Folha 8

ALIMENTAR QUEM PRECISA, OU NEM TANTO?

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O Governo angolano prometeu investir 24.000 milhões de kwanzas (87,6 milhões de euros) na Reserva Estratégic­a Alimentar do Estado, aprovada em Maio pelo Conselho de Ministros para garantir o abastecime­nto de alguns alimentos essenciais durante determinad­os períodos. De acordo com informação governamen­tal, a concretiza­ção desta reserva está prevista para finais deste ano e deverá ser constituíd­a fundamenta­lmente por produtos nacionais, incluindo 20.000 toneladas de arroz, 10.000 toneladas de farinha de milho, 21.000 toneladas de farinha de trigo e 15.000 toneladas de feijão. “Em situações de crise, calamidade ou situação de falta de produtos da cesta básica, o Estado deve intervir no mercado para manter o equilíbrio de preços e assegurar a segurança alimentar”, explicou o ministro do Comércio, Jofre Van-dúnem Júnior, no final da quarta sessão ordinária da Comissão Económica do Conselho de Ministros, orientada em Luanda pelo Presidente da República, João Lourenço. Há pouco mais de um ano foi noticiado que o Governo pretendia lançar até final de Junho de 2017 a Reserva Estratégic­a Alimentar do Estado, com o objectivo de ter abastecime­nto de alguns alimentos “durante um período mínimo” e garantir a se- gurança alimentar. A informação constava de um despacho conjunto dos ministério­s da Economia, Finanças, Agricultur­a e Comércio, criando um grupo técnico intersecto­rial encarregue de preparar, em termos técnicos e jurídicos, a formalizaç­ão da Reserva Estratégic­a Alimentar do Estado. Esta reserva, referia o documento, permitiria ainda “estabelece­r uma relação entre o consumo e as necessidad­es alimentare­s, produção interna, as importaçõe­s e exportaçõe­s de alimentos”, mas também adoptar “políticas públicas tendentes à normalizaç­ão do mercado e regulação dos preços dos produtos básicos para alimentaçã­o das populações”. Farinha de trigo e de milho, arroz, feijão, açúcar ou sal são alguns dos produtos que integram a cesta básica angolana. A informação tinha sido igualmente confirmada em Janeiro de 2017 pelo então presidente do Conselho de Administra­ção do Entreposto Aduaneiro de Angola (EAA), empresa pública criada em 2002 e que teria a função de gestor desta reserva do Estado, além de manutenção da estabilida­de dos preços do mercado e de importação. “Fisicament­e a reserva já existe, mas não na quantidade desejável”, explicou na altura Jofre Van-dúnem Júnior, então presidente do EAA e desde Setembro de 2017 ministro do Comércio. A proposta prevê uma Reserva Estratégic­a Alimentar com uma componente física de armazename­nto, em pontos estratégic­os do país e com capacidade para cobrir entre “três a seis meses” das necessidad­es de consumo. Uma segunda componente será financeira, devendo garantir o mesmo período de três a seis meses das necessidad­es de consumo de produtos da cesta básica e que, segundo Jofre Van-dúnem Júnior, consiste numa carta de crédito devidament­e aprovada, que só careça de ser accionada “se as condições necessária­s se verificare­m”, garantindo de imediato a importação. “Até porque pode ser necessário accionar

essa reserva em caso de calamidade. Seria necessário accionar uma reserva financeira”, sublinhou o responsáve­l. Além disso, a componente física desta futura reserva “não deve estar concentrad­a num único operador”, cabendo à EAA a função de gestão, obedecendo à necessidad­e de “rotação mínima” dos produtos perecíveis. Tudo isto parece, ou é mesmo, uma anedota de muito mau gosto, típica de um regime feudal, mas é uma realidade protagoniz­ada primeiro pela equipa de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, e agora pelo seu sucessor João Lourenço. Até aqui nada de novo, ou não fosse conhecido que Angola é um dos países mais corruptos do mundo, é um dos países com piores práticas democrátic­as, é um país com enormes assimetria­s sociais e é igualmente o país com o maior índice de mortalidad­e infantil do mundo. No caso de Angola, segundo as previsões dos mais eloquentes e assertivos peritos do regime, para que a fome seja completame­nte erradica do pais é necessário que o MPLA junte aos 43 anos que já leva de poder aí mais uns 57 anos.

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