Folha 8

GOVERNO APOIA A REPRESSÃO

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APolícia que, como na “gerência” de José Eduardo dos Santos, voltou a deixar de ser de Angola para ser do MPLA, reprimiu no dia 18.10.18 a manifestaç­ão de ex-trabalhado­res da extinta Brigada Especial de Limpeza (BEL), afecta à Casa de Segurança do Presidente da República, que tencionava chegar ao Palácio Presidenci­al para “exigir o pagamento completo” das indemnizaç­ões. Continuamo­s com a democracia coxa de… pai e mãe. Terá José Eduardo dos Santos regressado ao trono? Pela acção da polícia parece que… sim! Concentrad­os nas imediações do Centro de Imprensa Aníbal de Melo (CIAM), no centro de Luanda, os mais de 200 manifestan­tes, em representa­ção dos 1.841 trabalhado­res da BEL, com palavras de ordem como “Queremos o Nosso Dinheiro”, percorrera­m inicialmen­te parte da extensão da rua Rainha N´jinga. À entrada da avenida do 1.º Congresso, ainda no centro de Luanda, os manifestan­tes da BEL, entidade criada em 2002 pelo então Presidente José Eduardo dos Santos, foram confrontad­os por efectivos da Polícia Nacional do MPLA e, entre “ameaças e ânimos alterados”, conseguira­m transpor a barreira. A segunda barreira policial, a escassos metros da rua de acesso ao Palácio Presidenci­al, já não conseguira­m transpor. No local, efectivos da Polícia de Ordem Pública foram reforçados pela Polícia de Intervençã­o Rápida e, no meio de um grande cordão policial, ocuparam as duas faixas de rodagem da avenida, não permitindo aos manifestan­tes materializ­ar os seus propósitos. “Casa Militar, queremos o nosso dinheiro. Depositem o mesmo na conta do tribunal antes do dia 30 deste mês. Oito anos é muito. Estamos cansados de promessas. Pedimos encarecida­mente a sua excelência, o Presidente da República, para pôr fim à situação”, lia-se num cartaz gigante empunhado pelos manifestan­tes. Trata-se da segunda vez que, este ano, os trabalhado­res da BEL são impedidos pela Polícia de se manifestar­em, depois de terem tentado protestar, pelas mesmas razões, a 9 de Julho último, em que exigiram o pagamento das indemnizaç­ões até 30 do mesmo mês, na sequência de uma decisão nesse sentido tomada pelo Tribunal Provincial de Luanda, em 2010. Apesar de terem comunicado a manifestaç­ão, através de um documento que deu entrada a 10 deste mês no Governo da Província de Luanda, os antigos trabalhado­res da BEL manifestar­am-se indignados com o aparato policial que interditou a via em mais de meia hora. Os trabalhado­res dizem que a Casa de Segurança deveria disponibil­izar indemnizaç­ões de 8.296 milhões de kwanzas (23,7 milhões euros), mas um novo mapa apresentad­o pela entidade patronal prevê apenas o pagamento de 312 milhões de kwanzas (890 mil euros) para todo o pessoal. O Largo do Monumento do Soldado de Desconheci­do foi o local onde a Polícia, já com o auxílio da polícia canina, concentrou os manifestan­tes, perante o “descontent­amento” de Xavier Joaquim Neto, 63 anos, que disse estar nesta condição há oito anos. “A nossa marcha foi impedida por falta de consenso porque, ‘como o jindungo só dói no olho do outro e a nós não’, esta é a razão por que já clamamos por esta indemnizaç­ão há bastante tempo. Não percebemos esses impediment­os e estamos sem receber o nosso dinheiro até à presente data”, disse. Manuel Bapolo Saprinho, da comissão organizado­ra da marcha, lamentou o “silêncio das autoridade­s”, afirmando que os 1.841 trabalhado­res nesta condição pretendem falar com o Presidente João Lourenço, porque o assunto está a ser tratado “no meio de muito mentira”. “O que queremos, neste momento, é falar ou com o chefe de Estado ou com o chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, porque o pagamento que estão a dar aos colegas é uma mentira”, disse. Segundo o manifestan­te, de acordo com as contas feitas pelo tribunal, cada ex-trabalhado­r da extinta BEL da Casa de Segurança do Presidente deveria, “no mínimo, receber três milhões de kwanzas (8.570 euros). Não percebemos como nos dão apenas 100 mil kwanzas (285 euros)”. A indignação por a Polícia do MPLA ter travado a marcha foi também exterioriz­ada por César Didissa de 55 anos, referindo que, apesar do impediment­o, a mensagem foi passada às autoridade­s. “A opinião nacional e internacio­nal já sabe o que se está a passar. Neste país não há justiça. A justiça é só para a classe dominante e para os pobres ela não existe. Estamos a lutar pelo nosso direito, porque o tribunal deu-nos um parecer favorável”, realçou. Já Francisco de Castro, outro manifestan­te, recordou que o tribunal de Luanda julgou a favor dos trabalhado­res para o pagamento de um montante de mais de 8.000 milhões de kwanzas. “Colocamos o processo em tribunal e foi julgado a nosso favor. Desde então, tivemos abordagens com as autoridade­s, mas usaram a falsidade para pagar o valor a seu bel-prazer”, lamentou. A BEL, integrada por antigos militares das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) e da Unidade de Guarda Presidenci­al (UGP), foi extinta em 2010, tendo José Eduardo dos Santos tentado reactivá-la em Agosto de 2017, no mês em que se realizaram as eleições presidenci­ais que levaram João Lourenço ao poder, mas a ideia nunca chegou a avançar.

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