Folha 8

ELEFANTES A MENOS, POBRES A MAIS

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A população de elefantes em Angola (já para não falar da população de pobres – 20 milhões), que recuperou após a guerra civil, está de novo em declínio e precisa de “protecção activa” (tal como os nossos pobres) contra a caça furtiva e perda de habitat, alertava um estudo divulgado no passado dia 14 de Março. Uma investigaç­ão realizada por ecologista­s da “Elephants Without Borders” (EWB), organizaçã­o de conservaçã­o da vida selvagem e dos recursos naturais com sede no Botswana, e pela Universida­de de Massachuse­tts Amherst, conclui que o fim da guerra não é necessaria­mente suficiente para a recuperaçã­o a longo prazo das populações da vida selvagem, sendo também necessária “protecção activa”, com medidas de combate à caça furtiva e de limitação da invasão humana das áreas protegidas. Tanto quanto parece, o fim da guerra também não foi, nem é, necessaria­mente suficiente para a recuperaçã­o dos angolanos que, por regra, continuam a ser gerados com fome, a nascer com fome e a morrer, pouco depois, com fome. “Pode ser ainda possível reverter o declínio em curso dos elefantes em Angola e conservar essa importante população, se o Governo se compromete­r com uma “protecção activa”, diz Scott Schlossber­g, o primeiro autor do estudo, publicado nesse dia na revista científica PLOS ONE. A sugestão dada ao Governo pode também ser replicada para os humanos: “Pode ser ainda possível reverter o declínio em curso… se o Governo se compromete­r (e cumprir) com uma protecção activa”. “Felizmente, no final de 2015 Angola ainda tinha mais de 3.000 elefantes”, dizem Scott Schlossber­g e os outros autores do es- tudo. Antes da década de 1970 Angola tinha cerca de 70.000 elefantes, uma das maiores populações da África subsaarian­a nessa altura. A guerra, entre 1975 e 2002, não só provocou grande perda de vidas humanas, mas também levou ao abate de elefantes em larga escala. Em 2004/5 a EWB fez uma pesquisa em Angola e encontrou uma “pequena mas aparenteme­nte saudável e crescente população, estimada em 1.800 elefantes”, nas palavras de Curtice Griffin, professor de conservaçã­o do ambiente em Amherst. Uma nova pesquisa foi feita em 2015, através de levantamen­tos aéreos e monitoriza­ções por satélite, tendo sido identifica­dos 3.395 elefantes na província de Cuando Cubango. Os números foram destacados em 2016 pelo governo angolano, que nesse ano dedicou o dia do Ambiente à protecção do elefante e ao combate ao tráfico de marfim. Comparando os dados de uma região específica que já tinha sido estudada em 2005 registou-se um decréscimo de 21% no número de elefantes, disse Schlossber­g. Na área de pesquisa ainda permanecem campos de minas, que afectam seres humanos mas também animais selvagens, elefantes incluídos. Schlossber­g disse que o número de cadáveres de elefantes aumentou muito de 2005 para 2015, explicando que no primeiro estudo não foi visto qualquer cadáver e que em 2015 foram detectadas quatro carcaças por cada 10 elefantes vivos. Os autores do estudo sugerem que a população de elefantes entrou em declínio a partir de 2015 e dizem que o desenvolvi­mento humano generaliza­do no sudoeste de Angola pode estar a limitar a distribuiç­ão de elefantes, que evi- tam áreas a menos de seis quilómetro­s de vestígios humanos, segundo o rastreio por satélite. Os autores salientam que desde 2015 o Governo de Angola tem tomado medidas para proteger os elefantes, nomeadamen­te o combate ao comércio de marfim e a criminaliz­ação da venda da vida selvagem, morta ou viva.

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