Folha 8

O PARADOXO ANGOLANO

- TEXTO DE BRANDÃO DE PINHO

Há um paradoxo muito curioso em África, Mediterrân­eo e Crescente Fértil como os cientistas denominam aquela zona que vai do Egipto até ao Iraque e Irão. O homem nasceu na África e sabe-se que pelo menos pela via maternal todos os homens têm uma mãe comum, a Eva Genética. Daqui colonizara­m todo o mundo. Mas a sedentarie­dade só se deu no Crescente Fértil. O homem aprendera a domar a natureza e deixar de ser um nómada. Creio que quando parou de pen- sar no que haveria de dar de comer aos filhos nesse dia, ou nessa semana, canalizou as energias para a organizaçã­o gradual de civilizaçõ­es cada vez mais complexas. Mais tarde, gregos, romanos e porque não os fenícios e cartagines­es afinaram a civilizaçã­o com pequenos detalhes que o grau de organizaçã­o e conhecimen­tos absorvidos de outras culturas e a invenção da escrita permitiram preservar o que proporcion­ou a alguns dos seus cidadãos a ter quem trabalhass­e por eles e com o ócio, o tempo livre e possibilid­ade de falarem de coisas fúteis e aparen- temente não essenciais, atingiram o auge com a cultura greco-romana, sofisticad­a e moderna que foi tão grande que quando desabou deu origem às trevas medievas. Mas apesar disto tudo, na actualidad­e o grau de desenvolvi­mento destes 3 blocos é inversamen­te proporcion­al à sua importânci­a na génese do que somos hoje, mesmo que os recursos sejam tantos que pela lógica, sobretudo África, deveria ser o paraíso. Mas não é isso que acontece na África sub-sariana (nem na sobre-sariana se me permitem o neologismo) se excluirmos a RSA, e, as desculpas que serviam perfeitame­nte para justificar o atraso, imputadas aos europeus, depois às duas potências no tempo da Guerra Fria e recentemen­te aos chineses, começam a cheirar a mofo e quem quiser ser honesto intelectua­lmente pode concluir que se vê aprisionad­o num sistema em que a corrupção e o nepotismo impede, foquemo-nos em Angola, que a democracia, o esforço, o mérito determine que os melhores ascendam aos cargos que poderiam mudar o país, com regras bem definidas e instituiçõ­es fortes e independen­tes. Um exercício possível se analisarmo­s a China de Mao até à China de hoje. Os homens são todos iguais. Têm todos as mesmas capacidade­s e faculdades. Os mesmos desejos de subir na vida e proporcion­ar o melhor aos seus filhos. Neste caso não há nenhuma diferença entre branquíssi­mo, branco, amarelo, vermelho, castanho ou preto. Então só podemos chegar a uma conclusão. É necessário que se invista na Educação e Formação dos angolanos, num exercício de poder verdadeira­mente patriótico, com o compromiss­o de toda a população remar sincroniza­damente para a frente neste mar re-

voltoso em que se tornou o mundo e que se copie as democracia­s ocidentais, pois à falta de melhor resultam, pois já concluímos que somos todos iguais, logo os mesmos modelos devem ser aplicados. É necessário dar condições aos quadros estrangeir­os de qualidade que sobejam no espaço lusófono e aprendermo­s com eles e mudar as coisas radicalmen­te, sem deixar de investir nas escolas, pré-escolas, universida­des e em todos os canais de fazer chegar aos jovens, por todos os meios, a capacidade de pensar e agir por eles próprios antes que esta era de tecnologia os destrua como vem acontecend­o na Europa. Só há duas formas de se fazer isso: através de uma revolução sangrenta e impiedosa, ou através da mão firme de um governante cujo imperativo patriótico seja suficiente­mente forte e corajoso para resistir à imensa clientela formada pela corte imensa e pequena nobreza que gravita ao redor do poder que colhem migalhas, umas grandes outras menores, e que não abdicará do seu “status quo” confortáve­l e privilegia­do de ânimo leve e sem resistênci­a. Será João Lourenço o D. Sebastião por quem Angola vem esperando? Terá ele força e coragem? Ninguém saberá mas eu intuo que tem vontade, inteligênc­ia e patriotism­o para levar tão hercúleos trabalhos para a frente. Em 100 dias já fez um trabalho mas ainda faltam 11. Se quiser que o seu nome seja colocado no mesmo panteão de Mandela e da lei da morte se libertar como dizia Camões, ainda tem muita coisa para fazer. Que tenha força e saúde porque esta pode ser a última oportunida­de para Angola.

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AUTOR DO TEXTO, BRANDÃO DE PINHO
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