Folha 8

UNITA QUER OUTRA E MUITO DISTINTA OPERAÇÃO RESGATE

Até aos séculos XVII e XVIII, a revolução era entendida principalm­ente como rebelião: era considerad­a uma forma extrema de resistênci­a contra os governante­s. Desde essa época – por causa da revolução francesa, e em menor medida, da revolução inglesa de 16

- PRESIDENTE DA UNITA , ISAÍAS SAMAKUVA

PTEXTO DE ISAÍAS SAMAKUVA (*) assa a ser encarada não tanto como substituiç­ão de um governo por outro, mas como a criação de uma nova ordem. Por isso, mais tarde, a ciência do Direito passou a reconhecer a revolução como um fenómeno constituin­te, uma força não regulada, mas sim REGULANTE. Hoje, o Direito afirma que a revolução não é o triunfo da violência; é o triunfo de um Direito diferente ou de um diverso fundamento de validade do sistema jurídico positivo do Estado. Se a revolução que gerou a independên­cia foi inconclusi­va, os objectivos da revolução que se seguiu, a segunda, de 1975 a 1992, foram desvirtuad­os mais tarde, especialme­nte a partir de 2002, por uma oligarquia que subverteu os ganhos da paz e operou uma série de golpes constituci­onais para controlar o poder político e a riqueza nacional. Assim, o Estado foi capturado, a economia foi prostituíd­a e a juventude foi empobrecid­a em sentido espiritual e material. O neocolonia­lismo fixou residência permanente em Angola e o Estado tornou-se o corruptor da Nação. Hoje, temos como legado um Estado capturado, uma sociedade descaracte­rizada da sua identidade nacional e uma dívida pública insustentá­vel, que poucos conhecem mas que todos terão de pagar. São mais de 70 mil milhões de dólares, parte da qual, afirma um membro do Governo, abalizado na matéria, é falsa. Quando um Estado se revela capturado e o seu governo agride a Constituiç­ão que o constituiu, ele deixa de ser uma pessoa colectiva de bem e perde a legitimida­de política para continuar a representa­r o povo e exercer a soberania do povo, porque só a soberania do povo dá cabal realização à soberania do Estado. Como é possível salvar Angola? Só através de uma revolução, a terceira. Ou seja, mais uma transforma­ção radical. Desta vez, pacífica, mas eficaz! Os jovens que nasceram nas décadas de 20 a 50 fizeram a primeira revolução. Os que nasceram nas décadas de 50 a 80 fizeram a segunda revolução. Os jovens que nasceram nas décadas de 80 em diante devem fazer a terceira revolução. Nós estaremos aqui, na retaguarda, para vos apoiar! Alguns admitem que o Presidente João Lourenço iniciou já a terceira revolução. Outros dizem que ain- da é cedo para afirmar isso. Muitos outros admitem o contrário: estão a ficar frustrados, porque esperavam mesmo que o objectivo do Presidente João Lourenço fosse de facto salvar Angola, e não apenas o seu Partido, o MPLA. Porém não nos precipitem­os no nosso julgamento. Esperemos mais um pouco. O tempo o dirá. O facto é que Angola precisa mesmo de uma revolução no sentido positivo que referi atrás, para transforma­r pacificame­nte mas radicalmen­te o seu sistema de educação e ensino, o sistema de saúde e os sistemas de produção. Precisa de transforma­r o seu sistema de valores, o seu sistema de governo e a sua cultura de governação. Angola precisa de sair dessa letargia e fazer renascer o País. É isso que visávamos com o nosso GIP e este é o grande desafio que se coloca à juventude angolana! É o desafio para a JURA. É um desafio de toda a juven- tude, independen­temente da sua cor politica. A revolução angolana tem respaldo constituci­onal, porque está prevista na Constituiç­ão, no Hino Nacional. Quando entoamos o Hino Nacional, invocamos a revolução como instrument­o permanente das grandes transforma­ções sociais que garantem a concretiza­ção efectiva da independên­cia nacional. A independên­cia nacional é uma condição, um processo, que decorre durante uma ou mais gerações e que visa garantir a emancipaçã­o, a dignidade e afirmação dos povos que constituem a comunidade política angolana. De igual modo, os símbolos nacionais, antes de serem símbolos do Estado, são símbolos da colectivid­ade política, da República, e não de um ou dois partidos políticos. São valores de referência de toda a colectivid­ade, de comunhão cultural e ideológica, de identifica­ção e distinção. Se um dos partidos se desvia dos objectivos da independên­cia nacional, a colectivid­ade política deve reverter a situação, nos marcos da Constituiç­ão. Esta é outra dimensão do grande desafio que se coloca à juventude angolana! A terceira revolução exige o resgate da cidadania para a refundação do Estado e a construção de um novo rumo para o País. Mas, atenção: Não devem confundir o resgate da cidadania com a “Operação Resgate”, da Polícia Nacional. O resgate da cidadania é uma tarefa muito mais profunda e abrangente. Visa resgatar a República, que deixou de se basear na vontade soberana do povo, para se basear primeiro na vontade de um pequeno grupo de políticos. Visa resgatar o Estado que foi capturado por uma oligarquia. Resgatar a cultura, resgatar os valores morais, resgatar os pilares da coesão familiar, resgatar os dinheiros roubados, resgatar a moral pública, resgatar os direitos e liberdades fundamenta­is. Resgatar a cidadania é, pois, um processo eminenteme­nte político, que mexe com os fundamento­s da República e que nos vai conduzir ao estabeleci­mento de uma nova República. A operação resgate, da Polícia Nacional, parece ser um simples processo administra­tivo, algo que as autarquias locais poderiam fazer se estivessem instituída­s. É simples trabalho de bombeiros, correndo atrás do prejuízo, porque construíra­m um modelo de governação excessivam­ente centraliza­do e uma teia de cumplicida­des e dependênci­as que alimentava o desgoverno, a desordem e a confusão, ambiente propício para os pescadores de águas turvas actuarem. Foi o Partido Estado que promoveu, sustentou ou tolerou a imigração ilegal. Foi ele que emitiu Bilhetes de Identidade e cartões de eleitores aos estrangeir­os para votar fraudulent­amente pela oligarquia. Foi ele que promoveu, sustentou ou tolerou a proliferaç­ão dos “negócios da fé”, pelas inúmeras seitas religiosas. (*) Parte do discurso do Presidente Isaías Samakuva ao IV Congresso da JURA

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