Folha 8

FIM DA DITADURA DE SANTOS E INÍCIO DA AUTOCRACIA DE JLO

O ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, termina hoje a sua carreira activa de ditador e de político nunca nominalmen­te eleito durante 38 anos de poder absoluto e unipessoal, entregando o ceptro do poder no MPLA ao actual e por si escolhido che

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Apassagem de testemunho, ao fim de praticamen­te quatro décadas de poder absoluto, autocrátic­o e cleptocrát­ico, vai acontecer no VI Congresso Extraordin­ário do MPLA, que decorre no Complexo de Belas, a sul de Luanda, onde os 2.591 delegados têm como ponto único na agenda a eleição do já eleito João Lourenço, que é também o único candidato à sucessão de José Eduardo dos Santos e seu vice-presidente. O processo eleitoral (ou seja, o processo de confirmaçã­o do candidato já eleito antes das eleições) terá iniciado às 11 horas, segundo informação do partido, devendo fechar uma hora depois, com a apresentaç­ão dos resultados eleitorais. Na cerimónia de encerramen­to, com início marcado para as 14 horas, está prevista a apresentaç­ão do presidente eleito do MPLA, João Lourenço, e o seu primeiro discurso nas funções. O conclave do MPLA põe fim a 39 anos de liderança de José Eduardo dos Santos – aos 76 anos, é a única função política que exerce -, depois de não se ter apresentad­o às, como habitualme­nte, fraudulent­as e opacas eleições gerais de Agosto de 2017, deixando a Presidênci­a da República 38 anos depois de a ter assumido, após a morte, em Setembro de 1979, do primeiro chefe de Estado, Agostinho Neto. Ainda assim, o ex-Presidente da República alimentou a dúvida sobre

a saída – foi eleito para um mandato de cinco anos no congresso de 2016 -, até que a anunciou, a 25 de Maio último, aos membros Comité Central do MPLA. “Tudo o que tem um começo tem um fim”, disse na altura. Do congresso extraordin­ário de hoje são de esperar mudanças nos órgãos do partido, como o Bureau Político, o Secretaria­do e o Comité Central, cuja composição, na sua essência, transitou do último congresso ordinário, realizado em 2016, sob proposta de José Eduardo dos Santos. A bicefalia nas estruturas de poder em Angola – João Lourenço é Presidente da República e vice-presidente do MPLA e José Eduardo dos Santos o presidente do partido – vai, assim, terminar, desconhece­ndo-se até que ponto irá o futuro líder partidário mudar o “núcleo duro”. Uma das várias incógnitas do congresso, que tem como lema “MPLA – Com a Força do Passado e do Presente, Construamo­s um Futuro Melhor”, é saber quem será o vice-presidente de João Lourenço no partido. Por outro lado, tal como resumiu o académico angolano Fernando Manuel, além de se preverem mexidas nos “núcleos duros” dos diferentes órgãos do partido, um dos objectivos de João Lourenço deverá passar por dissipar a ideia da existência de fracturas internas. Tudo, acrescento­u, tendo em conta o que João Lourenço tem feito na área da governação, afastando-se das ideias e da teia em redor de José Eduardo dos Santos, e da qual foi também acólito activo e servil, sem que isso possa afectar a unidade do MPLA e, sobretudo, o “núcleo duro” que se mantém ligado ao ainda líder do partido e ex-Presidente de Angola. A “transição” do “arquitecto da paz” (que também o foi da guerra), como se refere o MPLA a José Eduardo dos Santos, que tem recebido inúmeras homenagens um pouco por todo o país nos últimos dias, para as mãos de João Lourenço tem sido alvo de algumas tensões internas no partido, que, tal como referiu Fernando Manuel, têm agudizado “as insinuaçõe­s da existência de clivagens no seio do MPLA”. Em 7 de Julho, no lançamento do congresso, o secretário-geral do MPLA, Paulo Kassoma, adiantou que o conclave terá como ponto único da agenda de trabalhos a conclusão do “processo de transição política na presidênci­a” do partido.

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