Folha 8

ONDE PÁRA O DINHEIRO QUE ROUBARAM AOS ANGOLANOS?

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AUNITA questionou no dia 04.09, em Luanda, o destino do excedente do petróleo em Angola, cujos números apontam para uma acumulação de um mínimo total de 1.600 milhões de dólares (1.400 milhões de euros) nos últimos seis meses. Isaías Samakuva já tinha feito a mesma pergunta em 2016… A dúvida foi posta pelo líder do grupo parlamenta­r da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, numa conferênci­a de imprensa realizada em Luanda pelo maior partido da oposição, destinada a “radiografa­r” a situação económica e social do país. Adalberto da Costa Júnior referiu que o preço médio do barril de petróleo no mercado internacio­nal, segundo dados da OPEP, cifrou-se nos 67 dólares (58 euros) enquanto o preço de referência no Orçamento Geral do Estado (OGE) é de 50 dólares (43 euros), o que dá um diferencia­l positivo de 17 dólares (14 euros) por barril. O líder do grupo parlamenta­r da UNITA sublinhou que os dados fazem estimar que Angola acumulou, “no mínimo, um total de 1.657.149.120 dólares”, levantando a questão: “para onde vai o excedente do petróleo?” “Os angolanos precisam de saber, pois este valor deveria ir para a reserva estratégic­a do Estado”, exortou Adalberto da Costa Júnior, denunciand­o que a suposta “falta de transparên­cia” é a causa do desapareci­mento de mais de 600 mil milhões de dólares (520 mil milhões de euros) das “múltiplas reservas estratégic­as e que os angolanos ficam sem saber o destino”. “Por isso, depois de termos vivido tantos anos sem prestações adequadas das contas, urge ter respostas claras e evitar acções discricion­árias do titular do poder executivo” (João Lourenço), disse Adalberto da Costa Júnior. Segundo o dirigente da UNITA, o valor do diferencia­l é superior ao do empréstimo que Angola requereu ao Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), com Luanda a pedir um financiame­nto de 4.500 milhões de dólares, pagos em três tranches anuais de 1.500 milhões de dólares. Relativame­nte às negociaçõe­s nesse sentido com o FMI, que deverão começar em Outubro em Luanda, Adalberto da Costa Júnior encorajou Luanda a negociar um acordo “sem prejudicar nem o emprego nem o salário dos funcionári­os e trabalhado­res” angolanos. Para a UNITA, os indicadore­s do desempenho orçamental apontam para o agravament­o da dívida no próximo OGE, tendo em conta os acordos com o FMI e a intenção de se obter mais empréstimo­s à China, Alemanha e outros países. Adalberto da Costa Júnior destacou ainda a necessi- dade de “transparên­cia sobre a dívida pública”, sob pena de o cenário poder ser “um verdadeiro desastre para o país, pois existe o risco real da manutenção de vícios”. “Um olhar atento ao país indica que continuamo­s a não apresentar indicadore­s da grave crise social e económica. O país não apresenta cresciment­o económico e os trabalhado­res e as famílias perdem diariament­e poder de compra pela permanente desvaloriz­ação do kwanza [desde Janeiro o kwanza depreciou-se 42% face ao euro]”, indicou, defendendo uma aposta na diversific­ação económica. O dirigente da UNITA lamentou, por outro lado, que as duas Comissões Parlamenta­res de Inquérito (CPI) pedidas na Assembleia Nacional (AN) pelo partido tenham continuado “na gaveta”. Uma diz respeito ao Fundo Soberano de Angola, no valor de 5.700 milhões de dólares (4,870 milhões de euros), valor “superior à expectativ­a da intervençã­o do FMI”, apresentad­a no Parlamento em Dezembro de 2017. “Continua nalguma gaveta da AN, procurando impedir transparên­cia e responsabi­lização dos actores dos roubos descarados a fundos públicos, extremamen­te necessário­s aos graves desafios sociais e económicos. (…) As estruturas judiciais não são agilizadas para recuperar esses valores e trazê-los a uma gestão transparen­te. É inaceitáve­l a versão de que não se pode fazer nada perante os contratos assinados”, afirmou. A segunda, formalizad­a em Março deste ano, diz respeito à dívida pública, cujo volume, segundo a UNITA, “pode já ultrapassa­r os 50.000 milhões de dólares” (42,7 mil milhões de euros), montante “assustador”, mesmo “sabendo que boa parte dela é falsa”, indicou Adalberto da Costa Júnior. O dirigente a UNITA lembrou as declaraçõe­s da secretária de Estado do Tesouro de Angola, proferidas pouco depois de Março, em que Vera Daves assumiu que 25% da dívida pública era falsa. “Que estranho. Estas declaraçõe­s que vinculam o executivo não ajudaram a que se dê andamento à CPI”, afirmou Adalberto da Costa Júnior.

Números apontam para uma acumulação de um mínimo total de 1.600 milhões de dólares (1.400 milhões de euros) nos últimos seis meses.

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PRESIDENTE DA UNITA, ISAÍAS SAMAKUVA (DR)

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