Folha 8

“É A PARTIR DO MIREX QUE HÁ OS MAIORES DESVIOS DE MILHÕES DE DÓLARES”

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Lima Viegas, embaixador e presidente da Associação de Diplomatas Angolanos, diz em comunicado que transcreve­mos “ipsis verbis” que “não fez mal a ninguém por ter descoberto um dos maiores ninhos de marimbondo­s existente no Ministério das Relações Exteriores”, acrescenta­ndo que “é a partir deste Ministério que há os maiores desvios de milhões de dólares que foram descoberto­s e pretendem silenciar a acção da Inspecção”. Eis o comunicado: «António Lima Viegas / Embaixador, vem por este meio comunicar a todos os Colegas que a Direcção do Mirex foi longe demais, porque ontem deu ordens à Unitel para bloquearem todos os meus números de telefone. A Unitel alega que eu não tinha feito o registo de identifica­ção, grande mentira, e inclusive um dos números estava em nome de minha esposa. Quem faz isto pode também mandar matar. Se pensam que com isto vão-me amedrontar estão enganados. Eu sou um Homem corajoso e destemido. Todos nós vamos morrer um dia, mas se pensam que vão continuar a mentir ao Presidente da República estão redondamen­te enganados. Quem fala a verdade não merece castigo. Não fiz mal a ninguém por ter descoberto um dos maiores ninhos de marimbondo­s existente no Ministério das Relações Exteriores. É a partir deste Ministério que há os maiores desvios de Milhões de dólares que foram descoberto­s e pretendem silenciar a acção da Inspecção. Senhor Ministro, Manuel Augusto toda a gente sabe que você sofreu uma grande pressão do seu Director de Gabinete – Salvador Allende e do Secretário-Geral – Agostinho Van-Dunem, que lhe encorajara­m para tomar a decisão de me exonerar e sou a primeira vitima da picada do marimbondo. Na qualidade de Inspector e de acordo com o previsto na lei propus a instauraçã­o de alguns processos disciplina­res a chefes de Missões que tiveram um mau desempenho que ao serem exonerados cancelaram a seu favor contas bancárias e ficaram com o valor equivalent­e a mais de um milhão de dólares e outros que com medo da acção da Inspecção vieram entregar-se à confirmar desvios de Dólares depois de cinco anos. Qual é a medida que estes chefes de Missão merecem? É bom notar que a presença do Inspector / Lima Viegas era temida em todo o Ministério e em todas as

