PRENDER PODEROSOS É DO QUE O POVO GOSTA.
Ao fim de 43 anos de autocracia e de 38 de cleptocracia, o Povo festeja o fim da mordaça e a punição de alguns, nada preocupado com a justeza, legalidade ou sensatez da decisão. A satisfação é tal que nem se lembra que tem a barriga vazia, que tem falta de água potável, de energia eléctrica, de saneamento básico, de assistência médica e medicamentosa, de escolas, de alimentação, de salários compatíveis. José Filomeno dos Santos, Jean-claude Bastos de Morais, Valter Filipe, Augusto da Silva Tomás foram presos. Bravo. João Lourenço é o maior. Kopelipa, Matross, Higino Carneiro podem ser os próximos. Bravo. Isabel dos Santos também? Então aí será a farra completa. Mesmo detidos gozam de presunção de inocência até a sentença transitar em julgado. Isso pouco importa. O orgasmo popular, como muito bem sabe João Lourenço, passa apenas e só por ver esta gente (com a qual o pró- prio João Lourenço esteve solidário durante décadas) no chilindró. Em termos académicos, a decisão está correcta. Em termos políticos, talvez esteja. Em termos formais de uma democracia e de um Estado de Direito esteve (poderá ter estado) errada. Sendo discutível o momento e o escalonamento das priori- dades do país, o busílis da questão prende-se única e simplesmente, o que não é de todo despiciendo, com a clara sensação (nacional e internacional) de que o Poder Judicial continua sob as ordens do Presidente da República, não havendo de facto (há apenas de jure) separação de poderes. Politicamente João Lourenço mostra força e capacidade de, em legitima defesa e mesmo sem essa razão, avançar com toda a força para aniquilar qualquer bolsa de resistência no seio da sua família partidária, o MPLA, solidificando e ampliando os apoios internos de um Povo demasiado farto, e garantindo a solidariedade também material de algumas potências internacionais para quem, na casa dos outros, os fins justificam o uso de todos os meios possíveis e imaginários.
A satisfação é tal que nem se lembra que tem a barriga vazia, que tem falta de água potável, de energia eléctrica, de saneamento básico, de assistência médica e medicamentosa, de escolas, de alimentação, de salários compatíveis