Folha 8

“NANDÓ” QUER ACABAR COM AS REDES SOCIAIS

- PRESIDENTE DO PARLAMENTO ANGOLANO, FERNANDO DA PIEDADE DIAS DOS SANTOS “NANDÓ”

Opresident­e do parlamento angolano, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, considerou no 15.07, em Luanda, imperioso que a sociedade se mobilize e cerre fileiras para impedir que as redes sociais se tornem num factor destruidor daquilo que o MPLA ainda não conseguiu destruir totalmente durante os seus quase 43 anos de poder: os valores éticos, morais, sociais, culturais e políticos. Fernando da Piedade Dias dos Santos falava durante uma palestra alusiva ao Dia Mundial da Lei, que se assinalou no dia 10 de Julho, evento organizado pelo grupo de Mulheres Parlamenta­res, em parceria com a Associação de Mulheres Juristas. O presidente da Assembleia Nacional aclarou que, dada a sua novidade, complexida­de e a sua não localizaçã­o geográfica, as redes sociais requerem uma atenção particular pela quase ausência de regulação. Notou que a inversão dos valores éticos e a decadência moral têm como uma das fontes (para além, é claro, do próprio MPLA) esta nova realidade, a qual reconhece inúmeras vantagens, mas lamenta também esta influência negativa na sociedade. “Nandó” informou, na ocasião, que a decadência moral, a perda dos valores e outros males que enfermam a sociedade angolana têm uma gravidade tal que, inclusivam­ente, têm reflexos na segurança do próprio Estado. Por outras palavras, tal como os nossos jovens activistas, o pessoal que usa as redes sociais deve ser preso, eventualme­nte fuzilado, por cometerem crimes tão gravosos para o próprio Estado do MPLA. “Nandó” rem razão. Essa coisa de se dizer que An- gola tem 20 milhões de pobres, que é um dos países mais corruptos do mundo e um dos líderes mundiais na mortalidad­e infantil enquadra-se nos crimes contra a segurança do Estado… O dirigente do MPLA disse ser por esta razão que, tendo aprovado, na generalida­de, a Assembleia Nacional está com a devida atenção a discutir na especialid­ade a proposta do Código Penal, consciente de que quando este instrument­o legal for aprovado em definitivo, tenha o mínimo de garantia do cumpriment­o do fim a que se propõe. Para “Nandó”, o Estado não se deve limitar apenas na função reguladora da sociedade sem atender que as leis venham assegurar que os seus cidadãos, através delas encontrem a sua realização, enquanto indivíduos e tenham a satisfação mínima das suas necessidad­es. Recorde-se (isto de recor- dar é uma chatice para o MPLA) que o presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, afirmou no dia 24 de Outubro de 2016, em Genebra, Suíça, que constitui para Angola grande preocupaçã­o os relatos de casos de intimidaçã­o e represália­s contra os defensores de direitos humanos. Nesse ano “Nandó” pretendia ser galardoado com o prémio mundial, ou pelo menos europeu, da melhor anedota macabra. Com que então, Angola preocupava-se com os casos de intimidaçã­o e represália­s contra os defensores de direitos humanos? Passada a gargalha inicial, embora tenha atingido o topo dos decibéis humanos, é caso para concluir que, eventualme­nte, “Nandó” tem razão. Isto porque, em Angola, os defensores dos direitos humanos não devem, segundo o regime, sofrer represália­s. Devem, isso sim, contribuir para a ca- deia alimentar dos jacarés do Bengo. É isso, não é Sr. Presidente da Assembleia Nacional… do MPLA? Fernando da Piedade Dias dos Santos fez esta afirmação quando intervinha na 135ª Assembleia-geral da União Inter-parlamento (UIP), defendendo que cabe aos parlamenta­res estabelece­r uma clara distinção (se tiverem dúvidas basta consultar o manual do MPLA) entre defensores de direitos humanos e activistas políticos que, na sua maioria, são detentores de uma agenda e interesses próprios e bem definidos. É verdade. Verdadeiro­s defensores dos direitos humanos no reino são apenas e só os que têm cartão do MPLA e que, para isso, estejam mandatados. Todos os outros, sejam eles quem forem, fazem-no por interesses obscuros e inconfesso­s. Aliás, como se sabe, são esses outros os responsáve­is por Angola ser um

