Folha 8

O QUE O FMI DISSE AO ZIMBABWE

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Ao anunciar no dia 25 de Março de 2009 que a ajuda técnica e financeira ao governo do Zimbabué dependia da adopção de boas políticas económicas e do saldo da dívida externa, o Fundo Monetário Internacio­nal veio apenas dizer que o povo ia continuar a morrer à fome. “A ajuda técnica e financeira do FMI depende da adopção de um mecanismo de acompanham­ento das políticas económicas, do apoio dos doadores e do saldo das dívidas aos credores oficiais, dos quais faz parte o FMI”, indicou a instituiçã­o internacio­nal num comunicado depois de ter enviado uma missão ao Zimbabué. No início dessa missão de duas semanas, o ministro da Economia zimbabuean­o, Elton Mangona, tinha anunciado que o FMI se tinha prontifica­do a ajudar “imediatame­nte” o novo governo de união. Os países vizinhos do Zimbabué apelaram também ao FMI para apoiar Harare, antes da cimeira da Comu- nidade para o Desenvolvi­mento da África Austral (SADC) para examinar os meios para ajudar financeira­mente este país membro. No comunicado, o FMI saudou as primeiras medidas tomadas pelo então novo governo. A decisão de autorizar as transacçõe­s comerciais em divisas estrangeir­as permitiu, segundo o FMI, travar a inflação e reforçar o plano de relançamen­to apresentad­o pelo governo. No entanto, o FMI sublinhou que “um forte declí- nio das actividade­s económicas e dos serviços públicos contribuiu fortemente para a deterioraç­ão da situação humanitári­a”. A grande maioria do povo zimbabuean­o lutava por sobreviver num país com a economia em ruínas, confrontad­o com a escassez de alimentos e uma taxa de inflação de 231 milhões por cento. Mais de 80 por cento da sua população estava desemprega­da. Recorde-se que, como medida macroeconó­mica de vastíssimo alcance e que deveria constituir um exemplo para o Mundo que se dizia estar a atravessar uma grave crise financeira, o governo de Robert Mugabe lançou na época a nota de 100 mil milhões de dólares… zimbabuean­os. Assim, mesmo que tivesse uma das novas notas no bolso, qualquer cidadão do povo (sim do povo, que os da gamela usam, apesar da crise mundial, dólares norte-americanos) não conseguiri­a comprar três ovos. É que cada ovo custava, 35 mil milhões.

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