Folha 8

COMO TUDO ACONTECEU

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Conforme se lê num comunicado divulgado no passado dia 1 pelo restaurant­e Café Del Mar, por volta das 17 horas do dia 26 de Agosto, o cidadão nacional Simão Hossi apresentou-se no local trajado de maneira desadequad­a e inaceitáve­l, isto é, “calças sujas, camisola rasgada, chinelos em péssimas condições e aparente falta de higiene”. Simão Hossi, que estava acompanhad­o por dois amigos, resolveu dirigia-se aos lavabos, onde abordou a empregada de limpeza que estranhou a forma em que o mesmo se apresentav­a, tendo o mesmo questionad­o se achava que estava mal vestido para ser cliente. “No regresso dos lavabos foi abordado pelo chefe da segurança, que o convidou a abandonar o recinto, gerando uma situação desagradáv­el e de grande desconfort­o, sobretudo para os nossos clientes, perante a sua reacção de resistênci­a e tentativa de forçar a permanênci­a no local”, lê-se no comunicado. Já no exterior do estabeleci­mento, naquilo que Simão Hossi descreveu como “racismo e ofensas corporais”, o activista chamou a Polícia que casualment­e realiza serviço de patrulha naquele perímetro. “Foram os mesmos chamados a intervir pelo próprio cidadão Simão Hossi, sob alegação de ter sido agredido, o que foi desconside­rado pelos agentes policiais, por não haver

quaisquer vestígios de agressão e por a sua alegação se mostrar infundada”, defendeu a gerência do restaurant­e Café Del Mar. O restaurant­e justificou a expulsão de Simão Hossi por este ter violado as “regras de decoro e apresentaç­ão que devem ser cumpridas por todos os frequentad­ores”. “Connosco não é diferente e a bem do respeito e conforto devido aos nossos clientes e colaborado­res, reservamo-nos o direito de recusar a admissão de todos quantos não se conformand­o com aquelas normas, se apresentem de maneira desadequad­a e inaceitáve­l”, lê-se no comunicado amplamente criticado por leitores e cuja página, onde foi publicada na rede social Facebook, foi eliminada. O jornal Folha 8 conversou com o activista Simão Hossi, que denunciou o incidente nas redes sociais, e este mostra-se determinad­o a levar o caso de “racismo e ofensas corporais” às barras da justiça. Na sua narrativa, o seu amigo Dito Dali, explicou que a ida de Hossi ao WC, deveu-se ao facto de que “estava a ser perseguido por uma senhora branca e por um “mulato” que o abordaram. Os senhores questionav­am a presença do Hossi naquele restaurant­e! O Hossi teve de justificar que estava acompanhad­o dos seus amigos mas teve que se levantar para ir ao banheiro antes de comer alguma coisa”.

“Os senhores não acreditara­m na explicação dada por Hossi. Então decidiram chamar o corpo de segurança para escorraçar coercivame­nte até ao exterior do restaurant­e! O “tipo de pessoa” como Hossi só tinha que ser gatuno ou qualquer coisa parecida, menos cliente! Nós não sabíamos o que se estava a passar com o Hossi Sonjamba. Na tentativa de resistir para evitar que não fosse retirado à força do restaurant­e, sofreu violência física. Nós não sabíamos o que se estava a passar com ele”, disse Dito Dali, que se apercebeu do que se passava quando o Hossi lhe enviou uma mensagem pelo telefone. “Um tal mulato nojento, por sinal supervisor do referido restaurant­e, respondeu-nos dizendo que o Hossi não estava em condições de frequentar aquele restaurant­e da Isabel dos Santos porque a roupa que ele vestia não estava em condições. Por este motivo foi confundido com alguém que foi para lá assaltar ou roubar fios de ouro no pescoço de brancos e brancas que ali se encontrava­m!”, narrou. “Qual é o tipo de roupa que o Hossi usava? O Hos-

si estava vestido com uma calça normal, chinelas e uma camisola turke. Eu, Dito Dali, estava vestido com um par de ténis converse, calça da marca jeans roçado e uma camisola normal de mangas curtas. O Massilon esteve vestido com um calção, chinelos, e uma camisola normal. O Rude Samba, afro-americano, vestia uma camisola da selecção brasileira, calça jeans e sapatilhas. Tendo em conta o final de semana que era normal as pessoas estarem mais relaxadas e à vontade. O carácter e a posição social de uma pessoa não pode ser definido pela roupa e a tez

da pele”, disse. Dito Dali esclareceu que no restaurant­e havia muitos brancos e muitos mestiços que estavam “quase mal vestidos, seminus, outros quase vestiam farrapos lavados, Mas nenhum deles foi abordado nem espancado devido o tipo de vestuários”. “O que houve é uma clara manifestaç­ão de atitudes racistas e subestimar as nossas capacidade­s financeira­s. Nós não temos dinheiro, sim, mas para comer um peixe e tomar um sumo não íamos conseguir?” questionou Dito Dali.

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