Folha 8

CHINA, CHINA, CHINA

Ao fim de 35 anos, Cui Aimin afirma que as relações sino-angolanas estão “no melhor nível na história”, sendo “um exemplo da cooperação de benefícios mútuos e desenvolvi­mento comum entre a China e os países africanos”.

-

Num artigo de opinião publicado no dia 10 de Janeiro deste ano no Jornal de Angola, intitulado “Iniciar Nova Jornada na Parceria Estratégic­a entre a China e Angola”, o embaixador chinês em Luanda, Cui Aimin, recordava os 35 anos das relações entre os dois países, que dispararam, em termos económicos, após o fim da guerra civil, em 2002. Os empréstimo­s chineses, explicava o diplomata, destinaram-se “à construção de inúmeras obras de infra-estrutura como centrais de energia, estradas, pontes, hospitais e casas, incentivan­do o desenvolvi­mento económico e a melhoria da vida do povo de Angola”. “Os resultados da cooperação pragmática entre a China e Angola são frutíferos. Actualment­e, a China é o maior parceiro comercial de Angola, enquanto Angola é o segundo maior parceiro comercial, o maior fornecedor dos petróleos da China em África, um dos maiores mercados ultramarin­os de obras empreitada­s”, assume o embaixador chinês. No mesmo artigo de opinião, o embaixador chinês recorda que no final de 2016 foi realizado em Luanda o Fórum de Investimen­to China-Angola, que resultou na celebração de 48 acordos de intenção de investimen­to, no valor total de 1.200 milhões de dólares (1.000 milhões de euros). “Têm-se aperfeiçoa­do também os mecanismos de cooperação, inclusive, a Comissão Orientador­a da Cooperação Económica e Comercial entre a China e Angola. Com a finalidade de apoiar a capacitaçã­o de quadros angolanos, a parte chinesa forneceu a formação a mais de 2.500 funcionári­os angolanos em diversas áreas, assim como 300 bolsas de estudo”, enfatiza o diplomata. A China enviou ainda, desde 2009, quatro equipas médicas, compostas por mais de 60 médicos, que fizeram 200 mil consultas grátis para cidadãos angolanos no Hospital Geral de Luanda. Este hospital, acrescento­u, foi “doado pelo Governo chinês e ainda é a melhor unidade sanitária integrada em Angola até ao momento”. Ao fim de 35 anos, Cui Aimin afirma que as relações sino-angolanas estão “no melhor nível na história”, sendo “um exemplo da cooperação de benefícios mútuos e desenvolvi­mento comum entre a China e os países africanos”. “As relações políticas entre a China e Angola vêm-se intensific­ando. As duas partes sempre mantiveram, de visão estratégic­a e de longo prazo, o rumo certo no desenvolvi­mento das relações sino-angolanas, reforçando a confiança política mútua, apoiando-se uma à outra na escolha do caminho de desenvolvi­mento, de for- ma auto-determinan­te, e que correspond­e às próprias realidades, compreende­ndo e apoiando-se reciprocam­ente nas questões dos respectivo­s interesses nucleares e grandes preocupaçõ­es”, enfatizou. Entre as nações africanas mais beneficiad­as pelos empréstimo­s chineses surgem ainda o Sudão, Gana e Etiópia. A maioria dos principais receptores são países ricos em recursos naturais – incluindo petróleo, diamantes e ouro – e muita da ajuda chinesa serve para tornar essa riqueza acessível para exportarPa­ís mais populoso do mundo, com cerca de 1.379 milhões de habitantes, a China registou nas últimas três décadas

um ritmo médio de cresciment­o económico de 10% ao ano, transforma­ndo-se no maior consumidor de quase todo o tipo de matérias-primas. A China Aid revela ainda que muito do dinheiro chinês é investido nas cidades de origem dos chefes de Estado dos respectivo­s países, ou em regiões habitadas pelo grupo étnico do líder político. Ainda assim, rejeita que Pequim tenha uma estratégia focada em tirar partido do clientelis­mo político no continente, atribuindo aquela tendência à competição por influência entre diferentes agentes do Governo chinês. Criada em 1912, o Banco da China funcionou até 1949 como banco central chinês. Após várias transforma­ções, ainda nas mãos do Estado mas já como banco comercial, tem vindo a concentrar atenções no apoio às empresas e comunidade­s chinesas fora do país, com destaque para as economias emergentes. Recorde-se que a Economist Intelligen­ce Unit (EIU) considera que o aprofundam­ento das relações económicas entre Angola e China é mutuamente positiva, mas é dificultad­a pelos altos custos de fazer negócios e pelo abrandamen­to chinês. “Ambos os países gostam de falar muito da sua relação mutuamente vantajosa, e ambos certamente têm algo a ganhar se avançarem para além do tradiciona­l modelo de crédito estatal, mas estas boas intenções devem primeiro superar as dificuldad­es e os altos custos de fazer negócios em Angola, e podem ser abrandadas pelo próprio abrandamen­to económico da China”, escreve a EIU. “Angola está a aprofundar a sua relação económica com a China, esperando ir além do tradiciona­l modelo estatal de linhas de crédito pagas em petróleo, para uma abordagem mais diversific­ada e liderada pelo sector privado”, escrevem os analistas da EIU numa nota enviada aos investidor­es. “O investimen­to privado estrangeir­o é urgentemen­te necessário em Angola, a lutar contra os preços baixos do petróleo, a sua maior exportação e fonte de receitas”, escreve a EIU, acrescenta­ndo que “as empresas chinesas têm a capacidade de fornecer dinheiro e ‘know-how’ para ajudar o país a desenvolve­r sectores não petrolífer­os, como a agricultur­a e a manufactur­ação, e criar os tão necessário­s empregos”. As diferenças culturais, no entanto, “precisam de ser geridas para evitar que os novos actores e a concorrênc­ia aumentem as tensões sociais”, acrescenta­m os analistas. Apesar de o sistema de pagar em petróleo os empréstimo­s chineses que são usados na reconstruç­ão do país ter resultado bem para Angola, o modelo está a tornar-se mais difícil para o país. “Com os preços do petróleo fortemente pressionad­os, o volume de crude que Angola tem de enviar para a China para cumprir as obrigações financeira­s cresceu considerav­elmente”, escreve a EIU, concluindo que “isto significa que Angola tem menos crude para vender noutros locais, aumentando as dificuldad­es de receita do Governo e provocando críticas renovadas da oposição sobre os contornos das linhas de crédito chinesas”.

 ??  ?? O EMBAIXADOR CHINÊS EM LUANDA, CUI AIMIN
O EMBAIXADOR CHINÊS EM LUANDA, CUI AIMIN
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola