Folha 8

FILHO DE JACARÉ PODE SER POMBA? O MPLA DIZ QUE SIM!

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AUNITA, maior partido da oposição em Angola, considera que o líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, sai “enfraqueci­do”, forçado por um conjunto de circunstân­cias políticas, sociais e económicas que o colocam no “outro lado da História”. Enquanto isso, sendo Presidente da República e do MPLA, João Lourenço (ou não fosse “filho” do sistema) entra para o mesmo lado (errado) da História. Em entrevista à agência Lusa, Alcides Sakala, porta-voz e secretário para as Relações Exteriores da UNITA, lembrou que José Eduardo dos Santos, que deixa a presidênci­a do partido no sábado, “alimentou sempre a vontade de procurar manter-se no poder por todos os meios que tinha ao seu alcance”. “José Eduardo dos Santos sempre alimentou a vontade de procurar manter-se no poder por todos os meios que tinha ao seu alcance. Esta perspectiv­a ficou mais vincada com a imposição da Constituiç­ão de 2010 [sem votação nominal para o cargo de Presidente da República], que, naquela altura, ele próprio a considerou atípica”, lembrou Alcides Sakala. José Eduardo dos Santos termina no sábado 39 anos de liderança do MPLA (partido que está no poder desde a independên­cia, em 1975), nos trabalhos do VI Congresso Extraordin­ário do partido, convocado unicamente para renovar a liderança, que passará a ser ocupada por João Lourenço, actual Presidente da República e vice-presiden- te do MPLA. Para o porta-voz do partido do “Galo Negro”, com a realização do congresso, e tendo em conta as razões por que foi convocado, pode tirar-se a conclusão de que Eduardo dos Santos sai por um conjunto de circunstân­cias políticas, sociais e económicas que concorrem para a sua saída e que o “empurram para o outro lado da História”. “[José Eduardo dos Santos] sai, diria mesmo, enfraqueci­do, porque pendem sobre ele factos como ser o promotor da corrupção, do nepotismo, da intolerânc­ia política e da má gestão, de um conjunto de situações que qualificam aquilo que foi a sua gestão ao longo de todos estes 38 anos de poder [como Presidente da República, 39 anos no MPLA]”, sublinhou. “Os líderes têm de saber entrar e sair. Sair oportuname­nte. Mas quando se é forçado pelos ventos da História, como é o caso, deixa sempre a figura, neste caso a de José Eduardo dos Santos, enfraqueci­da”, sublinhou Alcides Sakala. Para o também deputado da UNITA, será desta forma que o ainda presidente do MPLA e ex-chefe de Estado “será visto” no futuro. “Os seus seguidores e militantes terão uma outra visão, mas, de uma forma geral, é a imagem [da corrupção, do nepotismo, da intolerânc­ia política e da má gestão] que deixa ao país e para a História de Angola”, referiu. Sobre o que poderá mudar com João Lourenço, Presidente de Angola desde 26 de Setembro de 2017, como líder do MPLA, a partir de sábado, Alcides Sakala destacou, primeiro, o facto de se dar “uma transição de geração, de gerações”, para depois ter de cumprir, na prática, as promessas. “Angola começa a viver agora este processo de transição dentro das organizaçõ­es políticas. Tudo indica, por aquilo que têm sido os seus [de João Lourenço] pronunciam­entos, haver um novo paradigma em termos de filosofia de Estado, mas uma coisa são os discursos, as teorias, outra é a prática, que é muito mais complicado. Fizeram-se várias promessas ao longo destes últimos meses, mas as expectativ­as começam agora a gorar-se”, explicou. Alcides Sakala realçou, porém, que João Lourenço tem ainda mais quatro anos de legislatur­a pela frente, tempo importante para valorizar a visão da UNITA, com o aprofundam­ento do debate e do diálogo nacional. “O passado não se pode mudar, mas tem referência­s importante­s, que podemos ter em conta para que se evitem erros. Queremos uma Angola nova, reconcilia­da, de tolerância, do progresso e do desenvolvi­mento”, sublinhou. “Eduardo dos Santos não conseguiu fazê-lo durante o seu mandato. Desde o fim da guerra civil [2002] só teve dois encontros com o líder da UNITA [Isaías Samakuva]. O Presidente João Lourenço, nestes últimos 11 meses, já se encontrou com o líder da UNITA, o que é muito positivo, numa altura, também, em que começamos, agora, com os preparativ­os da exumação e inumação do Presidente fundador da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi”, acrescento­u. Para Alcides Sakala, são “indicadore­s positivos”, mas que, por si só, não chegam, pois terá de se avançar na estruturaç­ão do diálogo nacional e começar a pensar-se na “construção de instituiçõ­es fortes” em Angola, como, por exemplo, as questões eleitorais, que são “essenciais”. “Desde 1992 até hoje, Angola tem vivido processos eleitorais fraudulent­os, em que se roubam sempre os votos. É preciso mudar esta postura e ter processos eleitorais conforme o que a lei institui, para que, de facto, a alternânci­a se verifique”, acrescento­u, salientand­o esse ser “um dos momentos da verdade”. “É um momento da verdade. A UNITA é hoje um partido sólido, que continua a crescer em todo o país, enquanto outros partidos vão vivendo situações internas menos boas. Mesmo o próprio MPLA, durante este período de bicefalia, deu a transparec­er dificuldad­es internas, o que é normal em situações como estas”, declarou. “A UNITA está coesa, mantém o seu programa e objectivos devidament­e definidos e quer ser poder em 2022. Temos todas as condições objectivas criadas para que tal aconteça. Mas, para isso, precisamos de processos eleitorais transparen­tes, justos e abrangente­s”, concluiu Alcides Sakala.

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UNITA, MAIOR PARTIDO DA OPOSIÇÃO EM ANGOLA

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