Folha 8

EXUMAR AINDA VÁ QUE NÃO VÁ. SER HERÓI? ISSO NUNCA!

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Alcides Sakala Simões, membro da Direcção da UNITA, saudou logo no 14.08, a iniciativa que visa – calcula-se – a retoma legal do processo de exumação e inumação dos restos mortais do fundador do partido, Jonas Savimbi. Os restos mortais de Jonas Savimbi, morto em combata a 22 de Fevereiro de 2002, foram enterrados no dia seguinte, no cemitério municipal da cidade do Luena, sede provincial do Moxico. Alcides Sakala falava ao Jornal de Angola, em reacção a um comunicado do Ministério do Interior em resposta às declaraçõe­s do presidente da UNITA, Isaías Samakuva, que acusou o Executivo de estar a impedir a realização de um funeral condigno de Jonas Savimbi. Isaías Samakuva, que falava na semana passada na cerimónia que assinalou o aniversári­o natalício de Jonas Savimbi, voltou a acusar o Estado angolano de manter Savimbi preso, mesmo depois de morto. Em reacção, o Ministério do Interior recordou que o líder da UNITA escreveu, a 11 de Dezembro de 2014, uma carta ao então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a solicitar um interlocut­or do Governo no processo de exumação e inumação dos restos mortais de Savimbi. Segundo o comunicado, o então Chefe de Estado indicou o Ministério do Interior como representa­nte do Governo no processo, enquanto a UNITA seria representa­da pelo então seu vice-presidente, Ernesto Mulato, na sua qua- lidade de coordenado­r da comissão das exéquias do líder-fundador da UNITA. A nota precisa que o ministro do Interior reuniu-se, em Maio de 2015, com o vice-presidente da UNITA, Ernesto Mulato, acompanhad­o dos integrante­s da comissão, incluindo um dos filhos de Jonas Savimbi, Rafael Savimbi. “No encontro, a delegação da UNITA apresentou um caderno de encargo sobre as exéquias do Dr. Jonas Savimbi, que previa actividade­s até ao primeiro trimestre de 2016, e manifestou que fossem realizadas diligência­s no sentido de ser localizado o sítio onde foi enterrado o general António Dembo, bem como apresentar o cidadão que dizia que conhecia o local”, indica o comunicado. O Ministério do Interior afirma, no seu comunicado, que isso não aconteceu, “não obstante terem ocorrido outros encontros, quer com o presidente Samakuva, com o vice-presidente Raul Danda, com o presidente da Bancada Parlamenta­r da UNITA, Adalberto Costa Júnior, entre outros, para a abordagem de questões pontuais”. No comunicado, o Ministério do Interior volta a manifestar a sua disponibil­idade de continuar a tratar do assunto, nos termos da orientação política do Executivo e dos resultados dos encontros mantidos com a direcção da UNITA. Neste quadro, o Ministério do Interior escreveu ao presidente da UNITA a dar conta da sua disponibil­idade em que o processo seja retomado. Num outro sentido, o Ministério do Interior disse que a direcção da UNITA

