que continua a ser oficial) do MPLA, o Jornal de Angola, publicou um editorial onde refere que portugueses e angolanos têm interesse numa boa relação entre os dois países e que podem agora estabelecer “uma relação de amor”. É a verdade que o MPLA quer que, por enquanto, conste do boletim de ocorrências. E, neste casal em (quase) lua-de-mel, há um que é activo, o MPLA, e outro que é submisso e passivo, Portugal. “Os povos angolano e português têm interesse em que as relações entre Portugal e Angola atinjam um nível que possa dinamizar a cooperação económica entre os dois países”, lê-se no Jornal de Angola. Parece que os dois países “têm tudo” para avançar para “uma relação de amor e não mais de ódio”. O editorial aborda as reuniões mantidas esta semana entre o ministro das Relações Exteriores angolano, Manuel Augusto, e o primeiro-ministro português, António Costa, em Portugal. Ao mesmo tempo que recorda (nada de devaneios igualitários) que “os portugueses têm empresas em Angola” e que os “angolanos têm capitais aplicados em Portugal”, o jornal sublinha que “é por isso do interesse dos empresários de ambos os países que haja boas relações políticas e diplomáticas entre Angola e Portugal”, para “impulsionar, por exemplo, as relações comerciais”. O que é esto significa na linguagem do MPLA? Simples. O regime angolano, o mesmo desde 1975, quer, pode e manda. Portugal não quer, não pode e não manda. E é a conjugação destes factores que promete dar durabilidade a um casal cujo domínio de uma das partes é condição “sine qua non” para a sua longevidade. “Angola e Portugal têm tudo para estabelecer exclusiva e definitivamente uma relação de amor e não mais de ódio. Angola e Portugal têm condições para se constituírem num bom exemplo de cooperação, na base do respeito mútuo”, lê-se no mesmo editorial. É isso aí. Têm tudo. Seguindo velhas tradições de alguns povos africanos, o MPLA é o macho alfa e tem no seu harém uma catrefa de fêmeas. Portugal é, por vontade própria dos seus políticos, mais uma. Estabelecida a data da visita da noiva a Luanda (17 e 18 de Setembro), falta saber quem constituirá o séquito que a acompanhará. Seria justo que, por exemplo, incluísse (pelos altos serviços prestados a Angola – e a bem da Nação como dizia Salazar) os juízes Cláudio Ximenes e Manuel Almeida Cabral. “Tive o gosto de, há uma hora e meia, falar por telefone com o ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, doutor Manuel Augusto, para pre- pararmos entre as nossas equipas a próxima visita do primeiro-ministro a Luanda”, disse em tempos Santos Silva (SS), durante uma audição na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas. Depois de o Presidente dos angolanos do MPLA, João Lourenço, ter “dado o gosto” de receber, o ministro da Defesa português, José Azeredo Lopes, em visita oficial a Luanda, “houve agora este contacto para que, ao nível das embaixadas, possamos concretizar esse objectivo, que é agora totalmente prioritário”, acrescentou o SS do PS. Além da deslocação da noiva a Luanda, que chegou a estar prevista para o ano passado, os noivos deverão também retomar a revisão do programa executivo de cooperação e tratar da agenda bilateral, “que é muito rica”. Era inevitável. Tal como disse SS no tempo de José Eduardo dos Santos, mesmo sem ir a banhos em Luanda, está mandatado para pela enésima vez dizer aos matumbos do seu país que as relações entra o PS (ele chama-lhe Portugal) e o MPLA (ele chama-lhe Angola) são “normais e bem consolidadas”. “O relacionamento histórico e cultural é tão estreito que é verdadeiramente nele que devemos atentar e construir a relação entre as nossas sociedades e os nossos Estados”, considerou o conselheiro matrimonial da noiva e perito dos peritos socialistas e similares do governo de Lisboa. Isto foi dito por SS em Luanda, onde estava a acompanhar o Presidente da República portuguesa por ocasião da cerimónia de posse, de João Lourenço que, aliás, tinha recebido felicitações de Marcelo Rebelo de Sousa pela vitória mesmo antes de os resultados oficiais serem divulgados. Recordam-se? Questionado, nessa altura, sobre críticas do vice-presidente da UNITA (maior partido da oposição em Angola), Raúl Danda, de que Portugal “verga sempre” perante as exigências de Luanda, o ministro SS disse que o Governo português “não tem de responder a partidos políticos estrangeiros”. Além disso, ao contrário do MPLA, a UNITA não pertence à Internacional Socialista. Além disso, lá bem no íntimo, SS considera que a UNITA nem sequer é um partido formado por angolanos. “Quer em Portugal quer em Angola, há quem entenda que há demasiada distância entre os dois países, há quem entenda que há demasiada cumplicidade, há quem entenda que há demasiada indiferença e há quem entenda que há demasiado relacionamento. Isso caracteriza mais as pessoas que emitem essas opiniões do que o estado das relações bilaterais e o comportamento dos dois Estados e dos dois Governos”, sustentou Santos Silva.