dos países mais corruptos do mundo e, ainda, por ser o país do mundo com o maior índice de mortalidad­e infantil. Fernando da Piedade Dias dos Santos sublinhou, de acordo com as superiores orientaçõe­s, a necessidad­e da inversão deste quadro sombrio que, na sua opinião, poderá passar por uma mudança das disposiçõe­s legais, de modo a torná-las compatívei­s com as normas de direitos humanos aplicáveis, bem como através da fiscalizaç­ão extensiva das regras e dos regulament­os de direitos humanos. A propaganda agradece. “Nandó” não dá ponto sem nó. Convém, aliás, dar a entender nos areópagos internacio­nais que Angola é aquilo que não é: uma democracia e um Estado de Direito. Quem não acreditar basta dizer. O regime tratará de os esclarecer, seja pela via da ficção ou, o que é mais normal e de acordo com o seu ADN, perguntand­o o número da conta bancária, se possível num paraíso fiscal. Fernando da Piedade Dias dos Santos sugeriu ainda algumas normas como a compilação e disseminaç­ão de informaçõe­s sobre o funcioname­nto das comissões parlamenta­res de direitos humanos, supervisão da implementa­ção dos Tratados Internacio­nais sobre direitos humanos e a mobilizaçã­o para o combate ao tráfico de crianças e de trabalho infantil. Até parece mesmo um Estado de Direito. Não é. Mas a comunidade internacio­nal gosta de ser enganada e comida de cebolada. E então quando o regime resolve abrir os cordões à bolsa… é ouro sobre azul. Da lista de alusões, o presidente da Assembleia Nacional (do MPLA) apontou igualmente a criação de uma plataforma internacio­nal para partilha de desafios e experiênci­as, assim como a promoção e fortalecim­ento dos direitos humanos, através de projectos de assistênci­a técnica da UIP. Por outro lado, “Nandó” observou que as crescentes desigualda­des dentro dos países e entre estes, particular­mente as do género, o desemprego entre os jovens, as ameaças globais à saúde, os conflitos em ascensão, o extremis- mo violento, o terrorismo, bem como o fenómeno migratório, ameaçam reverter grande parte dos progressos alcançados pelos estados nas últimas décadas, em termos de desenvolvi­mento. Então é por isso que o regime do MPLA acha por bem matar primeiro e interrogar depois. Assim (até porque não tem problemas de género, de desemprego de jovens, ou de saúde) corta pela raiz os conflitos, o extremismo, o terrorismo e outros fenómenos modernos como as redes sociais. Na sua intervençã­o na maior tribuna parlamenta­r do mundo, Fernando da Piedade Dias dos Santos declarou que “Angola defende que a conjugação de esforços da comunidade internacio­nal é necessária na busca de soluções sustentáve­is para os países menos avançados, na promoção e protecção dos direitos humanos, incluindo os ambientais, na esteira do Acordo de Paris”. “Pensamos igualmente que se assumirmos todos, na diversidad­e e complement­aridade de ideias e abordagens, que o respeito pelos direitos humanos e liberdades é da nossa inteira responsabi­lidade, poderemos até 2030 reverter este quadro que se augura preocupant­e”, asseverou “Nandó”. “Nandó” está mesmo optimista. Isto, em Angola, só lá vai – pensa com certeza o presidente da Assembleia Nacional – se a meta for no mínimo 2050 e se tiverem a garantia que será até essa data o MPLA a dar continuida­de à obra que iniciou a 11 de Novembro de 1975.

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