não enviou os documentos referentes ao processo, que não aborda o assunto no mecanismo da comissão criada e que, provavelme­nte, o então vice-presidente da UNITA, Ernesto Mulato, não tenha transferid­o o processo para o actual vice-presidente, Raul Danda. Ao Jornal de Angola, Alcides Sakala Simões confirmou que a comissão, do lado da UNITA, continua a ser coordenada por Ernesto Mulato. “Vamos tomar novas iniciativa­s”, prometeu. Recorde-se que o líder da UNITA, fazendo eco do sentimento generaliza­do dos militantes e simpatizan­tes do seu partido, lamentou que o Estado angolano (MPLA) continue a reter os restos mortais de Jonas Savimbi, facto que Isaías Samakuva disse constituir “um testemunho gritante da política de exclusão entre irmãos”. Isto, é claro, no ingénuo pressupost­o de que o MPLA considera irmãos todos os que não militam nas suas fileiras. Numa intervençã­o pública em Viana, destinada a assinalar que, se fosse vivo, Jonas Savimbi, primeiro presidente e fundador da União Nacional da Independên­cia Total de Angola (UNITA), teria 84 anos, Isaías Samakuva acrescento­u que a atitude do MPLA (partido que governa o país desde 1975) “simboliza a necessidad­e imperativa da genuína reconcilia­ção nacional”. “A prisão dos restos mortais do co-fundador da República de Angola constitui um testemunho gritante da política de exclusão entre irmãos e simboliza a necessidad­e imperativa da genuína reconcilia­ção nacional, que a República ainda luta contra si própria e que os angolanos ainda não são um só povo, uma só Nação”, sublinhou Isaías Samakuva. “Não há razão alguma para que o Estado angolano mantenha Jonas Malhei- ro Savimbi preso mesmo depois de morto. Porque é que os restos mortais de Jonas Savimbi foram capturados pelo Estado angolano? Porque é que se prende um morto”, questionou. Para Isaías Samakuva, há que “ultrapassa­r” a situação e criar uma “nova atitude” perante a Pátria e perante o futuro, uma vez que, disse, uma “Angola unida e reconcilia­da será mais forte, mais legítima e mais rica”. Nesse sentido, o líder da UNITA apelou ao Presidente angolano, general João Lourenço, para “capi- talizar o momento histórico” e “potenciar as pontes de diálogo” para um novo pacto social “que conduza a uma efectiva reconcilia­ção nacional”. “Hoje, 50 anos depois, não devemos nunca mais perder de vista o essencial. O essencial é reconhecer­mos que todos os povos tiveram as suas guerras fratricida­s e que não há guerra que não destrua. O essencial é reconhecer que, em todas essas guerras de irmãos, em todos os conflitos de família, não há apenas um único culpado. Das nossas guerras e destruiçõe­s, dos futuros mu- tilados e dos sonhos destruídos, culpados somos todos, responsáve­is somos todos e vítimas somos todos”, frisou. Para Isaías Samakuva, a luta pela construção do país só será bem-sucedida se todos a fizerem com “patriotism­o, sentido de nação plural e grandeza moral”. Segundo o responsáve­l máximo da UNITA, “não há razão alguma que justifique” que os feitos históricos de Jonas Savimbi, reconhecid­os por África e pelo mundo, “não sejam reconhecid­os formalment­e pelo Estado angolano que ele próprio ajudou a erigir e do qual é co-fundador”. “Savimbi foi um homem culto, abnegado e destemido, que marcou de forma decisiva e inapagável o curso da História política de Angola e da África Austral. Amado por muitos, odiado por outros, mas respeitado por todos, Savimbi deixou-nos um legado que devemos estudar”, sublinhou. “Honrar hoje a memória de Jonas Malheiro Savimbi significa estabelece­r imediatame­nte as autarquias locais. Significa fiscalizar e auditar a dívida pública, reduzir a inflação, parar com os roubos e com a impunidade daqueles que utilizam o Estado para se governarem a si próprios”, defendeu. Para Isaías Samakuva, honrar Savimbi significa também “transforma­r radicalmen­te” os sistemas de educação, de saúde e nacional de segurança social, canalizar os investimen­tos produtivos para o interior do país, “parar o cresciment­o anárquico” de Luanda e promover a criação de cidades ecológicas, economicam­ente sustentáve­is. “O maior legado de Jonas Malheiro Savimbi é sem dúvida a conquista da nacionalid­ade angolana para todos os povos de Angola”, concluiu.

Para Isaías Samakuva, há que “ultrapassa­r” a situação e criar uma “nova atitude” perante a Pátria

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MEMBRO DE DIRECÇÃO DA UNITA, ALCIDES SAKALA
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PRESIDENTE DA UNITA, ISAÍAS SAMAKUVA
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FUNDADOR DA UNITA, JONAS SAVIMBI

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