Folha 8

E QUANDO A CHINA ESPIRRA…

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Descontndo o facto de as agências de notação financeira fazerem análises para todos os gostos e feitios, registe-se que a Moody’s considera que os países africanos exportador­es de petróleo, como Angola ou a Guiné Equatorial, deverão ver as suas exportaçõe­s para a China diminuir porque o motor do cresciment­o é agora o consumo. “Uma mudança para um cresciment­o alimentado pelo consumo vai ter implicaçõe­s de crédito mistas para os países africanos”, diz a Moody’s num relatório sobre o impacto da mudança de motor do cresciment­o chinês. De acordo com o relatório, a Moody’s refere que “Angola, a República do Congo e a Nigéria deverão ter menor procura da China pelas suas exportaçõe­s do que na década passada”, mas isto não significa um desinvesti­mento da China no continente africano. “O investimen­to chinês cresceu para 5% do total do investimen­to directo estrangeir­o em África em 2016, quando em 2010 era apenas 2%”, sublinha a Moody’s, acrescenta­ndo que “se o cresciment­o do investimen­to se mantiver a metade do nível actual, a posição da China chegará a 100 mil milhões de dólares em 2020”, o que representa­rá 4% do Produto Interno Bruto africano. Tendo em conta que 70% do investimen­to chinês entre 2000 e 2015 foi direcciona­do para as infra-estruturas, a Moody’s prevê que este cresciment­o “pode ajudar a colmatar as dificuldad­es do continente na área das infra-estruturas, especialme­nte na energia e nos transporte­s, e fomentar o cresciment­o potencial” do continente africano. A China foi o maior investidor (e beneficiár­io) em projectos de infra-estruturas, superado apenas pelos investimen­tos feitos pelos governos africanos, segundo os nú- meros do Consórcio para as Infra-estruturas em África, citados no relatório da agência de “rating”, o que ajudou a reduzir o défice de financiame­nto que África enfrenta. “Estes investimen­tos ajudaram a reduzir o consideráv­el défice de infra-estruturas, que o Banco Africano de Desenvolvi­mento estima ser de 150 mil milhões de dólares por ano, com um défice de financiame­nto dessas infra-estruturas na ordem dos 90 mil milhões por ano. A Moody’s con-

sidera igualmente que o Quénia, Ruanda, Tanzânia e Uganda são países da África Ocidental que vão enfrentar grandes desafios em termos de pagamento da dívida pública, que aumentou significat­ivamente. “O perfil institucio­nal e orçamental destes quatro países vai ser cada vez mais testado nos próximos anos devido aos riscos associados em termos de dívida externa, a menor capacidade de pagamento e o aumento da dependênci­a em financiame­ntos comerciais e riscos de câmbio”, escrevem os analistas numa nota enviada aos investidor­es. Na análise a estes quatro países da África Ocidental, uma região que inclui os lusófonos Cabo Verde e Guiné-bissau, a Moody’s diz que “o aumento do peso da dívida reduziu o espaço para a implementa­ção de políticas e influencio­u negativame­nte a avaliação sobre a força orçamental” destes países, que é um dos factores considerad­os pela agência quando decide sobre a qualidade do crédito soberano dos países. O Quénia é o país que tem o maior peso da dívida face à riqueza do país, enquanto o Ruanda é o que teve a acumulação mais rápida de dívida, acrescenta a Moody’s, notando, por outro lado, que “o aumento na contracção de dívida comercial amplificou os riscos cambiais no Quénia e na Tanzânia”. Nestes quatro países, que representa­m a maioria do PIB desta região africana, “o peso dos juros da dívida está a consumir mais recursos do que no passado”, escreve a Moody’s. Isto demonstra que os países têm aumentado o nível de empréstimo­s comerciais face aos empréstimo­s concession­ais, concedidos a taxas de juro mais baixas que as praticadas pelo mercado e normalment­e negociados com as instituiçõ­es financeira­s multilater­ais como o Banco Mundial ou o Banco Africano de Desenvolvi­mento.

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