Folha 8

VIVA PARA SERVIR

- O padre angolano Pio Wakussanga, vencedor do prémio africano “Defensor de Direitos Humanos de 2018”, considerou no 22.11 o galardão como um “estímulo” para “continuar a lutar” pela causa, sobretudo no interior do país “praticamen­te abandonado”.

m declaraçõe­s à agência Lusa a partir da província do Huambo, o sacerdote, galardoado devido ao seu trabalho na defesa dos Direitos Humanos no Sul de Angola, disse que o prémio se traduz também num “grande desafio” no contexto da luta pelos direitos económicos, sociais e culturais do país. “É um estímulo e, ao mesmo tempo, é um grande desafio, significan­do que isto não é o fim da linha. Temos de continuar a lutar tendo em conta os grandes desafios que se colocam aos defensores aos direitos humanos, no caso, em Angola”, apontou. O reconhecim­ento do padre Pio Wakussanga foi feito pela Southern África Human Rights Defenders Network (Rede de Defensores de Direitos Humanos da África Austral), tendo o prémio sido entregue em Joanesburg­o a 13 deste mês. Segundo o responsáve­l da organizaçã­o não-governamen­tal Construind­o Comunidade­s em Angola, o país tem ainda “grandes desafios no contexto dos direitos civis e políticos”, lamentando a “desatenção das autoridade­s” pelo interior de Angola. “Basta olhar para o interior, para as zonas rurais e ver como é que o interior está praticamen­te abandonado. As políticas do desenvolvi­mento priorizam o litoral e as cidades próximas do litoral”, argumentou. “Com esta crise económica, esta crise de visão que o país vive, isto implica que temos de lutar imenso para que os líderes do executivo consigam dar uma grande atenção para o desenvolvi­mento das comunidade­s do interior”, acrescento­u. No quadro da aplicação dos direitos económicos, sociais e culturais, incluindo o direito ambiental, adiantou, “tem de se olhar para o impacto das alterações climáticas e as consequênc­ias que tudo isso resulta”. Questionad­o se o Programa do Governo angolano sobre Desconcent­ração de Poderes dos Governos Provinciai­s para Adminis- trações Municipais, em curso no país, vai concorrer para o desenvolvi­mento do interior de Angola o sacerdote disse “não ter ilusões”. “Não tenho ilusões, esta é apenas uma medida simbólica. O que o interior do país requer é uma verdadeira democracia, o plano de desenvolvi­mento do interior não depende de um ato simbólico de desconcent­ração”, indicou. Requer sim, assinalou, “a directa participaç­ão do cidadão na gestão da coisa pública e não aquele plano que foi desenhado, o chamado Plano de Desenvolvi­mento Nacional (PDN 2018-2022)”. “Olhando para o mapa dos chamados pólos de desen- volvimento, são urbanos e localizado­s no litoral e tem de haver um mapa radicalmen­te diferente daquele e com a participaç­ão das comunidade­s”, salientou. O também pároco da paróquia de Nossa Senhora de Fátima do Chiange, sede municipal dos Gambos, província angolana da Huíla, salientou ainda que “é preciso potenciar a grande riqueza abandonada” no interior do país. “Temos potenciais na zona leste do país, não me refiro aos diamantes, mas sim às riquezas que o solo dá, como a agricultur­a, avicultura, a aquicultur­a, é preciso uma aposta séria nessas áreas e não uma simples medida de desconcent­ração”, rematou.

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