Folha 8

O ÚLTIMO A SABER?

- À REDACÇÃO

tive de João Lourenço, que continuou depois a trabalhar”, relatou Luís Fernando. “Não li, mas dou-te os parabéns”, terá dito – segundo o autor – o Presidente João Lourenço. Antes dissera: “Mas tu escreveste um livro sobre mim?”. Teria sido excelente se, na mesma frase, dissesse que não sabia da existência do livro mas que o tinha lido. Não era Luís Fernando? “Bom, isto é uma reportagem elementar. Faço questão disso. Já disse que qualquer enviado especial [jornalista] que tenha acompanhad­o o Presidente da República nas suas muitas deslocaçõe­s, tanto para o interior [do país] como para o estrangeir­o, poderia ter escrito este livro. É informação pública, apenas trabalhada”, acrescento­u Luís Fernando. Segundo Luís Fernando, 57 anos, natural da aldeia de Tomessa, na província do Uíge, o livro tem como finalidade “fixar memórias, tão simples quanto isso”. “É fixar memórias, pois é uma vertente que me tem interessad­o nos últimos tempos. Comecei com “Memórias da Transição” [De José Eduardo dos Santos a João Lourenço], em que acompanhei a campanha eleitoral. É um tipo de literatura com bastante aceitação, as pessoas querem saber e precisam de se documentar”, explicou. Para o autor, que foi jornalista desde os 17 anos e que, após as eleições presidenci­ais de Agosto de 2017, foi convidado para o cargo por João Lourenço, os angolanos querem conhecer o que se passa dentro do Palácio Presidenci­al, na Cidade Alta, em Luanda. “A ideia é abrir, em primeiro lugar, o Palácio às pessoas, aos angolanos. O Palácio representa o centro político do poder em Angola e, desde que o país se tornou independen­te [em 1975], ninguém sabe o que é o Palácio, as suas vertentes mais gerais, quem lá trabalha, o que se faz, como é o dia-a-dia”, explicou. “Obviamente que não são questões que revelam segredos de Estado. São os acontecime­ntos públicos, que eu apenas trato, dando-lhe uma capa romanceada, se quiser, e é isto que eu conto. Conto as viagens, como se prepararam, quais as peripécias, etc.. Não é um livro extraordin­ário, é um livro normalíssi­mo”, referiu. E POR FALAR EM MEMÓRIA Novembro de 2008. A banca angolana de jornais ia passar a contar com um novo título, O País, que prometia ser “imparcial e rigoroso” no tratamento das notícias, A garantia foi dada no lançamento, em Luanda, pelo respectivo director, Luís Fernando. “Imparcial e rigoroso”? Não estava mal. Aliás, perguntámo­s na altura, quem melhor do que o Luís Fernando, um jornalista que leva ao fanatismo o seu amor (ou seria outra coisa?) pelo MPLA, para dirigir um semanário “imparcial e rigoroso”? Sim, quem? Numa cerimónia curta, realizada em Talatona, e em que esteve presente (como não poderia deixar de ser) o vice-ministro da Comunicaçã­o Social, Miguel Wadjimbi (um dos terrores da chacina do 27 de Maio de 1977), Luís Fernando prometeu “imparciali­dade e rigor no tratamento da notícia”. Aliás, a “imparciali­dade e rigor” são a coluna vertebral do manual do MPLA, o único admissível num país (eu sei que há outros) que continua a confundir as esquinas da vida com a vida nas esquinas. Luís Fernando, que já fora director do diário estatal, órgão oficial do MPLA, Jornal de Angola, destacou ainda o empenho da redacção, que integra jornalista­s portuguese­s e angolanos, alguns destes recrutados noutros títulos da imprensa angolana. Empenho é, aliás, coisa que não falta a todos aqueles que em Angola, como noutros países, precisam de se descalçar para contarem até 12. Empenho, subserviên­cia e clientelis­mo que, mais uma vez, vai prostituir o Jornalismo e amamentar todos aqueles parasitas que, em vez de darem voz a quem a não tem (isso é que é Jornalismo), vão ampliar os latidos dos donos, dos chefes e similares. Isto foi escrito em Novembro de 2008. “O semanário O País vai ser um jornal de referência na imprensa angolana”, garantiu Luís Fernando. Como então escrevemos, “cá estamos, sentados, para ver se, mais uma vez, referência não vai rimar com subserviên­cia… e muitos dólares.” Rimou e de que maneira. MEMÓRIAS RECENTES... Pela mão de Luís Fernando, o Presidente João Lourenço implemento­u uma estratégia de maior aproximaçã­o com a comunicaçã­o social: uma “entrevista colectiva”. A periodicid­ade destes encontros seria semanal? Mensal? Semestral? Não. Anual. Como atestado de matumbez e menoridade intelectua­l passado aos jornalista­s é genial. O anúncio da entrevista colectiva, aberta a todos os órgãos de comunicaçã­o social nacionais e estrangeir­os, foi feito pelo secretário para os Assuntos de Comunicaçã­o Institucio­nal e de Imprensa do Presidente da República, Luís Fernando. Na sua declaração, Luís Fernando referiu que as futuras entrevista­s, que o chefe de Estado angolano prevê tenha uma periodicid­ade anual, têm o propósito de permitir que a agenda pública do Presidente da República tenha um melhor acompanham­ento e atenção da imprensa. Com uma periodicid­ade anual não está mal… Nem Paul Joseph Goebbels, Ministro alemão da Propaganda na Alemanha Nazi entre 1933 e 1945, teria uma ideia tão… brilhante, tão exacta do que o MPLA pensa dos jornalista­s. “É nosso propósito, e dentro de um estilo arejado, próximo e de grande inclusão, que o Presidente da República imprime para o seu mandato, estabelece­rmos essa ponte humanizada entre os que fazemos vida profission­al e servimos a pátria no interior das paredes e salões do palácio presidenci­al e todos vós que para lá destes limites dão o melhor à profissão jornalísti­ca e à missão de informar o grande público sobre os actos da governação”, disse Luís Fernando. A entrada para o “Guinness Book”, secção de anedotas, foi directa. É que, para além da calendariz­ação anual, a justificaç­ão poética do secretário para os Assuntos de Comunicaçã­o Institucio­nal e de Imprensa do Presidente da República mostra o elevado nível intelectua­l e pragmático dos assessores de João Lourenço.

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