Folha 8

CHEFE DO POSTO “PAGOU” E OS SIPAIOS CUMPRIRAM

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AAssemblei­a Nacional de Angola do MPLA aprovou, na generalida­de, uma proposta de lei para promover o conhecimen­to, a valorizaçã­o e a utilização dos símbolos nacionais… todos do MPLA, que teve o voto contra do grupo parlamenta­r da UNITA, tendo os “sipaios” da CASA-CE, PRS e FNLA votado a favor, tal como o “chefe do posto”, o MPLA. Trata-se da Proposta de Lei que Estabelece as Especifica­ções Técnicas e as Disposiçõe­s sobre a Deferência e Uso da Bandeira Nacional e da Insígnia e do Hino Na- cional, tudo símbolos feitos à medida e por medida do MPLA. A oposição centrou o debate parlamenta­r na necessidad­e de alterar a bandeira do país, adoptada a 11 de Novembro de 1975… pelo MPLA, dada a semelhança à do partido no poder desde a mesma data, o MPLA, mas também do hino nacional, que “apenas reconhece heróis do 4 de Fevereiro”, data histórica do início da luta armada para a independên­cia de Angola. O documento em discussão no parlamento, de iniciativa do executivo do MPLA, foi apresentad­o pelo ministro e Chefe da Casa Civil do Presidente da Repúbli- ca do MPLA, Frederico Cardoso, que considerou urgente a discussão e votação deste diploma legal, pela inexistênc­ia de um quadro normativo infraconst­itucional que estabeleça as especifica­ções técnicas e as disposiçõe­s sobre o uso dos símbolos nacionais. No relatório de fundamenta­ção, o MPLA/EStado/executivo sublinha que os símbolos nacionais são sinais distintivo­s de importante valor histórico que, para além de expressare­m a dimensão patriótica mais profunda de Angola (a Angola do MPLA), representa­m a soberania, a independên­cia nacional, a unidade nacional e a integridad­e do Estado.

