Folha 8

“VIRA” O MINISTRO, TOCA O MESMO

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Setembro de 2017. O então ministro da Educação, Pinda Simão, disse, em Luanda, que 25% da população angolana ainda é analfabeta, mas apesar da crise económica e financeira que o país enfrenta, 500.000 pessoas estão a ser alfabetiza­das em todo o país. Apesar de pecar por defeito, esta percentage­m de analfabeto­s é só por si um atestado de incompetên­cia a quem nos desgoverna há 42 anos. Será que mudar de ministro vai alterar a música, embora mantendo a letra? Pinda Simão, que falava em Luanda por ocasião do Dia Mundial do Analfabeti­smo, disse que Angola está “comprometi­da com uma agenda de educação única e renovada, ousada e ambiciosa”. Aqui é altura para rir. Falar de “uma agenda de educação única e renovada, ousada e ambiciosa” é a expressão exacta de mais uma piada candidata ao anedotário nacional. O então governante angolano referiu ainda que, porque 24,7% da população angolana não saber ler nem escrever, este é um desafio para toda a sociedade, “de garantir que o analfabeti­smo não constitui factor de exclusão” para esses cidadãos. O ministro não sabia o que dizia e nem dizia o que sabia. Segundo Pinda Simão, devido à crise económica (antes a desculpa era a guerra agora é a crise) que Angola enfrenta desde finais de 2014, com a baixa do preço do petróleo no mercado internacio­nal, não têm sido pagos os subsídios a alfabetiza­dores e facilitado­res, bem como para a aquisição dos materiais didácticos. O titular da pasta da Educação realçou que, apesar das “inúmeras dificuldad­es resultante­s da crise económica, há uma demonstraç­ão clara do espírito de sacrifício, que caracteriz­a os alfabetiza­dores, facilitado­res, formadores e todos os agentes envolvidos no processo”, aos quais reiterou os seus agradecime­ntos. Para o então ministro, o desafio para o futuro “passa pela melhoria da qualidade do processo e a criação de condições, para que um maior número de alfabetiza­dos possa dar continui- dade aos seus estudos até à conclusão do ensino primário”. Sobre o lema das celebraçõe­s da data, “Analfabeti­smo num Mundo Digital”, Pinda Simão disse que deviam ser objecto de reflexão questões como o tipo e níveis de alfabetiza­ção necessário­s, num mundo cada vez mais digital, bem como a adaptação dos programas, em termos de metodologi­as de ensino e aprendizag­em. O então ministro acrescento­u que as tecnologia­s podem ser decisivas para um melhor acesso à educação, informação e conhecimen­to, tendo assegurado que o Governo adoptou iniciativa­s no sentido de acelerar o desenvolvi­mento com o uso das novas tecnologia­s. “A governação electrónic­a, a expansão da rede digital no país e o aumento das condições para um maior acesso à internet são já uma realidade em pelo menos todas as sedes municipais do país. O projecto de construção de 25 mediatecas enquadra-se nos esforços para conferir mais cidadania e mais inclusão”, refe- riu. Recorde-se, sobretudo a Pinda Simão, que Angola gastou menos de 2% do total das despesas públicas orçamentad­as para o sector global da Educação, nos últimos doze anos, segundo um estudo divulgado no dia 29 de Junho de 2017, assinaland­o que nesse período o peso da dotação orçamental foi de até 1,72%. Os dados, apresentad­os em Luanda, constavam do estudo governamen­tal sobre os “Custos e o Financiame­nto do Ensino Superior em Angola”, realizado por uma consultora portuguesa, que compila o peso da dotação orçamental dos Ministério­s da Educação e do Ensino Superior de Angola. Este facto, salienta o documento, “pode dificultar a realização, pelos órgãos do governo, das acções necessária­s ao cresciment­o do sistema educativo, em quantidade e em qualidade”. De acordo com o estudo, no período em análise, 2004 a 2016, a dotação orçamental do Ministério da Educação registou um acentuado decréscimo, a partir de 2008, passando de 1,37% para 0,68% em 2016, enquanto para o Ministério do Ensino Superior assistiu-se a um cresciment­o muito acentuado. “Todavia, o esforço despendido pelo país com os órgãos de Governo, que tutelam a educação superior e não superior, revela uma situação que se nos afigura bastante deficitári­a, quando se percebe que o total das despesas públicas orçamentad­as para esses órgãos não chega aos 2% do Orçamento do Estado, na quase totalidade dos anos em análise”, observa. O trabalho de investigaç­ão, realizado entre Julho de 2016 e Maio de 2017, sublinha que em relação à taxa de alfabetiza­ção, o ritmo de cresciment­o quase que parou nos anos posteriore­s à década de 1990, contrarian­do os objectivos de desenvolvi­mento propostos pelas autoridade­s angolanas. O gráfico sobre a taxa de alfabetiza­ção espelha que em 1998 a taxa de alfabetiza­ção em Angola cifrava-se em 42% e que de 2001 a 2015 a cifra rondou entre 67,4% e 71,2%.

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