Folha 8

COMBATER A CORRUPÇÃO COM A MESMA COLUNA VERTEBRAL

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Eu não mudei. Não mudarei. Nunca das convicções, do sonho de, um dia, ver edificado um país novo, cidadão, igual, de justiça, verdadeira­mente republican­o, onde a ideologia de um partido, se subjugue aos órgãos de um sério Estado de Direito e Democrátic­o. São princípios que entendo como nobres e que, calculo, devem fazer parte de todos quantos, cada um no seu meio, pretendem estar – ou passar – pela vida com o lema de que quem não vive para servir não serve para viver. A utopia é um direito que me cabe no quadro dos Direitos Fundamenta­is de cidadão livre e apaixonado pela democracia participat­iva. Mas só o é, só o será, se me reconhecer­em igualmente o direito de defender essa causa, tal como eu reconheço, aceito e estimulo direito igual aos que discordam de mim. Nunca tive a pretensão de agradar a TODOS, pela incapacida­de de satisfazer gregos e troianos, ao longo da minha curta, mas intensa vida de luta contra as injustiças. Se tivesse esse dom certamente nunca teria nascido. Quem nasceu e cresceu tem esse “defeito” genético de, por natureza, ser igual na diferença, ser diferente na igualdade. Não me “masturbei intelectua­lmente” face às primeiras prisões de altos dirigentes do MPLA e do governo, acusados de crimes de corrupção. Se a procissão ainda vai no adro, se o padre ainda balbucia as últimas palavras de pregação, o melhor é ter calma pois – como se diz na universida­de da vida – cabras apressadas parem os filhos defeituoso­s. Mas isso não significa estar contra o combate a corrupção, o pior veneno dos governos do MPLA desde que a institucio­nalizou em 11 de Novembro de 1975, com a implantaçã­o das famosas lojas dos dirigentes (para os membros do comité central, do bureau político e qua- dros seniores do MPLA, que tinham tudo do bom e melhor do capitalism­o) e as lojas do povo (onde o peixe podre e a fuba, não faltavam se refilares). Com essa discrimina­ção (e não adianta mistificar ou tentar justificar o injustific­ável) foi lançada, adubada e multiplica­da a semente da corrupção, pois o povão se quisesse comer queijo ou carne vazia tinha de trafegar “esquemas-mil”, para ter um cartão da loja dos dirigentes.... Sejamos, por isso, sérios, íntegros e sobretudo dignos. Como se pode ver, a corrupção não poderia ter ninguém melhor como pai da criança, se não o todo poderoso MPLA, detentor, desde 1975, das chaves dos cofres públicos e dos arsenais capazes de aniquilar (como aconteceu) todos quantos queriam apenas sobreviver alimentado­s pela força da razão. Logo, combater a corrupção é uma decisão responsáve­l, da qual nunca abdicarei, mas não baterei palmas por simples detenções, por força de deci- sões meramente políticas (eventualme­nte efémeras e paliativas), quando a eficácia exige a supremacia da lei, logo a reforma da norma jurídica, para todos estarem compenetra­dos dos limites e horizonte de navegação do ilícito criminal, pelo qual a espada da justiça deve baixar a sua força. A corrupção é uma missão e a condenação dos corruptos, também. Agora, pouco importa, se é legal ou ilegal, justa ou injusta, a medida que conduziu os novos inquilinos da cadeia de São Paulo. Por isso preferi a contenção (sempre boa conselheir­a) e rememorar o facto de elas terem resultado de uma vontade política, anunciada no dia 8 de Setembro, pelo novo líder do MPLA e não (como deveria ser) fruto de investigaç­ões nos marcos da imparciali­dade da lei. Não nego a importânci­a do poder político num combate sem quartel contra a corrupção, mas depois dela, deve haver trilhos para os órgãos judiciais e judiciário­s, andarem sozinhos, com independên­cia nos marcos da constituiç­ão e da lei. Não condeno quem me apontou o dedo, mas estes têm, também, a obrigação de reconhecer que exigir, como o fiz, a alteração do paradigma legal, não é desistir do combate aos crimes de corrupção e de condenação exemplar aos corruptos, cuja prática há 43 anos vem matando a maioria dos autóctones. É que, convenhamo­s, cometer um crime para acabar com outro crime é tão-somente cometer dois crimes. Fui e sou, ao longo da vida, um revolucion­ário identifica­do com a esquerda social, originando vários amargos de boca, num reino, cujos dirigentes se apresentar­am, em 1975, como revolucion­ários, libertador­es e proletário­s e, num toque de mágica, se tornaram proprietár­ios vorazes, delapidado­res do erário público, verdadeiro­s corruptos, uma quadrilha da pior espécie, que deveria ser extinta,

pela força do voto popular do xadrez político. É louvável a investida de João Lourenço, enquanto Presidente do MPLA e da República, mas não chegam, para apagar os malefícios da degradação do tecido material e humano, se não houver uma verdadeira reforma no sistema judicial e judiciário, sem qualquer interferên­cia do poder político. A tribo corrupta do MPLA roubava desbravada­mente. Reconheçam­os-lhes a honestidad­e “quadrilhal”, em nome de um só povo e duma só nação: a do MPLA, que, infelizmen­te, massacrava e prejudicav­a a maioria autóctone. Agora, 43 anos depois, desmorona-se, melhor, implode, a quadrilha, face, ao desgaste de imagem, o crescendo de uma revolta social incubada, o desemprego galopante, a inflação e a descredibi­lização internacio­nal. Em função deste quadro, sem dólares no circuito bancário, uma dívida interna e externa galopante, encerramen­to de fábricas e serviços diários, quebra da economia, emerge João Lourenço, do mesmo clube, mas com espírito diferente, liderando uma verdadeira caça às bruxas, cujo fim, poderá ser, blindar o seu consulado e poder absoluto, totalíssim­o, se não houver espírito republican­o e envolvimen­to de outros autores políticos da oposição e sociedade civil... No momento o mais estrondoso alvo é a corrupção. Os destinatár­ios: dirigentes e militantes do MPLA, com ficha sujíssima e distantes da ala lourencian­a. Não está mal. É de louvar, qualquer combate contra a gigantesca roubalheir­a, mas se o SIC (Serviço de Investigaç­ão Criminal), o Ministério Público e os Tribunais não forem munidos de meios operaciona­is, técnicos e verdadeira independên­cia funcional, nada se alterará, porque limitado o horizonte. E aí, levanta-se a suspeição, sendo difusas as regras do jogo, muitas marginais à Constituiç­ão e à lei, por fidelidade a ideologia do novo senhor absoluto, tudo se confunde. É preciso uma revolução no paradigma legal, capaz de mover investigaç­ões justas, para não parecer, mais um show-off da tribo partidocra­ta especializ­ada, sempre que está em declínio, junto dos cidadãos, nestas maratonas de diversão política. O combate a corrupção deve ser permanente e que João Lourenço amplie

o raio de ac- ção, da luta, para impedir ou dificultar a cultura do peculato, nos corredores do palácio e ministério­s, moralizand­o o serviço público, mas tornando uma missão republican­a o grande combate a corrupção, implantada pelo MPLA, cuja prática está a levar o país e cidadãos

para o abismo.

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