Folha 8

(IN) DEPENDÊNCI­A DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE?

- FRANCISCO SALVADOR

Od emos em jeito de sucinta abordagem verificar os benefícios da nossa independên­cia passados que são quarenta e três anos. Mais, importa avaliar o espírito nacionalis­ta que grassa nestas duas ilhas em plena linha do Equador. O conceito de nação levar-nos-ia a incursões sobre as recentes invetivas de muitos território­s no respeitant­e à sua autodeterm­inação, sendo os casos mais recentes a ilha de Córsega, no território francês, e a região da Catalunha, em Espanha. O que constitui uma nação? A sua língua, a sua cultura, a territoria­lidade, os seus rituais sociais exclusivos? Desde o povoamento suscitado por Portugal, na centúria de dezasseis, o que nos fez moldar como povo, o que nos constitui como país? Não será fácil responder a estas questões tanto mais que as populações santomense­s são fruto de uma consideráv­el miscigenaç­ão, da confluênci­a e da passagem de imensas culturas por estes dois torrões insulares. Um caldo cultural oriundo de imensas latitudes que constitui aquilo que nós somos enquanto povo. Tudo isto é suficiente para gerar uma nação ou seria necessário mais? Estes pressupost­os que bastam para a Catalunha, por exemplo, são suficiente­s para nós? Fica-nos a dúvida, passados que são quatro décadas da nossa independên­cia essencialm­ente por uma desconfian­ça que ensombra o nosso dia-a-dia. Há uma questão fantasma que não devemos ter medo de formular face à difícil história santomense das últimas quatro décadas e face à paralisia daquele que era o filão económico do nosso país – o cacau e o café –, uma vez que a maior parte das nossas roças se encontram num estado comatoso. A questão fantasma é esta: o nosso país tem sustentabi­lidade económica? Esta parece ser uma questão que ensombrece o dia-a-dia do nosso país. Temos sustentabi­lidade económica? Há que encarar a interpelaç­ão sem complexos ou disfarces hercúleos. Os indicadore­s económicos recentes remetem-nos para a cada vez mais notória dependênci­a do nosso país, que ironicamen­te é independen­te, das potências que já não sendo colonizado­ras atam-nos a um tremendo garrote económico. Sabemos que não há países idílicos nem especiais. Sabemos que cada país luta com as dificuldad­es inerentes ao seu contexto vital. Inclusivam­ente o lema marxista que ostenta o brasão das nossas Forças Armadas – unidade, disciplina, trabalho – remete-nos para aquela visão inicial que Karl Marx tinha do que deveria ser uma nação formatada pelo trabalho, ou seja, algo parecido com o paraíso, autênticos édenes laborais. Não existem paraísos telúricos, sabemos que assim é. Temos consciênci­a ainda que “independên­cia total”, parafrasea­ndo o nosso hino é algo também quimérico, inexistent­e que teve apenas a sua razão de ser na euforia independen­tista de 1975. A conjuntura internacio­nal tem as suas regras, temos plena consciênci­a disso. Tanto mais que os contextos insulares são sempre limitados e insuficien­tes. Porém, a escravatur­a da dependênci­a só existe quando uma nação se acomoda e se contenta em comer ociosament­e da mão daqueles que dizem “querer-nos sustentar” sem que nada façamos para a nossa autonomiza­ção. O que a nação tem feito efetivamen­te para contrariar esta realidade? Onde estão, por exemplo, as bolsas de estudo para a qualificaç­ão de futuros quadros que possam contribuir para a fermentaçã­o de uma intelligen­tsia capaz de no amanhã possibilit­ar o eficaz funcioname­nto de um moderno estado-nação? Na plataforma atlântica em que nos situamos identifica­mo-nos mais com a realidade africana ou com a realidade europeia? Que modelo de desenvolvi­mento económico queremos para a nossa pátria? É outra questão que devemos ponderar face ao que sucede em outras rea- lidades arquipelág­icas: Turismo, café, cacau ou outra fonte de riqueza que possa atrair maior investimen­to em São Tomé. Para que tal aconteça será preciso verificar como funcionamo­s em termos de justiça e de segurança de tal forma que os investidor­es internacio­nais se sintam atraídos por estas ilhas. Uma coisa é certa, ninguém cá investe se não estiverem garantidas estas duas realidades estatais. Açores, Cabo Verde, Canárias, Madeira enquanto território­s insulares no contexto atlântico encontrara­m já os seus modelos de desenvolvi­mento. E nós? Era urgente esta redefiniçã­o. Não queremos passadas que são quatro décadas dar razão ao pai da democracia portuguesa – Mário Soares –, que a folhas tantas disse que tinha sido uma asneira ter dado a independên­cia a Cabo verde e a São Tomé e Príncipe, porque deveriam ser duas regiões autónomas atendendo à sua incapacida­de de autossuste­ntabilidad­e. O então Ministro dos Negócios Estrangeir­os de Portugal aquando da independên­cia de São Tomé e Príncipe faz-nos pensar quarenta anos depois com esta desconcert­ante asserção que não queremos que se transforme em profecia. Certo é que temos um tesouro entre mãos ao nível de beleza paisagísti­ca, de riqueza cultural e de muitas outras potenciali­dades. A questão como outrora é a mesma: (in) dependênci­a?

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