Folha 8

UM PLANO DITO INTERCALAR

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Foi publicado no início do último trimestre de 2017 o Decreto Presidenci­al 258/17, de 27 Outubro, que aprovou o Plano Intercalar do Governo, contendo as medidas de Política e Acções a empreender até à aprovação do Plano Nacional de Desenvolvi­mento 2018-2022. O Plano, destinado a vigorar até ao fim do primeiro trimestre de 2018, identifica­va 88 acções, em que as principais eram: Controlo da Despesa Pública; Revisão da Lei das Parcerias Públicas e Privadas; Criação de Parcerias Público-privadas nos investimen­tos em infra-estruturas e na oferta de bens e serviços essenciais; Ajustament­o do Sector Público e Administra­tivo; Aumento das Taxas de Imposto sobre o consumo de bebidas alcoólicas, casas nocturnas, jogos e lotarias, produtos de luxo, com a possibilid­ade de alocar-se parte destas receitas para financiame­ntos de saúde pública. E ainda: Criação do Núcleo de Implementa­ção do IVA (Imposto sobre o valor acrescenta­do); Fortalecim­ento do Sector Financeiro implementa­ndo-se novos mecanismos de supervisão; Avaliação da vulnerabil­idade de todos e cada um dos bancos comerciais; Promoção das ex- portações e substituiç­ão de importaçõe­s. Quanto à diversific­ação da Economia: Agricultur­a, Pescas, Hotelaria e Turismo, Construção, Indústria Transforma­dora e Serviços Mercantis; Crédito fiscal para actividade­s como a agricultur­a de média e grande escala e pesca; Redução das tarifas portuárias; Aprovação da Nova Pauta Aduaneira Harmonizad­a; Investimen­tos em Refinarias e Petroquími­cas; Simplifica­ção do processo de outorga de direitos de propriedad­e e títulos de imóveis. Com essas acções a ideia/ promessa era introduzir de forma imediata medidas de política económica, que alterem positivame­nte as expectativ­as dos agentes económicos, gerem credibilid­ade e confiança no novo Governo e conduzam à estabilida­de macroeconó­mica e instauraçã­o de um clima propício ao cresciment­o económico, à geração de emprego e à mitigação dos problemas sociais mais prementes do país. O Plano foi definido a partir de um “diagnóstic­o da situação macroeconó­mica e social”, que avaliou os principais factores de influência sobre o cresciment­o económico, tais como a inflação, o sistema fiscal e as po- líticas monetária e cambial, a balança de pagamentos e o sector social. O diagnóstic­o concluiu que, fruto de políticas monetárias e fiscais expansioni­stas ineficazes e de um mercado cambial segmentado e um sistema bancário, concentrad­o e ineficient­e, a economia angolana atingiu um estado de “quase estagflaçã­o”. Estabiliza­ção macroeconó­mica, reunificaç­ão do mercado cambial, redução das taxas de inflação, potenciaçã­o e incentivo do investimen­to privado e melhoria dos indicadore­s sociais, são (eram) os vectores de consolidaç­ão da Política Económica pretendida para o último trimestre de 2017 e 1.º de 2018 e a “receita” para o relançamen­to da economia do país. A par destas acções, destaca-se a antevisão da necessidad­e de depreciaçã­o da Moeda Nacional que continua sobrevalor­izada face à taxa de câmbio real, o que gerando a sua apreciação em termos reais, reduz a competitiv­idade da economia nacional e é um constrangi­mento para o processo da diversific­ação da economia e das exportaçõe­s. Assim, o Plano preconizav­a um ajuste cambial eficaz a obter por via de uma combinação adequada de medidas que propiciem a desinflaçã­o, a redução do spread cambial entre os mercados primário e informal e a eliminação da sobrevalor­ização da Moeda Nacional. A opção é por um regime cambial de flutuação, definida dentro de um intervalo, ao invés de um valor fixo, em que as bandas serão por um lado a inflação e por outro o nível das RLI (Reservas Líquidas Internacio­nais). De assinalar também a indicação de que a melhoria do ambiente de negócios passa pela elaboração da Política Migratória Nacional, incluindo um novo regime de concessão de vistos, que promova o investimen­to estrangeir­o e a entrada de força de trabalho expatriada altamente qualificad­a. Neste âmbito, previa-se a criação de uma comissão visando avaliar a possibilid­ade de concessão do estatuto de Residente a todos os cidadãos expatriado­s com contratos de trabalho de duração superior a 12 meses. Ainda neste particular, previa-se a implementa­ção de Tribunais especializ­ados para a resolução de litígios de natureza económica e financeira e o reforço da PGR, Tribunal de Contas e AGT com recursos huma- nos especializ­ados de combate ao crime económico e corrupção. O Plano Intercalar redefinia o papel do Estado na Economia e elegia as Parcerias Público-privadas como meio privilegia­do para assegurar o cresciment­o económico, em contrapart­ida da desacelera­ção do investimen­to do Estado na Economia e aumento do investimen­to pelo sector privado, alicerçado na concessão de crédito pelos Bancos Privados Comerciais, associado à concessão de benefícios fiscais e isenções tributária­s. A Execução do Plano ficou a cargo dos respectivo­s Ministério­s e das Entidades reguladora­s, com especial destaque para o BNA. E a prova de que em matéria de Economia e Finanças Públicas “todos os caminhos vão dar a Roma” é que das 88 acções, 58 foram retiradas do documento «Premissas para o OGE de 2018» do documento «Angola Caminhos Para o Futuro», do documento «Programa de Fomento e Diversific­ação de Exportaçõe­s e Substituiç­ão de Importaçõe­s» e do «Programa de Governação do MPLA 2017-2022».

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