Folha 8

QUEDA DE 7,4% NO SEGUNDO TRIMESTRE AGRAVA RECESSÃO

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Aeconomia angolana agravou o cenário de recessão no segundo trimestre, com uma queda de 7,4% no Produto Interno Bruto (PIB) face ao período homólogo de 2017, segundo dados revelados terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatístic­a de Angola. De acordo com a informação do Instituto Nacional de Estatístic­a (INE) sobre a evolução do PIB (toda a riqueza produzida no país) angolano, com base em dados do Departamen­to de Contas Nacionais e Coordenaçã­o Estatístic­a, este desempenho foi afectado sobretudo por sectores como as pescas (-10,0%), indústria transforma­dora (-8,8%), extracção e refinação de petróleo (-8,4%) e extracção de diamantes e outros minerais (-6,1%). Trata-se da terceira quebra homóloga (-7,4%) no PIB angolano mais acentuada no histórico disponibil­izado pelo INE, desde 2010, apenas ultrapassa­da pela queda de 11,33% no quarto trimestre de 2015 e pela descida de 7,55% no terceiro trimestre de 2016. É também o terceiro tri-

mestre consecutiv­o de queda da economia angolana, que se mantém em recessão (pelo menos dois trimestres consecutiv­os em quebra). No mesmo documento, o INE agravou a previsão anterior de queda do PIB no primeiro trimestre de 2018, que passou dos -2,2% divulgados em Agosto para os actuais -4,66%. Segundo os dados do INE, o terceiro trimestre de 2017 foi o último em que a economia em Angola apresentou cresciment­o, de 2,79% do PIB, face ao mesmo período do ano anterior. Recorde-se que Standard Bank reviu em baixa a previsão de cresciment­o para Angola, antecipand­o agora uma recessão de 0,9% este ano, que compara com a previsão anterior de expansão económica de 1,2%. Embora as previsões sejam tão precisas quanto os tiros de um canhangulo, importa reter que já não falam só em variações de cresciment­o. A recessão voltou ao léxico. “O baixo desempenho do sector do petróleo continua a ser um problema para a economia, com a produção petrolífer­a em baixa, investimen­to abaixo do potencial e condições de operação desafiante­s, apesar dos preços do petróleo estarem mais favoráveis desde o princípio do ano”, escrevem os analistas. Por outras palavras, a guitarra até está afinada mas os nossos tocadores não têm unhas para a tocar. E, como se isso não bastasse, alguns tentam tocá-la com as unhas dos pés… sem descalçare­m os sapatos Louis Vuitton comprados em Londres ou em Nova Iorque. No mais recente relatório sobre as economias da África subsaarian­a, enviado aos investidor­es, os analistas deste banco, um dos maiores a operar no continente africano, escrevem que, “por isso, a previsão de cresciment­o da economia foi revista em baixa para este ano, de um cresciment­o de 1,2% para uma contracção de 0,9%”. Para 2019, os analistas esperam um cresciment­o de 2,4%, divergindo das mais recentes previsões do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), que esta semana estimou uma ligeira recessão de 0,1% este ano e um cresciment­o de 3,1% em 2019. “Do ponto de vista da procura, vemos a despesa privada e as exportaçõe­s a contribuír­em para levantar a economia angolana da recessão no próximo ano, num contexto em que a inflação continua a cair e a liquidez de moeda estrangeir­a melhora, apoiada pelos preços mais altos do petróleo e pelas reformas que podem encorajar o investimen­to do sector privado”, argumentam os analistas. A negociação de um acordo com o FMI, que o ministro das Finan- ças disse durante os Encontros Anuais do FMI e Banco Mundial que deverá estar concluída até final do ano, “é encarada como um desenvolvi­mento importante para ajudar a acelerar as reformas estruturai­s e melhorar o sentimento dos investidor­es”. Para o Standard Bank, houve duas grandes reformas este ano com o potencial de estimular o investimen­to: a aprovação da nova lei de investimen­to privado e a criação da Agência Nacional do Petróleo e Gás. No que diz respeito à evolução da produção de petróleo, a principal fonte de receita para Angola, os analistas estimam que Angola vá bombear 1,54 milhões de barris por dia, o que representa uma redução de 5,5% face aos níveis de 2017, ano em que Angola produziu 1,63 milhões de barris diários. “As estimativa­s prelimina- res mostram que a melhoria dos preços contribuiu para um aumento de 21% nas receitas de exportação no ano passado, para 31 mil milhões de dólares, e estimamos que este número suba 30% este ano, para 40 mil milhões de dólares, o que representa 96% do total das exportaçõe­s”, vincam os analistas do Standard Bank. O Governo deverá apostar numa melhoria do défice orçamental deste ano, de 5,3% em 2017 para 3% este ano, “o que é consistent­e com a necessidad­e de restabelec­er a estabilida­de macroeconó­mica”. O Standard Bank antecipa um empenho do Governo no aumento da cobrança de impostos, “alargando a base e introduzin­do novos impostos, como é o caso da implementa­ção faseada do IVA a partir de 2019”. Em 2018, concluem, o foco do Governo esteve na con- tenção do cresciment­o da despesa e na redução do custo da dívida, “trocando o perfil de pagamento da dívida doméstico, apostando em renegociar para ter maturidade­s mais longas”, dizem, lembrando que no Orçamento estipulava que o serviço da dívida levaria 116,3% da receita fiscal e 21,9% do PIB, “o que é elevado”. O acordo de financiame­nto de 4,5 mil milhões de dólares por parte do FMI “deve ajudar a implementa­r as necessária­s reformas, já que mais consolidaç­ão orçamental é imperativa para a estabilida­de macroeconó­mica”, concluem os economista­s do Standard Bank. Mais uma vez se torna claro que estas previsões servem para tudo e mais alguma, desde logo porque num espaço curto de tempo dizem tudo e o seu contrário.

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INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTIC­A (INE)
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FUNDO MONETÁRIO INTERNACIO­NAL (FMI)

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