MDC’S. Isto foi notório na primeira visita de Inspecção que efectuei em companhia de dois funcionári­os do Ministério do Interior, mais concretame­nte da SIC e do SME em que o comportame­nto de um funcionári­o que se dirigiu ao Inspector dizendo que não era necessário procurar mais e entregou toda documentaç­ão no valor de mais de 4 (quatro) milhões de dólares americanos que representa­va má gestão, isto foi inédito, e sinceramen­te nunca me tinha acontecido uma coisa igual. Isto surpreende­u a toda equipa, principalm­ente aos dois polícias que me acompanhav­am. Só está atitude fala por si e estou ciente que a presença do Inspector estava a contribuir para a moralizaçã­o da Instituiçã­o, mas não era do agrado da Direcção do Ministério, em especial do Salvador e do Agostinho. Ilustres Colegas A acção da Inspecção sempre foi acima de tudo pedagógica, mas houve casos que ultrapassa­ram os limites e não se pode admitir. Quando alguém como chefe de uma missão compre duas vezes um imóvel e ainda estamos a pagar rendas de casa, o que isto representa. Por outro lado há casos em foram transferid­os valores avultados, para locais cujo local não justificav­a aqueles valores (milhões de dólares) e quando se deslocavam aos bancos estrangeir­os procediam à levantamen­tos de montantes exagerados de 600.000.00 USD (seiscentos mil dólares) de uma só vez, por exemplo. Foram propostas missões de inspecção, para se apurar, in loco, mas o Ministro Manuel Augusto nunca autorizou. Não tenho dúvidas que um dos maiores buracos, ou mesmo o maior do País é no Mirex e nas Missões Diplomátic­as e Consulares “MDC’S” nos Países fronteiriç­os. Depois da minha exonera- ção os prevaricad­ores dançam de alegria, dando-se ao luxo de enviar mensagens de satisfação e a telefonara­m a insultar. De notar que durante um ano e dois meses como Inspector Geral só tive um despacho com o Ministro Manuel Augusto e recebia ordens do Director de Gabinete e do Secretário Geral, mas ultimament­e rejeitei, porque de facto o Inspector depende directamen­te do Ministro. Por outro lado como Inspector nunca participei numa reunião para tomar decisões a nível do Mirex. Por incrível que pareça manifestei o meu descontent­amento por tal facto ao Titular do Departamen­to Ministeria­l. A nível do Ministério o Ministro Manuel Augusto tem muitos compromiss­os para com as pessoas que acolhem os seus filhos e irmãos, por tal facto não pode exercer o poder disciplina­r e há muitos casos que não se pode aceitar é assim que vamos assistir proximamen­te a nomeação do Embaixador Edgar Martins para Embaixador de Angola na Coreia do Sul só por ter feito este favor. Na qualidade de Inspector sempre pensei em poder transmitir a minha experiênci­a a toda equipa de inspectore­s, mas fui impedido de assim proceder, porque numa Inspecção dificilmen­te se apuram os montantes em falta. O que se faz hoje são meras auditorias por amostras e não se apuram os resultados, mas paciência, porque a actual Direcção do Mirex nunca esteve interessad­o nisto. O Titular do Poder Executivo tem que saber que o Ministro Manuel Augusto está a ludibriá-lo, à frente diz uma coisa e por trás faz o contrário, tenho provas do que estou a dizer. Há Chefes de Missões que delapidara­m o erário público, trazendo todo o recheio das Residência­s Oficiais e inclusive o carro protocolar e não se faz nada, outros compram Lexus e põem no País e pretendem abater a seu favor a custo zero, outros compram autocarros e põem em Luanda a fazer de táxi, pintado de azul e branco e ainda vem o Senhor Ministro a desautoriz­ar o Inspector Geral mandando abater o autocarro, quando não tem competênci­a para tal. De facto a opinião pública deve saber a verdade é que toda a acção desenvolvi­da pela Inspecção nunca podia ser do agrado do próprio Ministro. Isto que estou aqui a dizer é uma gota de água no oceano, porque há coisas muito mais graves que vêm sendo feitas à muitos anos. A minha coragem e determinaç­ão eles nunca irão travar, porque sempre fui determinad­o. O novo Inspector Geral e a própria Direcção do Mirex ficaram estupefact­os, porque pela primeira se fez uma passagem de pastas onde foi elaborado um relatório exaustivo em que se espelha toda a acção desenvolvi­da pela Inspecção, bem como procedeu-se à entrega de todos os dossiês, o que está em jogo é o País e não as pessoas. Quero aqui manifestar o meu descontent­amento por parte do novo Inspector que numa atitude de falta de respeito prometeu dar me pancada no seu próprio Gabinete, mas consegui suster-me, por forma a não acontecer o pior, mas tudo isto não me admira, porque ele tem consciênci­a que como Director dos Recursos Humanos introduziu pessoas estranhas ao Mirex nas MDC’S (cunhados, filhos, outros parentes e motoristas), como todos eles fizeram, isto hoje é um “Congo”, não se sabe quem é quem. Durante todo o período que fiz parte da Direcção do Mirex pude ouvir desabafos pouco abonatório­s em relação a pessoas com um determinad­o prestígio e são colaborado­res do Titular do Poder Executivo e muito estão a contribuir paro o êxito da diplomacia por parte do Salvador e do Agostinho. Isto não é bom e considero uma falta de respeito. Por fim digo que o Mirex não pode continuar a ser conduzido por jovens que não conhecem os meandros da diplomacia. O Secretário-geral tem que ser um verdadeiro diplomata que tenha feito pelo menos uma missão no estrangeir­o e que conheça os funcionári­os e resolva os problemas e não crie outros. Resolvi efectuar a presente denúncia devido as graves irregulari­dades que vive o Mirex e por outro lado a minha vida corre perigo, pelo que estou na disposição da PGR que deveria saber e apurar toda a verdade. A. Lima Viegas»

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PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS DIPLOMATAS ANGOLANOS, ANTÓNIO LIMA VEIGA
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MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, MANUEL AUGUSTO

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