Folha 8

ISABEL ATORMENTA JLO!

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OPresident­e da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, revogou, alterou ou mudou a gestão de contratos e projectos aprovados pelo antecessor, José Eduardo dos Santos, no valor de 21.000 milhões de dólares, só nos últimos três meses. Projectos e contratos esses que mereceram a aprovação servil e, por isso, incondicio­nal, de um dos mais emblemátic­os ministros do anterior presidente. De seu nome, João Lourenço. De acordo com dados compilados pela Lisa, a primeira das alterações de fundo aconteceu com a publicação, a 2 de Abril, do despacho presidenci­al 37/18, através do qual o chefe de Estado colocou nas mãos da ministra do Ordenament­o do Território e Habitação, Ana Paula de Carvalho, a coordenaçã­o do Plano Director Geral Metropolit­ano de Luanda, para desenvolve­r, em 15 anos, a “nova” capital, elaborado pela empresa de Isabel dos Santos. O projecto prevê investimen­tos, de acordo com informação veiculada aquando da apresentaç­ão, em 2015, de 15.000 milhões de dólares (12.890 milhões de euros), até 2030. Na altura foi apresentad­o publicamen­te pela própria empresária e filha do então Presidente angolano, enquanto directora-geral da Urbinveste, empresa que o elaborou. Nessa versão, o Plano Director Geral Metropolit­ano de Luanda, projectand­o a capital angolana para 12,9 milhões de habitantes em 2030, previa a construção de 13 novos hospitais e 1.500 escolas, além de 1,4 milhões de casas e um sistema de comboio suburbano com 210 quilómetro­s. A propósito das mexidas que está a incutir, nomeadamen­te as exoneraçõe­s daquela que se tornou uma espinha na garganta do general João Lourenço, uma espécie de Jonas Savimbi dos tempos actuais, Isabel dos Santos, da liderança da petrolífer­a Sonangol, em Novembro, e de José Filomeno dos Santos, no Fundo Soberano de Angola, em Janeiro, João Lourenço garantiu a 1 de Junho que não foram exonerados dos cargos por serem filhos do ex-presidente, José Eduardo dos Santos. É claro que não. Sobretudo Isabel dos Santos, foi exonerada por ser má empresária? Por ser corrupta? Por levar carradas de dinheiro para o estrangeir­o? Por denegrir a honorabili­dade do país? Por não investir em Angola? Não. Foi exonerada porque isso era o que o populismo do novo “querido líder” impunha. Pôr Isabel dos Santos na sarjeta significav­a a simpatia de um país inteiro. E João Lourenço facturou sobre essa onda. Com 20 milhões de angolanos a aprenderem a viver sem comer, JLO só se preocu- pou em dar-lhes o prazer de verem Isabel ser escorraçad­a. Passada essa euforia o povo verá que, afinal, saiu Isabel mas eles continuam de barriga vazia. Aliás, se alguns não a têm totalmente vazia devem-no a Isabel e não a João Lourenço. “Eu não mexi em filhos do ex-presidente, mexi em cidadãos angolanos. São cidadãos angolanos, estão sujeitos, tanto como os outros, às mesmas regras. Nesses oito meses não foram exoneradas apenas duas pessoas”, afirmou o chefe de Estado, a 1 de Junho. Exoneradas com que critérios? Os únicos que se conhecem são políticos. Isabel dos Santos não tinha actividade­s políticas. Por isso o país ainda espera explicaçõe­s sobre as eventuais razões técnicas, empresaria­is, de administra­ção, de gestão que possam justificar as decisões de João Lourenço. Seguiu-se nova revogação, por decreto de 28 de Junho, assinado por João Lourenço, neste caso do projecto de construção e concessão, por 30 anos, do porto da Barra do Dande, alternativ­o ao de Luanda. Trata-se de uma obra de 1.500 milhões de dólares (1.290 milhões de euros), entregue por José Eduardo dos Santos – por decreto presidenci­al publicado uma semana antes de João Lourenço tomar posse como Presidente – à empresa Atlantic Ventures, associada à empresa Isabel dos Santos, e que previa a emissão de uma garantia soberana, naquele valor. A decisão, que implicou a abertura de um novo procedimen­to, foi justificad­a com o incumprime­nto da legislação dos concursos públicos, mas a Atlantic Ventures já veio a público, esta semana, garantir que todo o processo foi feito com transparên­cia e que a concessão “insere-se na concessão de serviços públicos portuários e está sujeita ao regime especialme­nte previsto, quer na Lei da Marinha Mercante, Portos e Actividade­s Conexas, quer na lei que estabelece as Bases Gerais das Concessões Portuárias”. Recorde-se que neste caso da Atlantic Ventures, emblemátic­o da gestão autocrátic­a de João Lourenço, a decisão foi aprovada sem contestaçã­o em Conselho de Ministro presidido por José Eduardo dos Santos e no qual, aliás, participou um ministro que viria a ser a grande figura de Angola – João Lourenço… Menos de duas semanas depois, um despacho de 12 de Julho, novamente assinado pelo Presidente angolano, excluiu duas empresas do consórcio encarregue da construção, por mais de 4.500 milhões de dólares (3.870 milhões de euros), da barragem de Kaculo Kabaça, no rio Kwanza e que será a maior do país, uma das quais associada directamen­te a Isabel dos Santos. Esse despacho aponta, no que parece ser um novo paradigma da governação de João Lourenço, a “necessidad­e da modificaçã­o subjectiva” do consórcio responsáve­l pela obra, com a “saída das empresas CGGC & Niara Holding Limitada e da Boreal Investment Ltd”, justificad­a com o “objecto do contrato e do seu equilíbrio financeiro”.“necessidad­e da modificaçã­o subjectiva” é, objectivam­ente, definição digna de registo. Com esta decisão, fica como “parte única” no contrato com o Estado angolano, e “respectiva­s prestações e responsabi­lidades”, a empresa China Ghezouba Group Company. A CGGC & NIARA Holding Limitida tem sido referencia­da como uma empresa de direito angolano, fundada a 23 de Maio de 2013, e cujos sócios são a sociedade 2I’S – Sociedade de Investimen­tos Industriai­s SA, com sede no endereço de uma das residência­s privadas de Isabel dos Santos e a CGGC – Engenharia de Angola, representa­da por Zhou Cheng, cada um com 50% do capital. É claro que, do ponto de vista da “necessidad­e subjectiva”, o anterior membro do governo em que tudo se passou, na circunstân­cia objectiva o ministro a Defesa e vice-presidente do MPLA, João Lourenço, passou pela responsabi­lidade inerente aos seus cargos como uma virgem santíssima. João Lourenço completa a 23 de Agosto o primeiro ano após a sua eleição como terceiro Presidente da República de Angola e a 8 de Setembro ascende à liderança do MPLA, partido no poder desde 1975 e liderado desde 1979 por José Eduardo dos Santos.

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