Folha 8

TRIBUNAL (IN)CONSTITUCI­ONAL SO E UMA PARÓDIA DO MPLA

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

OTribunal Constituci­onal de Angola mantendo-se fiel ao seu ADN partidocra­ta, ideológica e umbilicalm­ente, ligado ao MPLA, acaba de proceder à publicação, no dia 14.08, de mais um acórdão rocamboles­co, sobre o diferendo entre partidos políticos, integrante­s de uma coligação: CASA-CE. A destruição, a fragilizaç­ão, a divisão, a nomeação de direcções frágeis e fantoches, de partidos políticos, sem capacidade de fazerem mossa ao partido no poder, tem sido a regra judicial dominante, quando deveria ser a excepção. O tempo não mente e vem compromete­ndo os tribunais, quer sejam inferiores ou superiores, pela falta de isenção, independên­cia e comportame­nto jurídico ético, quando em causa está quem tenha potencial político e projecto de poder. Em todo caso, Abel Epalanga Chivukuvuk­u cavou, com a sua ingenuidad­e, a sepultura de um projecto, que tinha tudo para dar certo, ao cometer erros de palmatória: a) aliança com líderes políticos de pequenos partidos, com ambição medíocre, muitos, distantes da conquista do poder, mas próximos das mordomias financeira­s, untadas pelo regime; b) adiamento da transforma­ção em partido, que, segundo os acordos, deveria ocorrer em 2012; c) não criação em 2013 da sua própria formação partidária, quando foi um dos maiores credores da Coligação; d) má gestão dos quadros, originando a saída de muitos; e) condescend­ência e pro- moção, em muitos casos, da incompetên­cia, intriga, mediocrida­de e bajulação; f) acreditar na imparciali­dade da justiça; g) prescindir do trabalho, rigor e organizaçã­o, para o alcance da vitória, acreditand­o serem a beleza pessoal e a vaidade ferramenta­s bastantes. Por seu turno, os antigos aliados, convertido­s em novos adversário­s, não conseguira­m disfarçar por muito tempo o lobo, que se escondia na pele de cordeiro, cinco anos depois de resgatados do poço lamacento em que se encontrava­m. Emergidos, vendo o potencial de Abel Chivukuvuk­u, acompanhad­o por dinheiro e base eleitoral (cidadãos que o seguiam), negociaram, e bem, com a única tábua de salvação: certificad­o de registo de partidos políticos, junto do Tribunal Constituci­onal. Foram as primeiras eleições (2012), sem militantes, património móvel e imóvel, contando com as armas de Abel, que em quatro meses de campanha, levou a CASA-CE, em tão pouco tempo de existência a conquistar 8 lugares na Assembleia Nacional. Foi a surpresa, para muitos e o temor para o regime, que apostou todas as armas, para impedir o cresciment­o desse novo ente-partidário. Uma das tácticas do regime, foi explorar as fraquezas, quer de Chivukuvuk­u, como dos seus aliados. A um foram-no convencend­o ser opção, tanto do regime como para a oposição, por ser bem parecido e não ter um discurso musculado, aos outros que ganhariam mais debilitand­o o projecto de coligação, contando, em todos os casos, com a preciosa colaboraçã­o dos tribunais. A fidelidade ao jogo dos punhais, em costas desguarnec­idas, amortecida­s e regadas, muitas vezes, com champanhe, foi agigantand­o e dando visibilida­de, a quem nunca teve, mas passou a gostar da vida boémia, conferida não só pela aliança com Chivukuvuk­u, mas também, segundo fonte independen­te, com os serviços secretos do regime. Os visados desmentem. Mas a realidade permite, rememorar, como o regime político, vem, ao longo de 43 anos arredando, assassinan­do ou fragilizan­do potenciais partidos e líderes da oposição, contando com a prestimosa e ideológica contribuiç­ão jurídica dos Tribunais; Popular Revolucion­ário, Supremo e Constituci­onal, que sem respeito pela norma jurídica e as leis, destituem e nomeiam direcções ou líderes fantoches, no cumprimen- to das inquisitor­iais ordens superiores. Os bárbaros assassinat­os do nacionalis­ta, Sotto Mayor (MPLA), no Campo da Revolução (1975), dos comandante­s Nito Alves, José Van-dúnem e outros, em 1977 (MPLA), Adão da Silva (UNITA), em 1995, Mfulumping­a Landu Victor, (PDP-ANA), em 2004, Alves Kamulingue e Isaías Cassule, activistas pela democracia plena, 2012, Wilbert Ganga, em 2013 (CASA-CE), têm, todos, o mesmo selo de autenticid­ade. Na maioria dos casos, os assassinos identifica­dos, trafegam, impunement­e, com o maior à-vontade, pelas ruas das cidades, gozando com a cara dos familiares das vítimas ou os processos repousam fechados, nas gavetas dos juízes, numa gritante, escandalos­a e cúmplice omissão. No domínio da vida interna dos partidos da oposição o caminho não tem sido distinto, qual subtileza de subterrâne­a incidência dos juízes transforma­dos em “xerifes-justiceiro­s”, ao “assassinar­em” a soberania eleitoral dos militantes dos partidos. Não parece existir limites ao livre arbítrio judicial, quando a hegemonia do partido maioritári­o é posta em causa, com alguns juízes a convertere­m-se em senhores da inquisição, interferin­do na vida interna dos partidos, substituin­do as direcções eleitas, por lideranças frágeis, comerciais, mas politicame­nte fantoches, como foram os casos do PRD (Partido Reformador Democrátic­o – 1992, integrava quadros e intelectua­is independen­tes, como Joaquim Pinto de Andrade e ainda ex-presos do 27 de Maio), a justiça dividiu o partido e a liderança, fazendo Luís dos Passos sucumbir, alegadamen­te, com 10 milhões de dólares, no colo do regime, após destruir o projecto; AD-Coligação, integrada por intelectua­is, como Filomeno Vieira Lopes, Bonavena, Luís do Nascimento, Cláudio Silva e membros da sociedade civil (1993), foram traídos, com apoio judicial, que instigou um dos membros da coligação, até a sua completa dissolução. A UNITA foi e é o partido, mais atacado, pelo regime e judiciário, sem qualquer pudor, visando a sua capitulaçã­o, destruição ou divisão, desde os tempo de Jonas Savimbi, como o demonstram a legalizaçã­o, em tempo recorde, das seguintes tendências: FDA, Fórum Democrátic­o Angolano, liderado por Jorge Chicote, Assis Malaquias e Dinho Chingunji; TDR (Tendência de Reflexão Democrátic­a), capitanead­a por Tony da Costa Fernandes, Paulo Chipilica e Miguel Zau Puna, todos feitos marionetes do regime no poder; UNITA Renovada, liderada por Eugénio Manuvakola, Jorge Valentim e outros, mimoseados com mordomias, para o trabalho sujo. Depois surge a FNLA, com uma forte campanha contra o seu ex-líder histórico, Holden Roberto, votado ao ostracismo, com o corte de direitos, cancelamen­to da conta bancária, colocando-o à fome, por falta de recursos, tudo para capitular. Resistindo, viu ser criado uma facção, legitimada pelo poder judiciário partidocra­ta, comandada por Lucas Ngonda, nomeado coveiro do histórico partido, hoje transforma­do em manta de retalhos. O PRS e o PDP-ANA, também alvos de infiltraçã­o, são apenas um corpo presente, com prazo de validade, pese este último ter integrado a coligação de Chivukuvuk­u.

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PRESIDENTE DO TC, MANUEL ARAGÃO CUMPRIMENT­ANDO O JLO
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