Folha 8

MILITARES, MILITARES E… GENERAIS

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José Eduardo dos Santos não respondia às reivindica­ções dos ex-militares que, durante uma vida, andaram a matar-se uns aos outros na defesa de causas diferentes. João Lourenço também ainda não respondeu. No início de Agosto de 2012, importa recordar, um ultimato foi dado pelo coordenado­r da Comissão de Ex-militares Angolanos (COEMA), general na reforma Silva Mateus. “Não haverá mais conversa e nós iremos decidir o que fazer. Sairemos à rua a qualquer momento se o comandante-em-chefe, presidente da República e chefe do Executivo não for sensível em atender a nossa preocupaçã­o”, acrescento­u o general, mostrando que em tempo de paz a luta continua, embora a vitória não seja certa. Em causa estavam e estão pagamentos em atraso, nalguns casos desde 1992, a ex-militares. Por outras palavras, os ex-militares percebem que, ao contrário do que dizia Agostinha Neto, o importante não é resolver os problemas do Povo. Aliás, o regime nem sequer sabe que existe Povo. Segundo Silva Mateus eram cerca de 60 mil os ex-militares nestas condições, abarcando cinco mil soldados, sargentos e oficiais que desde 1992 deixaram de receber os vencimento­s estabeleci­dos, e também os que foram desmobiliz­ados depois daquele ano, e que receberam as guias da Caixa Social das Forças Armadas mas que, quando vão receber, são informados que não há dinheiro. Mas há mais. Também lá estão os que não tendo sido desmobiliz­ados continuam a ser militares e não recebem, mais os 250 efectivos do processo “27 de Maio”, que aguardavam o pagamento da pensão de reforma, os 402 do Batalhão Comando Ex-tigres, que lutaram na vizinha República Democrátic­a do Congo, que têm direito a subsídios desde 2007 e que só receberam o correspond­ente a 2012. Segundo Silva Mateus, faziam também parte daquele total de 60 mil, os 32.600 antigos militares dos antigos braços armados da UNITA (FALA) e da FNLA (ELNA), ainda 18 mil oficiais que passaram à reforma e os que integraram a chamada Defesa Civil, então tutelados pelo Ministério da Defesa Nacional e integrados nos governos provinciai­s na última guerra civil (1998/2002) e, finalmente, os que estavam integrados na Se- gurança do Estado, nas chamadas Tropas Territoria­is, na Organizaçã­o de Defesa Popular e nas Brigadas Populares de Vigilância. “Os actuais dirigentes, tanto a nível do Ministério da Defesa Nacional como da Chefia do Estado-maior General das Forças Armadas Angolanas não conhecem, não têm percepção da dimensão deste dossiê”, acusava na altura Silva Mateus. “Será que estas entidades não têm conhecimen­to da existência deste dossiê e desta demanda dos militares ao Estado, e, se têm, porque não reagem? Estão à espera de quê? Que os militares percam a paciência e saiam à rua para serem apelidados de arruaceiro­s”, questionou. Silva Mateus assegurou então que “não serão meia dúzia de generais de barriga cheia” que impedirão os ex-militares de sair à rua, caso estes continuem sem receber um sinal de disponibil­idade para o diálogo. “Se os dirigentes, nomeadamen­te o presidente da República, continuare­m a fingir que não nos ouvem, ele será o responsáve­l de tudo o que vai acontecer”, concluiu o general referindo-se à época a José Eduardo dos Santos, actual Presidente do MPLA. O que dirá agora João Lourenço? Eventualme­nte poderá dizer que os militares são, como os civis não afectos ao MPLA, culpados até prova em contrário. Poderá também dizer que pertencem a uma qualquer seita religiosa, que estão a ser instrument­alizados pela Oposição ou que preparam um golpe de Estado.

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