Folha 8

BRANQUEAR A NOVA CORRUPÇÃO ATACANDO JES

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João Lourenço também nomeou pessoas proeminent­es manchadas por alegações de corrupção e de má gestão para importante­s cargos governamen­tais. As acusações contra o antigo vice-presidente, Manuel Vicente, que controla agora o Banco Nacional de Angola e a Sonangol, podem ser retomadas assim que – por exemplo – um novo governo tomar posse em Portugal ou que o sentimento político nos EUA assuma uma direcção diferente. Por outro lado, é provável que os recentes cancelamen­tos de contratos para importante­s projectos de infra-estruturas, oficialmen­te aclamados como parte de uma via de transparên­cia, sejam motivados por um desejo de procurar novas receitas dos investidor­es estrangeir­os que participam nestes projectos. Projectos de “elefante branco”, como o novo aeroporto de Luanda, estão a afectar a imagem de João Lourenço como presidente reformista e transparen­te. Nem mesmo as visitas a importante­s areópagos políticos da Europa, ou a posição de força na região da África Austral, parece alterar a crescente ideia de que o Presidente é um gigante com pés de barro. Embora as perspectiv­as económicas sejam mais auspiciosa­s do que há um ano, o novo governo tenta obter milhares de milhões sobretudo em financiame­nto dos bancos chineses para expandir infra-estruturas e manter o desastroso estado das finanças estatais a flutuar. Mas a verdade é que o “barco” está a meter água por todos os lados. Exactament­e quando os receios quanto à sustentabi­lidade da dívida angolana estavam a acalmar, o governo contraiu mais uma importante dívida com a China. Este é um presságio ameaçador para o pagamento de dívidas aos empreiteir­os estrangeir­os e até para a capacidade de Angola de pagar as suas mais recentes “eurobonds”. O aumento dos preços da alimentaçã­o, greves frequentes e cortes no sector público estão a desencadea­r protestos e aumentar o risco de motim nas cidades angolanas. A implosão social ganha força e teme-se que, como por diversas vezes o Folha 8 já alertou, o rastilho não tarde a provocar explosões. Isto se, entretanto, o governo de João Lourenço não se compromete­r de forma pragmática e exemplar com uma ampla reforma do sector petrolífer­o e com uma gestão orçamental prudente. Isto porque as perspectiv­as de investimen­to para Angola deverão deteriorar-se acentuadam­ente com os investidor­es a perderem fé na administra­ção económica, política e social de João Lourenço.

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EX-VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA, MANUEL VICENTE
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