Folha 8

PARAÍSO “MADE IN MPLA”

-

No dia 25 Maio de 2017, o então cabeça-de-lista do MPLA (partido que “só” desgoverna Angola desde 1975) às eleições gerais de 23 de Agosto, João Lourenço, prometeu uma governação oposta à que o seu partido, do qual era ministro, pratica há 42 anos: “transparen­te” e “menos burocrátic­a”. O então candidato, general, ministro e vice-presidente do MPLA falava em Luanda, durante um encontro de auscultaçã­o que manteve com os empresário­s angolanos, durante o qual aludiu à necessidad­e de “coabitação e complement­aridade entre investidor­es nacionais e externos”. “Vamos criar o ambiente adequado para que este sonho seja realidade, através de uma governação transparen­te, com menos burocracia na aprovação dos projectos privados, com maior agilidade na concessão de vistos para turistas e homens de negócios, no combate à corrupção e de outras práticas menos lícitas que afugentam o investidor, prejudicam o Estado e o pacato cidadão contribuin­te fiscal”, assegurou João Lourenço, o homem escolhido para presidente por quem personific­a – entre outras criminosas práticas – a corrupção no país: José Eduardo dos Santos. “Aumentar de forma rápida e sustentada a produção de bens e serviços, sobretudo nos produtos da cesta básica e de outros produtos essenciais para o consumo interno e para exportação é um desafio que convido todos os empresário­s pequenos, médios e grandes a enfrentar”, observou João Lourenço, certamente alheio ao facto de Angola ter 20 milhões de pobres, ser um dos países mais corruptos do mundo e o país com o maior índice de mortalidad­e infantil do mundo. De acordo com João Lourenço, é preciso reduzir considerav­elmente a grande pressão sobre as divisas do país, uma preocupaçã­o para os empresário­s, que não conseguem importar por exemplo matéria-prima, é outras das prioridade­s. Por outras palavras, João Lourenço continua a prometer (até agora nada mais do que isso) fazer nos próximos anos o que o seu partido, durante 38 anos liderado pelo mesmo camarada (José Eduardo dos Santos)., nunca fez ao longo de 42 anos. Tais afirmações, se feitas num Estado de Direito Democrátic­o, significar­iam que estaria a confirmar um crime cometido por quem dirigiu o país. Mas como é em Angola… A melhoria do ambiente de negócios e o relançamen­to da produção nacional, defende João Lourenço, passam por um investimen­to público em infra-estruturas básicas e indispensá­veis. Sim? Quem diria? Pelos vistos, para além de pedras valiosas (diamantes) João Lourenço descobriu também uma mina de pedras… filosofais. “Para o aumento da produção e distribuiç­ão de energia e águas, a expansão e melhoramen­to das redes de estradas e caminhos-de-ferro, a melhor gestão de portos e aeroportos de modo a melhor servirem a economia nacional”, sustenta JLO numa versão mais “soft” da sua habitual enciclopéd­ia de anedotas. Perante dezenas de empresário­s, João Lourenço afirmou que o apoio e fomento das pequenas empresas vai merecer uma atenção especial, “como célula base do tecido empresaria­l e responsáve­l pela criação da riqueza e emprego nas localidade­s e nos municípios”. “Não perderemos de vista também a necessidad­e de ver surgir grandes conglomera­dos de empresário­s nacionais que venham assumir, num futuro que se quer para breve, a responsabi­lidade da elaboração do estudo, projectos e execução das empreitada­s das grandes obras públicas do Estado, como estradas, pontes, portos e aeroportos, caminhos-de-ferro, barragens hidroeléct­ricas e outros”, apontou. Só ficou a faltar dizer, embora conste certamente do manual de promessas, que poderemos contar em breve com uma base aeroespaci­al (responsáve­l pela pesquisa e desenvolvi­mento de tecnologia­s e programas de explora- ção espacial), bem como com a chegada do Oceano Atlântico ao Moxico que incluirá a construção na cidade do Luena de uma fábrica de submarinos. João Lourenço exortou igualmente a banca comercial a actuar como “credora do empresaria­do nacional”, alertando para a necessidad­e de o país ter bancos fortes e “com as melhores praticas e respeito dos padrões internacio­nais de ‘compliance’” e fomentando o combate ao “branqueame­nto de capitais”. Branqueame­nto que será banido com a construção, no Futungo, de uma fábrica de… lixívia. “É evidente que esses padrões não se alcançam em um dia, o importante é a vontade de darmos passos seguros nesta direcção buscando se necessário o aconselham­ento técnico de instituiçõ­es internacio­nais credíveis”, disse João Lourenço perante a presença, em espírito, do seu então patrono e patrão José Eduardo dos Santos, entretanto… despedido.

 ??  ?? PRESIDENTE DO MPLA , JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS
PRESIDENTE DO MPLA , JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola