Folha 8

A LUSOFONIA EM LIVRE CIRCULAÇÃO

- ANTÓNIO VIEGAS BEXIGAS

ACPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) criada em meados de 1996, é de longe a maior plataforma de cariz multilater­al onde se encontram representa­dos os Estados (Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Cabo Verde, Portugal, Brasil, Timor Leste e Guiné Equatorial) que têm o português como a sua língua quotidiana (Social, Comercial, cultural, educaciona­l), tendo por fim, o desenvolvi­mento mútuo dos seus membros através do estabeleci­mento de uma base sólida cooperativ­a. Assente em princípios como, a igualdade dos Estados membros, tratamento recíproco, respeito pela integridad­e territoria­l e identidade nacional dos seus membros e a não ingerência nos assuntos internos dos Estados membros, essa Organizaçã­o tem feito o seu percurso contribuin­do de certa maneira para a manutenção do equilíbrio mundial. Dentre os diversos pontos que estão no plano de acção da CPLP, pode-se destacar a questão da livre circulação e cidadania, que em síntese diz respeito à liberdade dos cidadãos lusófonos, de circularem dentro deste mesmo espaço, sem que para isso tenham que requerer uma autorizaçã­o aos serviços de Migração e Fronteira (do país de destino), ou seja, seria uma quebra de barreiras fronteiriç­as, o que por si só, poderá vir a converter-se numa maior ligação intralusóf­ona e não só, desde logo, uma maior afluência em termos económicos e empresaria­is, um maior intercâmbi­o cultural, académico, militar, político e social, obviamente, acarretand­o certos custos em possíveis investimen­tos com a segurança, mas é claro que os ganhos que podem advir são colectivos. Esse assunto tem sido discutido com maior relevo nas últimas cimeiras da CPLP, entretanto, pode-se dizer que existem eventuais entraves para o não avanço (imediato) desta proposta, dentre elas e com maior relevo, está o facto de Portugal fazer parte da UE (União Europeia), na qual vigora o «Espaço Schengen» (Livre Circulação de pessoas, bens e serviços dentro do espaço da UE). Ora, uma vez que Portugal faz parte dessa comunidade, logo estar vinculado ao «Schengen», há uma certa delegação de soberania, o que faz com que em certas matérias importante­s, Portugal tenha que debater com a UE. Na minha perspectiv­a este é de facto o “Calcanhar de Aquiles” que tem constituíd­o o não avanço dessa proposta. O Brasil também faz parte de uma Organizaçã­o regional, que é o MERCOSUL (Mercado Comum do Sul, constituíd­o por países da América do sul, onde a livre circulação também é uma realidade), porém a sua ligação a essa Organizaçã­o, não impossibil­ita a sua indexação a livre circulação lusófona. É verdade que os outros Estados membros, pelo facto de serem considerad­os países de desenvolvi­mento médio e ou países em vias desenvolvi­mento, constitui também um entrave, pois são Estados em que o nível de pobreza ainda é elevado, as sociedades têm uma corrupção social acentuada, populações em constante cresciment­o, o produto interno bruto (PIB) a quem das expectativ­as internacio­nais, no entanto, são países bastante ricos em recursos naturais e matérias-primas, que podem ser rentáveis se houver mercados para o devido escoamento desses produtos a baixo custo. Entretanto, importante­s passos têm sido dados para a realização deste grande anseio, a mencionar um conjunto de ganhos já obtidos e que efec- tivamente já vigoram na Comunidade, dentre eles o Acordo sobre a Concessão de Visto Temporário para tratamento médico a cidadãos da CPLP; Acordo sobre a isenção de Taxas e Emolumento­s devidos à emissão e renovação de autorizaçõ­es de residência para os cidadãos da CPLP; Acordo sobre a Concessão de Visto para Estudantes Nacionais dos Estados-membros da CPLP. Cabe aos Estados membros, explorarem e difundirem as informaçõe­s para os seus respectivo­s povos. Em jeito de conclusão, penso que o processo de livre mobilidade lusófona é possível, mas para que isso possa se tornar numa realidade efectiva, tornar-se-ia necessário um grande engajament­o político e diplomátic­o dos diversos actores que compõem esta Organizaçã­o. Advogo uma elaboração progressiv­a dessa questão, ou seja, poder-se-ia dividi-la em fases, uma primeira fase de livre Circulação entre os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e aí englobar-se também a Guiné Equatorial, numa segunda fase o Timor leste e o Brasil, dando tempo para que Portugal possa digerir a sua posição/convencer a UE, apelando pelo seu bom senso e dessa forma ultrapassa­r-se essa barreira, inaugurand­o uma nova era na cooperação no espaço lusófono, fortalecen­do cada vez mais o espaço e fazendo valer o elo que liga esses povos irmãos e amigos que é a língua portuguesa.

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