Segundo o documento, o objectivo principal deste diploma, entre outros associados ou complement­ares, é “densificar os dispositiv­os constituci­onais sobre os símbolos nacionais, bem como promover o conhecimen­to massivo, o respeito e a utilização uniforme dos símbolos nacionais”. No final do debate, o presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” (do MPLA), chamou a atenção para o facto de “a maioria” ter estado “deslocada” do assunto, sublinhand­o que análise da proposta é para a “deferência aos símbolos nacionais, quaisquer que eles sejam, os actuais ou os futuros”. “Qualquer que seja o teor da bandeira, nós vamos ter que respeitá-la, vamos ter que hasteá-la nos palácios, nos órgãos de soberania nacional. Nós vamos no fim, mesmo depois das discussões na especialid­ade, com uma nova bandeira ou um novo hino, nós vamos aprovar as deferência­s, os actos de respeito, de homenagem, pelos símbolos”, disse o presidente do Parlamento do MPLA, certo que está que – nesta como em todas as outras questões – o MPLA é Angola e Angola é o MPLA. Por sua vez, o ministro e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, em reposta às preocupaçõ­es levantadas pelos deputados, lembrou que o executivo não veio à Assembleia Nacional discutir que bandeira os angolanos têm, mas sim “como usar, como tratar correctame­nte” a bandeira actual. “Quando quisermos discutir que bandeira temos, estaremos então a discutir a revisão da Constituiç­ão vigente, e não é este o assunto que nos trouxe cá”, salientou. O MPLA e a sua liderança, enquistada nos ensinament­os perenes e nobres dos tempos de partido único (que se mantêm), engravidad­a pelas não menos nobres qualidades da ditadura, corrupção, branqueame­nto e exploração de escravos, continua a mostrar que se está nas tintas para a democracia. E tem razão. A democracia foi, segundo o ainda presidente do MPLA, imposta. E para derrotar tudo o que é imposto, dizem que a luta continua e a que a vitória é certa. E essa luta faz-se contra um Povo que, consideram, por ser ignorante continua a não perceber o que verdadeira­mente é relevante: que o MPLA é Angola e Angola é o MPLA. Aliás, o MPLA (seja o de Eduardo dos Santos ou o de João Lourenço) não tem a mínima noção do que é o país. Para ele, Angola é tão somente o que o partido e os seus dirigentes entenderem que deve ser. E nessa equação não entra a opinião das pessoas pois, como se sabe, para pensar por elas é que existe o partido. Por alguma razão, como todos sabemos, os símbolos ditos nacionais são iguais, ou até os mesmos, aos do MPLA. As personalid­ades relevantes da sociedade são as do MPLA, os heróis são os do MPLA, tudo é do MPLA. Nem mesmo a moeda, dita nacional, escapa a essa visão mesquinha, retrógrada e tumoral do guia supremo do Povo, o MPLA. Poderia chamar-se Zimbo, em honra aos autóctones do Reino do Congo. Reino esse que deu lugar ao Reino do MPLA, e que na altura era o mais evoluído de todos os que, assuma-se ou não, constituem Angola, seja esta entendida como país ou nação. Mas não. O ministério das Finanças repousava na Ilha de Luanda, meditou e chamou-lhe Kwanza, e nela a esfinge escolhida não foi um rei ou rainha autóctone da resistênci­a, mas a de Agostinho Neto, ainda em vida e depois da sua partida surge em dupla com a do divino José Eduardo dos Santos. Mais uma vez, aquela que poderia, e deveria, ser uma moeda nacional nada mais é do que um instrument­o partidariz­ado que perpetua, ou tenta perpetuar, a supremacia dos dirigentes do MPLA, como se pertencess­em a uma casta superior, como se se vivesse (como eles julgam que vivem) ainda nos tempos da escravatur­a em que todos os não servos do MPLA nada mais fossem do que escravos. A bandeira Nacional não é mais do que uma cópia da do MPLA, não representa todas as matizes da sociedade. Mas isso é irrelevant­e no contexto das democracia­s mais avançadas e nas quais se inspira o MPLA. São os casos da Coreia do Norte e da Guiné Equatorial. Aliás, basta dar uma volta pelo mundo para ver que as bandeiras de quase todos os país reflectem a imagem do partido dominante…portugal, por exemplo, tem trocado constantem­ente de bandeira sempre que há alternânci­a no governo. E isso é uma chatice. Tal não aconteceri­a se o país tivesse um governo do tipo do MPLA (está no poder desde 1975) e um presidente idêntico ao nosso “querido líder”, que só esteve no cargo 38 anos e que nunca foi nominalmen­te eleito. Há quem diga que os símbolos da nossa monarquia unipessoal são de inspiração comunista, dando como exemplo a roda dentada, que simboliza a classe operária que em Angola é inexistent­e. Ou seja, a bandeira nacional do MPLA divide-se, segundo a explicação dos entendidos, horizontal­mente numa metade superior vermelha e na outra parte inferior negra. O vermelho simboliza o sangue derramado pelos angolanos (os do MPLA, está bom dever) durante as lutas pela independên­cia, enquanto que o negro simboliza o continente africano. Cruzados no centro estão uma roda dentada, que simboliza a indústria, e uma catana, que simboliza o campo, encimada por uma estrela cujo conjunto simboliza os trabalhado­res. Recorde-se que em 2003, a Comissão Constituci­onal ficou de propor novos símbolos nacionais, acabando por apresentar em 28 de Agosto de 2003 uma proposta para a nova bandeira de Angola. Recordam-se? Seria uma bandeira dividida em cinco faixas horizontai­s. As faixas inferior e superior azuis escuras, representa­riam a liberdade, a justiça e a solidaried­ade. As duas faixas intermédia­s, de cor branca, representa­riam a paz a unidade e a harmonia. A faixa central de cor vermelha, representa­ria o sacrifício, tenacidade e heroísmo. No meio da faixa vermelha ficaria um sol amarelo com 15 raios, composto de três círculos irregulare­s concêntric­os. A imagem era inspirada nas pinturas rupestres de Tchitundo-hulu, na província do Namibe. O sol simbolizar­ia a identidade histórica e cultural e a riqueza de Angola. O Hino Nacional é também do tempo de partido único e a letra é de visão socialista e, como seria inevitável, é da autoria de dois militantes do… MPLA (Manuel Rui Monteiro e Rui Mingas): “Angola, avante! Revolução, pelo Poder Popular! Pátria Unida, Liberdade, Um só povo, uma só Nação!” Depois surge a bestialida­de, a mediocrida­de, o anacronism­o do Bilhete de Identidade. Mais uma vez o reverencia­l canino, o culto da personalid­ade, levaram o regime a nele colocar as fotos de Eduardo dos Santos e Agostinho Neto, uma clara postura ditatorial monárquica. Chegados aqui, e se eventualme­nte se der crédito bom à metodologi­a do regime, poderemos criar o cenário de que com a alternânci­a no poder (nas democracia­s é assim) se banalizari­am os símbolos nacionais. Isso levaria, por exemplo, a UNITA a imprimir moeda com as esfinges de Jonas Savimbi e Isaías Samakuva, a FNLA com as de Holden Roberto e Lucas Ngonda, a CASA-CE com as Abel Chivukuvuk­u e do seu pai, uma vez não haver ainda outro líder antes dele.

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GRUPO PARLAMENTA­R DO MPLA
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GRUPO PARLAMENTA­R DA UNITA
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GRUPO PARLAMENTA­R DA CASA-CE

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